Um cara de sorte

Bruno Barbieri
Pra ler e ouvir
Published in
3 min readSep 10, 2015

--

Pra ler ouvindo: Darren Gibson — Tom and Grace.

Desde o primeiro dia em que a gente se conheceu, você sempre fez questão de dizer que era o cara mais sortudo do mundo por ter me encontrado. Dizia que tinha passado anos procurando uma menina pra namorar, se apaixonar e não conseguia. Procurou tanto que já tinha até desistido. Mas foi só você desistir que, na fila do banheiro sem porta do boteco mais sujo da cidade, a gente se encontrou.

Depois disso, você, um cara que nunca acreditou em destino, Deus, Alá, horóscopos, sincronicidade ou qualquer força maior que pudesse influenciar sua vida, passou a dizer alto e pra todo mundo ouvir que era o cara mais sortudo do mundo por ter me encontrado.

Dizia ser sortudo por ter encontrado a mulher mais engraçada de todas. Aquela que ria sozinha com os erros que o Auto Correct do celular fazia. A que separava as ervilhas pra comer só no final. A que te respondia mesmo dormindo. A mais fofa. A única que encaixava na conchinha e na vida. A que tinha o cheiro mais gostoso atrás da orelha. E era tão bonita, mas tão bonita que era bonita até usando touca de banho.

Eu lembro bem de você falando tudo isso e eu sempre morrendo de vergonha pedindo pra você parar. Mas não adiantava, você continuava dizendo que era o cara mais sortudo do mundo por ter me encontrado.

Não tinha lugar, hora ou dia. Você sempre achava um jeito. Deixava post-its dentro da minha bolsa dizendo que era o cara mais sortudo do mundo por acordar com o meu sorriso ao seu lado todas as manhãs. Eu lembro bem de tudo. Sempre que a gente chegava em casa e eu deitava do meu lado da cama, você me puxava pra perto, me colocava pra deitar no seu peito e enquanto fazia cafuné, me contava o tanto que você era sortudo por ter me encontrado.

Quantas vezes você não colocou a cabeça pra fora do carro e gritou: EU SOU O CARA MAIS SORTUDO DO MUNDO!!! Eu te dava um monte de tapas no braço e te puxava pra dentro do carro morrendo de vergonha enquanto você só ria. Teve até um dia que, depois de um desses seus gritos, um vendedor de rua deu uma flor pra gente e disse que eramos “o casal mais bonito que ele já tinha visto”.

Você, André, disse milhares de vezes nesses últimos anos que era o cara mais sortudo do mundo por ter me encontrado e eu sempre neguei isso. Sempre disse para você parar com essa besteira de sorte.

Mas depois de quase 3 meses separados, eu preciso te contar uma coisa. Hoje, quando eu entrei naquele que um dia já foi o nosso restaurante preferido, e te vi sentado com uma outra mulher jantando. Os dois rindo, se beijando e você arrumando o cabelo dela atrás da orelha igualzinho você fazia comigo. Hoje, André, quando eu vi isso acontecendo bem na minha frente, eu tive a certeza que você realmente é um cara de muita sorte. Muita mesmo. E não por ter me encontrado no meio de tanta gente, mas por ter conseguido me esquecer tão rápido.

--

--