Toda vez

Bruno Barbieri
Pra ler e ouvir
Published in
2 min readMar 11, 2014

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Pra ler ouvindo: Gaslight Anthem — Great Expectations.

Aconteceu de novo. E toda vez é a mesma coisa. Não tem jeito. Não importa o que eu faça, e nem o quanto eu tente evitar. Toda vez é sempre a mesma coisa. Em poucos segundos meu coração dispara, desce correndo pra boca do estômago e fica ali batendo sem parar. A respiração falha. A voz some. A mão treme. Até os piolhos, que eu espero não ter, parecem correr aflitos pela cabeça. Tem gente que chama isso de paixão a primeira vista. Eu chamo de outra coisa.

Outra coisa, porque de primeira isso não tem nada. Eu já me apaixonei por você um milhão de vezes. E também não tem nada de vista. Porque eu não te vi. Eu não vi de longe aquele seu cabelão que eu adoro, mas que você tanto queria cortar. Não vi aquele seu sorriso gostoso que você sempre solta quando eu conto minhas piadas idiotas. E também não vi seus olhos puxados e seu nariz amassado, as únicas partes que ficavam de fora quando você fazia uma cabana com as cobertas pra fugir do frio.

Na verdade, tem muito tempo que eu não te vejo e por isso também posso dizer que nem seu cheiro doce, que você insiste em dizer que não tem, eu senti. Não. Não teve nada disso. Também não ouvi o som do seu salto-alto batendo no chão todo desengonçado enquanto você tentava deixar de ser menina. E nem do seu grito me chamando pra ver como você tinha ficado. Nada disso aconteceu e mesmo assim, eu tô aqui tremendo até agora.

Eu simplesmente ouvi um acorde. Três pra ser mais exato. Três acordes que juntos formam uma música. Uma música simples e potente que tem seu nome no refrão. A parte mais difícil de ouvir. Uma música que você nem sabe que é nossa. Que nem eu sabia que era nossa. Mas que toda vez que eu escuto. Sem nenhuma exceção. Toda vez que eu escuto, eu me apaixono por você.

Publicado na Revista Curto Circuito 8.

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