O que é redução de danos?

Lorena Marques
Prensado Pensado
3 min readJun 25, 2020

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A redução de danos é um aparato de políticas e práticas que faz frente à demonização do uso de drogas, dando luz a métodos e intervenções que tem como objetivo proporcionar aos usuários de drogas experiências que ofereçam menos risco. Desde leis e criação de espaços especializados nessa prática, até pequenos hábitos do dia a dia, a redução de danos surge como um novo paradigma ético que visa a compreender e atuar sobre as problemáticas e nuances que envolvem tanto os usuários quanto seu entorno, além de assegurar os direitos constitucionais destes.

O profissional redutor de danos entende que o protagonismo das intervenções não deve girar em torno da droga, e sim da história de vida do sujeito no contexto social e psicológico em que ele se encontra. Não é apenas sobre usar ou não a droga, mas sim identificar quem usa, onde usa, quando e como usa. Juntando essas informações, pode-se construir estratégias para o consumo dessas substâncias de uma maneira que minimize os riscos à integridade do usuário. Desta maneira, o desenvolvimento político da redução de danos é contemporâneo à Reforma Sanitária, Psiquiátrica e à própria ascensão do SUS.

A redução de danos se consolida enquanto técnica no mundo nas décadas de 70 e 80, coincidindo com o boom das drogas que se popularizam nesse período histórico. Os estigmas e as feridas sociais que surgem como comorbidade do uso abusivo dessas substâncias passam então a receber atenção dos setores jurídico, social e de saúde. Neste cenário, em 1989 na cidade de Santos, em São Paulo, ocorre a primeira intervenção com base no paradigma da redução de danos no Brasil a partir do primeiro programa dedicado a intervir de forma educativa e não punitiva com usuários de drogas injetáveis.

Através do incentivo a troca de seringas, surge a primeira medida que legitima uma técnica que reduz os riscos de consumir essas drogas sem a necessidade de recorrer necessariamente à abstinência. Desde que os dispositivos jurídicos e de saúde começaram a recorrer às políticas de redução de danos, estudiosos e teóricos da área puderam pesquisar e evidenciar efeitos positivos não só no que diz respeito ao uso problemático, mas também na prevenção da transmissão de doenças como hepatite e AIDS.

A partir dos trabalhos desses teóricos, em conjunto com portarias, leis e mudanças na abordagem de órgãos de saúde coletiva, as políticas de redução de danos foram aos poucos se provando eficazes não somente em casos extremos de uso abusivo de drogas injetáveis; práticas voltadas ao uso mais seguro de drogas começaram a expandir para o universo do consumo de substâncias como cocaína, crack, e até drogas socialmente aceitas, como álcool, cigarro e fármacos. Nos dias de hoje, entende-se redução de danos para além do contexto de uso abusivo, e sim como a possibilidade de um posicionamento cotidiano diante do uso de psicoativos mesmo que seja de forma recreativa ou com determinada janela de tempo entre as experiências de uso, o que prova que redução de danos, para além de um conjunto de dispositivos políticos revolucionários, trata-se também de refletir nossas escolhas, e repensar nosso estilo de vida como um todo.

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Lorena Marques
Prensado Pensado

Estudante de psicologia, roteirista, redatora e designer.