É possível ser saudável enquanto se tenta migrar de carreira?

Vitória Melo
Pretux
Published in
5 min readJan 25, 2023

(dicas de quem está atualmente no olho desse furacão)

Quando lá pra 2020 comecei a ouvir falar com muita frequência desse tal de UX Design ou Product Design, confesso que eu não entendia muito bem o porque do bafafá.

Mas logo descobri. A área é vendida como um oásis para nós designers que estamos exautes de trabalhar com rede social, em locais que somos pouco valorizades, modelos PJ que são o puro suco do vínculo empregatício sem nem direito a adoecimento e salários baixíssimos.

No meio do ano passado, comecei a estudar sobre a área e entender as possibilidades de atuação, e realmente fiquei apaixonada. A área tem tudo aquilo que eu gosto: muito contato com pessoas (pois é…), momentos de pesquisa, análise de dados, espaço para inovação e testes. Isso tudo claro, alinhado a um prazo de entrega e orçamento geralmente enxutos.

Diversos são os discursos de que com um case e no máximo 6 meses você entra na área. Mas a história não é bem assim, ainda mais no cenário atual.

Me apliquei em diversas vagas como júnior e estagiária, e em muitas delas nem saí das etapas genéricas da plataforma. A cada negativa eu me entristecia. A cada processo seletivo sem seguir adiante e apenas mês depois ter feedback (também negativo) eu me entristecia ainda mais.

Cheguei num nível em que acordava e a primeira coisa que fazia entrar entrar no LinkedIn ou em grupos do Telegram e procurar vagas. Obviamente, eu adoeci. Não só perdi as esperanças e fui parando de tentar e estudar, como entrei numa bad vibes muito ruim ao ponto de acreditar que jamais conseguiria atingir objetivo qualquer na vida.

Não, eu ainda não consegui meu tão sonhado SIM na área, mas não desisti. Agora tô pegando leve, como diria os queridos de O Terno, e tenho tentado focar em algumas coisas que aprendi nesse meio tempo.

Busque por ajuda profissional, é sério!

Nesse processo, pode ser que a ansiedade passe a fazer morada com você. E às vezes alguns conhecidos dela também podem aparecer, como o desânimo, alteração na qualidade de sono, falta de apetite, descuido com o corpo e saúde, depressão. Palavras fortes né? Pois é!

Para além de toda nossa carga enquanto individuo, ter que lidar com tudo que engloba a migração de carreira pode ser bem estressante e desgastante. Por isso, ter uma pessoa que possa te auxiliar a encontrar ferramentas para lidar com esse período turbulento e desafiador pode ser bastante importante.

Dê uma checada nos atendimentos prestados nas faculdades de psicologia, nos CAPS e demais centro de saúde públicos da sua cidade. Caso não encontre, uma gama de profissionais atende de forma remota e estão abertos a algum tipo de negociação de valores, alguns até prestam atendimento social.

❤ Peça arrego para sua rede de apoio ❤

Na nossa cultura, somos muito acostumades a não pedir ajuda e carregar todo o peso do mundo nas costas. Mas acredite ou não, você não precisa fazer isso sozinhe!! Nesse momento tão conturbado, é muito maneiro poder conversar com amizades sobre as barras que se tem passado.

Muito bacana também, é conversar com outras pessoas da área, e entender como foi ou tem sido o processo de migração para elas. Às vezes, a gente entra num espiral de que é só com a gente, que só a nossa grama tá secando, mas não é. É muito menos sobre você, e mais sobre todo o funcionamento de um mercado, investidores, contextos de fragilidade sociais em que você pode estar inseride e muitas outras coisas que não dependem de você.

Conheça a realidade do mercado

Que a gente tá vivendo o “estouro da bolha tech” é um fato! Basta frequentar o LinkedIn que diariamente no seu feed vai aparecer diversas pessoas compartilhando sua “demissão surpresa”.

Demissões em massa, recessão, mercado em crise, a aparente diminuição de vagas juniores, mais um monte de trem. Ok, realmente isso tem acontecido, mas não quer dizer que está tudo perdido. É importante saber onde se está pisando, assim os planos podem ser desenhados com mais correspondência na realidade e menos na ansiedade.

Descansar é preciso!

Eu sei que você tem um cronograma de estudos estruturado ou minimamente tem participado de bootcamps, feito leituras, praticado Figma ou AdobeXD, assistido lives e webnars sobre assuntos da área pretendida. Mas e a vida social, como que anda? Não vou nem tão longe, você tem tido tempo para si? Nesse turbilhão de coisas a serem aprendidas, vagas a serem aplicadas e todo o desgaste que vem com isso, ter tempo para estar em contato consigo é imprescindível!

Eu fiquei um tempão sofrendo demais porque minha rotina estava completamente em função da migração de carreira, trabalho e faculdade. Entender que esse comportamento estava me fazendo muito mal foi importantíssimo!!

Para além dos estudos, eu me organizo para conseguir praticar algum exercício, ler algo que não tenha NADA a ver com UX/UI, colocar alguma série em dia, caminhar em algum lugar, ver amigos. Sabe aquele hobbie que você quer aprender já há um tempão? Vai atrás dele! Monte uma playlist com música de todos os países do mundo. Organize a quinquilharia na sua gaveta, sei lá, faça nada!

Desvincular seu dia-a-dia exclusivamente da migração, pode ser aliviante e ao mesmo tempo, te ajuda a manter o gás para também continuar tendo forças para se dedicar aela.

“És um senhor tão bonito…”

Imersos numa conectividade onde on-line e off-line são um só, em que somos bombardeados de informação o tempo todo e por todo lugar, estímulos de compra, alteração da percepção temporal pós-COVID19, sinceras preocupações com o estado de nosso país e mundo, FOMO. Tudo isso nos coloca de frente com o tempo, e nos relembra de nossa aparente guerra humana contra ele.

Nunca estamos ajustados com o tempo, o ponteiro está sempre em descompasso.

Ilustração de duas pessoas, cada uma está segurando um relógio gigante acima da cabeça, parecem fazer esforço. A da direita com a horas: 12, 9, 6 e 3. A da esquerda com as horas: 12, 3, 6 e 9. Lê-se a frase: “Nós não temos a hora certa”
Não temos a hora certa (Leonilson, sem data)

Fazer as pazes com o tempo nunca parece ser definitivo, em algum momento ele vai se mexer e isso será o suficiente para causar um frisson em nós, está rápido ou devagar demais. Fixar a mente no correr do relógio não é o mais inteligente da nossa parte, também não é fácil não fazê-lo.

Talvez uma alternativa, seja conseguir colocar os planos a caminharem lado a lado com o tempo. Entender a realidade do mercado que se insere, traçar metas possíveis, ter momentos de lazer e ócio, se encontrar com amigues, cuidar da saúde mental. Isso é colocar-se caminhando com e não contra o tempo.

Fez sentido por aí?

Vamos conversar: https://www.linkedin.com/in/vitoriamelo/

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