O cara do TI

Paula Prado
Praticamente Inofensiva
3 min readSep 22, 2021

Se você ainda não conhece um, certamente já ouviu ou vai ouvir falar muito do “cara do TI”.

Há anos, grande parte das resoluções práticas da nossa vida está convergindo para o ambiente digital. Isso traz cada vez mais visibilidade para essa área de atuação.

Mas, ao mesmo tempo em que atrai talentos, atrai problemas. Bom, trabalho é o que não vai faltar para o cara do TI.

Sempre que uma empresa sofre um ataque de grandes proporções no ambiente digital, é bastante comum que o caso vá parar nos assuntos mais comentados no Twitter. Como esse tipo de incidente tem sido cada vez mais frequente, essa discussão nos leva a dois pontos.

O Cara do TI

Quase que, majoritariamente, todos os comentários das threads direcionam a preocupação pelo ataque para “o” cara do TI. E como poderia ser diferente?

Em 2007, mulheres ocupavam 24% dos cargos em TI. Em 2017 eram 20%. E mais: além de ocuparem menos posições, existem as diferenças salariais. No estudo de 2017 os homens ganhavam 11,05% a mais que as mulheres, mesmo elas tendo um nível de graduação superior.

Bom, é consenso que um time diverso gera equilíbrio e melhores resultados justamente por abraçar as características de ambos os gêneros, formação, experiências e vivências. Isso é inteligência coletiva.

Então, se diversidade traz inovação e gera resultados financeiros, não pode também melhorar a proteção e capacidade de resposta?

Talvez a resposta para essa pergunta não possa ser facilmente encontrada. Qualquer resultado que envolva o comportamento ou a mudança de um tipo de comportamento leva tempo para amadurecer e florescer. Talvez essa visão de futuro diverso seja algo que plantamos hoje, para colher em algumas gerações.

Viver em uma sociedade conectada pode acelerar o processo. A geração posterior a minha já nasceu em um ambiente conectado onde todo mundo tem voz. Ainda nem consigo assimilar como é a de quem está nascendo agora.

Aldeia Global

Já parou para pensar que se não fosse a internet talvez a gente nem estivesse discutindo diversidade em 2021?

Viver em rede e estar conectado com pessoas no mundo todo permitiu que grupos, antes marginalizados, encontrassem pares e voz em todos os lugares. É esse fenômeno de encurtar distâncias, que propicia um ambiente favorável para discutir a diversidade.

O convívio do grupo é fundamental para fortalecer discursos e reafirmar posições individuais e um senso coletivo de pertencimento. Uma mulher que cresce sendo silenciada, sofre uma violência e não possui uma rede de apoio, internaliza o comportamento como padrão. É a partir da vivência com outras mulheres em situação análoga, que ela adquire novos repertórios para entender o certo e errado.

Há mais de um século pessoas pretas são marginalizadas e minimizadas como grupo social, econômico e cultural. Ao se conectarem a outros grupos com as mesmas vivências, podem fortalecer suas pautas, aspirações e direitos para cobrar e promover mudanças.

As distâncias não foram encurtadas apenas entre as pessoas. Mas entre elas e o conhecimento e o vislumbre de oportunidades também. É a tal da representatividade. Com mais acesso a informação, conteúdo e pessoas é possível enxergar mais exemplos.

É a máxima de: Eu posso não conhecer nenhuma mulher num cargo de liderança, mas eu sei que existe na empresa A e B. E se existe lá, pode existir aqui também.

Então, se a tecnologia permite que mais pessoas tenham acesso à informação, formação e profissionalização por que ainda se busca o mesmo perfil para vagas?

Essa é uma discussão complexa, mas necessária para expor vieses inconscientes e talvez um pouco de apego: a uma rotina, uma estrutura, um passado que não será revivido.

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Paula Prado
Praticamente Inofensiva

Jornalista, Swifitie, ativista dos direitos femininos e equidade de gênero. Aprendendo e compartilhando sobre humanidade, comunicação e Jurassic Park.