O efeito Prestígio ou porque as pessoas dão ‘parabéns’ pra quem aparece na televisão
”Cara, parabéns! Vi você na TV! - diz o fulano, de forma sincera e elogiosa para seu conhecido. Qualquer pessoa que já participou de algum programa numa emissora de TV,por mais breve que tenha sido, sabe que é exatamente isso que acontece. Basta um segundo de cara no ar para sentir o resultado na sociedade.
Na cultura brasileira, erguida e alicerçada na televisão, chegar até a tela da TV é um feito digno de aplauso, mais valioso que uma conquista material, ascensão social ou promoção profissional. É considerado um mérito, coisa pra botar no currículo. Sério ,tem gente que inclui no CV que foi entrevistado pelo Jô Soares. Mais um pouco e vamos ver pessoas incluindo badges do Foursquare.
‘Aparecer na televisão’, afinal, ‘não é pra qualquer um’, porque como sabemos, apesar de ser uma concessão pública e ser chamada de TV aberta, de aberta e pública ela não tem nada: só entra quem for convidado. Ou quem tiver comprado tempo de exibição na grade.
É este o princípio do prestígio, restringir acesso para valorizar a entrada, técnica de marketing manjadíssima, responsável pelas longas filas nas baladas que selecionam quem entra e quem fica de fora, mesmo com dinheiro na mão. É a tática do prestígio, a criação do produto priceless.
Deve ser essa a explicação que faz com que grandes nomes da Internet celebrem um convite para ter um programa na TV. O prestígio social e o upgrade emocional compensam o downgrade numérico, como no caso de vloggers, que vão da ordem de milhões de viewers para alguns milhares de telespectadores. Matematicamente não faz sentido trocar 1.000.000 de assinantes por uma audiência de 0,1 no Ibope. Mas a vida não é matemática e essa lógica não se aplica. O fato é que, apesar do sucesso dos vloggers ser mesmo mérito de cada um, com suas combinações particulares de sorte, talento, timing, adequação ao mercado, fazer sucesso na Internet ainda é visto como algo que qualquer um pode conseguir, mas entrar na TV, não. Na TV só se você for chamado!
A impressão que dá é que o povo não gosta da democracia, do que todos podem ter. O povo gosta do que não está acessível a ele, do que é aspiracional, do que é feito ‘pra poucos e bons’.
Um dia isso deve mudar. Talvez já esteja mudando, como no caso do Porta dos Fundos, grande sucesso na Internet que não tem a TV como meta.
Mas, para a grande massa, ainda rola o efeito Prestígio, aquele famoso doce, onde a Internet é o coco (e coco ninguém valoriza porque tem em todo lugar, todo mundo pode comprar) e a TV é o chocolate.E chocolate, bem, chocolate não é pra ‘qualquer um’.
A todos os que fazem sucesso na Internet, na TV e no quarteirão do seu bairro, meus sinceros parabéns.
