A maconha e o esporte são inimigos?

Jonatas Reis
Prensado Pensado

--

Todos imaginamos como é a vida de um atleta, cheia de restrições e limites, alimentação rígida, treinos intensos e, principalmente, nada de drogas. Mas será que a realidade é essa?

Com a popularização e a diminuição do estigma do usuário de maconha, já nos deparamos com várias notícias de atletas que assumiram já ter usado ou ser um usuário frequente da erva. Lembra do caso icônico da foto do Michael Phelps dando uma bongada? É, mesmo não sendo pego no antidoping foi suspenso por três meses pela federação.

Mas hoje o atleta pode usar maconha? É aquele caso, é proibido mas se quiser pode. Em maio de 2013 as regras da Agência Mundial Antidoping foram afrouxadas, embora ainda esteja na lista de substâncias proibidas, foi ajustado o limite máximo para ser detectado nos exames passando de 15 nanogramas por mililitro para 150 nanogramas. Abrindo assim, a possibilidade para o uso de Cannabis até um ou dois dias antes do teste, concentrações maiores só seriam encontradas caso a droga fosse administrada pouco antes.

Já sabemos de muitos efeitos terapêuticos da maconha, porém, ainda é discutido se a droga pode causar melhora de desempenho nos esportes. Devido ao efeito relaxante, tanto corporal quanto mental, a maior indicação é a utilização no pós treino, porém esportes que requerem reflexos rápidos e estado de alerta contínuo como automobilismo não é recomendado o uso de nenhuma substância, o efeito não seria congruente com o desejado, podendo causar perda de eficácia em uma competição como também causar acidentes.

Como podemos utilizar a maconha positivamente? Após a descoberta do sistema endocanabinoide, podemos utilizar esse conhecimento para manejar a dor e os processos inflamatórios musculares. Temos receptores responsáveis por captar os canabinoides da planta, o CB1 que age na dor e no humor, e o CB2 que age na modulação da resposta inflamatória. Logo, esportes que demandam muito estresse muscular podem ser beneficiados no pós treino para regular os sintomas. Acredito ser menos danoso do que analgésicos e anti-inflamatórios industrializados que apesar de aliviares as dores podem causar problemas gástricos com o tempo.

Ainda temos um longo caminho nos estudos de eficácia da maconha e outras drogas no esporte, a lenta legalização e regulamentação mundo à fora nos dá esperança na ciência e na descoberta de novos usos, recomendações e também dos malefícios que podem ser causados através do uso da planta.

Fontes:

--

--

Jonatas Reis
Prensado Pensado

Farmacêutico e antiprobicionista. Faze o que tu queres há de ser todo da lei.