Música Brasileira Pra Gringo Ouvir / Junho 2019

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9 min readJun 14, 2019

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Edição especial LGBTQ+

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Junho: o mês do orgulho LGBTQ+

Em 1969, a vida noturna de Nova York passava por um momento turbulento. A atuação da polícia local contra a comunidade LGBT tomou força nos primeiros meses daquele ano: batidas frequentes eram feitas nos bares gays da região, mirando especialmente em drag queens e transexuais — a homossexualidade tinha deixado de ser criminalizada alguns anos antes, mas o tabu era — e ainda é — monstruoso.

Até que, em junho daquele ano, uma batida policial no Stonewall Inn, o principal (e talvez único) bar abertamente gay de Manhattan, foi recebida com um NOT TODAY pela comunidade.

Foto: New York Daily News

Aos gritos de GAY POWER, uma multidão foi se reunindo na rua em plena madrugada, enquanto os clientes do bar iam presos. E as manifestações não acabaram — foram ficando cada vez maiores, dia após dia, até que a união da comunidade LGBT tomasse um rumo inédito e incontrolável.

Um ano depois, em junho de 1970, aconteceu a primeira marcha do Orgulho Gay nos Estados Unidos. Poucos anos depois, a Parada já havia se espalhado por diversas cidades americanas e alguns países europeus. E assim junho foi consolidado como o Mês Internacional do Orgulho LGBTQ+.

Foto: Diana Davies/The New York Public Library

Corta pra 2019. O Brasil tem, hoje, uma das maiores Paradas do mundo — a Marcha de São Paulo figura sempre no Top 3 da lista global, recebendo entre 3 e 4 milhões de pessoas anualmente.

Nesse mês, o nosso report Música Brasileira Pra Gringo Ouvir celebra a luta e o poder da população LGBTQ+, que transformou e transforma o ecossistema social, cultural e musical do país.

Por mais que a gente já tenha falado aqui sobre gente como Maria Beraldo, Getúlio Abelha e Glória Groove, acreditamos que é preciso dar ainda mais visibilidade para essas pessoas que se expressam livremente através da arte em um país cada vez mais fechado para a diversidade.

Procuramos trazer novidades e entidades da música brasileira, equilibrando também suas orientações sexuais e de gênero. Aqui tem espaço pra todo mundo :)

Sem diversidade não há arte, não há música e, enquanto um lado do Brasil se fecha cada vez mais para a igualdade, a comunidade fica cada vez mais forte.

E não esqueça: o mês do Orgulho LGBTQ+ tem data para acabar, mas música precisa ser sinônimo de resistência e representatividade em todos os dias do ano.

Está no ar o Música Brasileira Pra Gringo Ouvir especial LGBTQ+ ! Assista ao vídeo completo e já aproveita pra se inscrever no nosso canal no Youtube que está ficando cada vez mais legal. Vem ;)

Linn da Quebrada

Nascida na periferia e de família simples e religiosa, Linn da Quebrada grita através da arte suas ideias sobre identidade, sexualidade e libertação.

No site oficial da Linn, seu release a define como “artista multimídia e bixa travesty”, o que faz muito sentido já que é impossível separar o trabalho na arte com a sua vida pessoal. Ela é a própria mensagem.

Encontrou na música um caminho para quebrar paradigmas sexuais, de gênero e corpo.

Seus primeiros lançamentos rolaram em 2016: os primeiros singles, “Talento” e “Enviadecer” mostram uma produção ainda modesta, mas as letras já tão ácidas quanto as que a artista iria apresentar dali pra frente. As duas faixas foram regravadas um ano depois.

Depois disso, dá pra perceber um grande salto na qualidade do som. O single “Bixa Preta”, lançado em 2017, é até hoje a faixa com mais plays da Linn no Spotify. E não é a toa. A música é forte e apresenta letra e beats maduros.

"A minha pele preta é o meu manto de coragem
impulsiono o movimento, envaidece a viadagem”.

Definido pela própria Linn como um disco de “afro-funk-vogue”, o primeiro álbum da cantora, Pajubá, veio também em 2017 e foi custeado através de um financiamento coletivo. A direção musical ficou por conta da BadSista e nele a gente encontra as participações mais que especiais de Liniker, Gloria Groove e Pepita.

Capa de Pajubá

Além disso, Linn também é uma das artistas brasileiras mais lembradas na Europa, aparecendo em line ups de festivais como Primavera Sound em Barcelona e circulando em cidades como Lisboa e Berlin.

Foto: Lais Aranha

Labaq

Compositora, cantora e multi-instrumentista. Labaq é tudo isso e mais um pouco.

Ela nasceu em Franca, interior paulista, e depois de dar as suas voltas como instrumentista, resolveu assumir o protagonismo das suas próprias composições e iniciar a carreira solo.

Assim veio o disco VOA, em 2016. Bastante ancorado na voz e guitarra de Larissa, é um trabalho íntimo, tanto no tom como nas letras.

Com VOA ela girou muito, saindo inclusive do Brasil. Ela chegou em 15 países e fez mais de 250 shows, o que deu uma casca muito grossa para ela como artista. Assim, ela já podia alçar voos mais altos.

