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O esfíncter e o Facebook

A fabulosa falta de educação na era das redes sociais

rosana hermann
Prato cheio de vida 
3 min readAug 9, 2013

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No primeiro domingo de agosto de 2013 fui ver um concerto na suntuosa Sala São Paulo com a majestosa Filarmônica de Câmara de Bremen,regida pelo excepcional maestro estoniano Paava Jarvi, executando a oitava e a nona sinfonias de Beethoven, com direito a coro da OSESP no movimento final, Ode à Alegria. Junto com a noite superlativa de música veio também o choque cultural de um novo movimento da nossa moderna sociedade, a descomunal falta de noção de alguns bípedes que, em tese, fazem parte da nossa querida raça humana.

No começo do espetáculo, como de costume, um aviso pré-gravado em áudio alto e claro, na língua portuguesa local, anunciava que era proibido gravar ou fotografar no recinto a partir daquele momento. E que os telefones celulares deveriam ser desligados. Ok, tem as urgências médicas, familiares e pessoais e o bom senso nos diz que deixar o aparelho sem som, no vibracall escondidinho na(o) bolsa(o) é a exceção inteligente que não precisa ser mencionada no texto genérico do aviso. Todo ser humano compreende isso.

Só que não.

Numa poltrona logo à frente da minha, um casal já dava os primeiros indícios da falta de educação mínima. Fotografavam-se sem parar, dando voltinhas pela sala, sempre tendo suas caras como objeto central e o entorno como cenário.

E aí começou o concerto. A moça, claro, pegou o celular e começou a tirar fotos DELA no concerto. No intervalo, uma voz ao vivo nos altofalantes dizia que além de não falar ao celular era importante também não fotografar porque a luz atrapalhava a apresentação.

Quatro dias depois fui à estreia do belíssimo espetáculo de teatro circense La Verità e a mesma coisa aconteceu. O aviso anunciou a proibição, a moça na fila da frente sacou seu super celular com brilho em 100% e começou a fotografar. O clown-apresentador chegou a mencionar que não era legal fazer isso e uma funcionária da produção teve que vir até a poltrona da moça para pedir que ela não o fizesse.

E aí eu te pergunto, como diria o Marcelo Rezende. Essas pessoas têm problemas auditivos? Não entendem a língua portuguesa? Ou simplesmente são casos em que o phone é Smart mas o dono é Stupid?

Eu tenho uma teoria, o Descontrole do Esfíncter Social.

Como você sabe, quando uma criança pequena começa a dar os primeiros sinais de amadurecimento físico ela começa a pedir para fazer suas necessidades. É o momento de começar o treino do peniquinho para que ela ganhe autonomia para ir ao banheiro sozinha. Amadurecimento é isso, autonomia para cuidar de si mesmo e poder conviver com os outros.

Pessoas como o casal do concerto e a moça do teatro, não têm controle do esfíncter. Não no sentido fisiológico, mas emocional. Se elas sentem vontade de tirar uma foto para postar no Instagram ou no Facebook, elas TEM que tirar a foto. É uma urgência incontrolável para elas. Elas não conseguem RETER o desejo de clicar da mesma forma que a criança que faz coco na calça porque não consegue se SEGURAR até a hora certa de ir ao banheiro. Aliás, o paralelo é bem apropriado porque a foto que a moça tirou no teatro deve ter ficado uma merda mesmo.

Essa nova gama de patologias de Descontrole do Esfíncter Social tem diversas variações como a Urgência Instagrãmica,a Não retenção Facebookiana e ainda a Incontinência de CheckIn no Foursquare. Em todos esses casos, a criatura não está apta a coexistir com seus pares porque ainda não desenvolveu a competência cerebral que permite distinguir seu desejo pessoal das normas de convívio social.

Aguardamos cheios de esperança novas técnicas e terapias da medicina, psiquiatria e psicologia, para que esses doentes possam ser tratados evitando assim que causem constrangimento para elas e mal-estar para todos que tentam apreciar os espetáculos culturais. Lembrando que, enquanto a cura não chega, uma boa solução seria colar uma fralda descartável na cabeça idem dessa gente deselegante.

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rosana hermann
Prato cheio de vida 

physicist, writer, journalist, blogger, scriptwriter, professor, tv hostess, runner, knitter and twitter lover @rosana