Seu segundo disco veio 3 anos depois, em 2019. Lux faz com que ela siga na proposta de fazer um som íntimo, baseado nas guitarras e na sua voz, mas apresenta uma evolução clara. Existe uma calma maior e podemos sentir um refinamento na produção. É como se ela tivesse entendido que seu som é para o mundo.

Prova disso é que o disco saiu por 3 diferentes selos em 3 diferentes países: Brasil, Portugal e Espanha. Sua agenda hoje mostra shows em Portugal, Alemanha, Espanha, EUA, e assim ela segue.

Nossa recomendação é que você fique de olho nela agora, pra depois que ela bombar lá fora não vir dizer que não sabia de onde essa baita artista saiu: bem debaixo do seu nariz.

Ney Matogrosso

Ney Matogrosso sempre foi um artista enigmático.

Desde sua primeira aparição com a banda Secos e Molhados nos anos 70, sua voz, figurino e performance confunde e impressiona público e crítica. Esse misto de sensações foi justamente o que chamou a atenção das gravadoras e fez com que a banda conseguisse lançar o primeiro trabalho em 1973.

No meio de uma ditadura militar, a música era arma para enfrentar as autoridades, e ela vinha sozinha. Os figurinos que beiram a nudez, as pinturas e as máscaras também faziam esse papel, mas ao mesmo tempo serviam como uma espécie de defesa: no auge do sucesso do Secos e Molhados, Ney afirma que podia sair na rua tranquilamente sem ser reconhecido.

O que para ele é sinônimo de tranquilidade, já que sempre performou como um personagem: nos palcos a extravagância e na vida a simplicidade, mas nos dois a liberdade como valor principal.

Essa separação entre a vida pública e privada fez com que questões mais íntimas, como sua sexualidade, só viessem a tona mais tarde, quando o relacionamento entre Ney e Cazuza se tornou público depois da morte do cantor.

Mesmo sem se expor tanto, Ney Matogrosso sempre tratou o fato de ser gay com total naturalidade, sendo um símbolo de tranquilidade, segurança e força até os dias de hoje, prestes a completar 80 anos de vida e em plena atividade.

Liniker

23 de outubro de 2015.

Essa é a data de upload do segundo vídeo do canal da Liniker no Youtube, que em 5 dias já tinha sido visto por 1 milhão de pessoas e que hoje está batendo os quase 25 milhões de views. A música é Zero, que junto com "Louse do Brésil" e "Caeu" fazem parte do primeiro EP chamado Cru.

Esses primeiros vídeos das músicas sendo tocadas ao vivo, gravadas na sala do guitarrista da banda, foram importantes pois mostraram ao mundo a potência na voz, na sonoridade, mas também na imagem de Liniker.

Bicha, preta e confundindo logo de cara: um homem de saia ou uma mulher de barba? Pouco importa, afinal. Era tudo muito incrível e ela estourou.

Sua imagem afastou alguns poucos, mas atraiu muitos que só queriam saber da nova voz da música black brasileira que acabava de surgir.

De lá pra cá, Liniker protagonizou o debate de identidade de gênero no Brasil, sendo incrível também em entrevistas e conversas sobre o tema. Lançou dois discos, Remonta e o mais recente Goela Abaixo.

Capa dos dois discos de Linker e os Caramelows

Vinda de Araraquara no interior de SP, ela ganhou o Brasil e é claro que ganharia o mundo.

Sua agenda hoje se divide entre cidades como Madrid, Toronto, NY, Amsterdam, Berlin e Barcelona, só para citar algumas. Em 2018 ela nos representou lindamente também no icônico programa Tiny Desk Concert, apresentando algumas faixas dos seus dois discos.

Nos comentários? Gringos impressionados e brasileiros orgulhosos.
E é isso mesmo que sentimos: orgulho por ter uma artista tão incrível saindo daqui.

Foto: Julia Rodrigues

Aíla

Aíla é uma cantora e compositora nascida em Belém e que usa muito da estética do Pará para compor a sua sonoridade. Com um timbre marcante e uma forte presença de palco, ela passeia por referências que vão do brega ao pop, da guitarrada ao carimbó.

Aíla lançou o seu primeiro trabalho em 2012. O disco Trelelê apresenta 12 faixas com produção de Felipe Cordeiro. Assim, o material teve uma boa repercussão e fez com que a cantora pudesse tocá-lo em vários palcos espalhados pelo Brasil.

Esse disco já mostra um pouco da criatividade e da acidez da compositora, mas todas essas características ficaram mais fortes ainda no segundo disco, Em Cada Verso Um Contra Ataque, lançado em 2016.

O disco mostra uma Aíla mais livre e até mais política, além de uma originalidade bem impressionante na produção e nos arranjos das músicas. É nesse trabalho que encontramos a faixa “Lesbigay”, que acabou se transformando em um hino LGBT.

Porém, mesmo com esse hit como protagonista, esse é um disco que vale ser ouvido do início ao fim com muita atenção.

E aí, curtiu? Já conhecia esses nomes? :)

Deixa seu comentário aí embaixo pra gente ir trocando uma ideia e se tiver uma sugestão para a gente colocar nas próximas edições, ela será muito bem vinda. Ah, e não esquece que todos esses artistas e muitos outros estão na playlist Música Brasileira Pra Gringo Ouvir no perfil do Bananas Music Branding nas plataformas de streaming. Segue lá!

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