Comece a aplicar Acessibilidade Digital em seus projetos
Você já se perguntou se o projeto que está desenvolvendo ou desenvolveu é acessível? Talvez você nunca tenha parado pra pensar, ou até mesmo não achou que seria tão relevante para tal projeto. A verdade é que acessibilidade é, e deve fazer parte de todo processo de um novo produto ou serviço, seja ele digital ou não.
Confesso que não pensava tanto em acessibilidade, posso dizer que muitas vezes isso nem chegou a ser um ponto nas reuniões de definições dos projetos. Então, após ter a oportunidade de participar do curso de Acessibilidade Digital da Mergo, uma bolsa que recebi pela comunidade PretUX, vi o quanto nós, designers, devemos ter isso como premissa. Aqui vou destacar alguns pontos sobre o que aprendi neste curso, ministrado pelo Marcelo Sales.
A Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) criou critérios de sucesso referente a acessibilidade digital, que devem ser aplicados em projetos digitais. Há mais de 70 critérios, mas para nos ajudar a entende-los o UX Designer, Marcelo Sales, desenvolveu um toolkit chamado Guia WCAG, composto por cartas, cada uma referente a um critério e contendo um resumo do mesmo (vale lembrar que é apenas um resumo, para entender realmente cada um, é preciso ler na integra).
Se o seu projeto não segue nenhum desses critérios, significa que ele não é acessível. Temos alguns exemplos de sites que sofreram processos por usuários PSDs (portadores de deficiência) que tentaram navegar neles, mas foram impedidos devido a não acessibilidade em seu sistema.
O primeiro caso é o do site da Beyoncé. Em janeiro de 2019 sofreu uma ação porque uma fã da cantora chamada Mary Conner, que é deficiente visual, teve algumas barreiras na tentativa de ver o site da artista. Isso por conta de alguns problemas como:
- Menus inacessíveis;
- Links inacessíveis;
- Videos inacessíveis;
- Imagens sem descrição;
- Navegação por teclado complicada.
O segundo exemplo é da Apple. A empresa sofreu um processo coletivo em Agosto de 2018, quando uma usuária chamada Hidelma Mendez, deficiente visual, tentou fazer uma compra no site da Maça. Alguns problemas no antigo site eram:
- Imagens sem descrição;
- Textos sem redimensionamento;
- Formulários sem labels;
- Captchas inacessíveis;
- Busca não funcional;
- Contextos alterados a partir do foco.
Hoje a Apple já corrigiu estes erros, e vem se tornando cada vez mais referencia em sites com acessibilidade.
Mas afinal para quem a acessibilidade é destinada?
Acessibilidade não é (só) para as pessoas com deficiência, não é (só) para pessoas com deficiência visual, e principalmente, não é altruísmo. Devemos fazer projetos mais acessíveis para ajudar as pessoas e melhorar os nossos produtos. Temos que dar um acesso universal.
"Ah legal! Então preciso incluir todos. É só fazer um design inclusivo e com um pingo de diversidade?"
Na verdade, a diversidade e a inclusão caminham junto com a acessibilidade. As três são estradas diferentes que seguem lado a lado. Por isso é importante atrelar os 7 princípios do design inclusivo com as aplicações dos critérios de sucesso da WCAG.
7 princípios do design inclusivo.
- Proporcionar uma experiencia equivalente
A experiencia em um site/produto não será a mesma para todos os usuários, mas devemos deixar equilibrado, como por exemplo em um site com uma imagem que é importante para o contexto a ser transmitido, podemos dar acesso aos deficientes de visão por meio da descrição de imagem. - Considerar a situação
Precisamos prevenir e antecipar algumas situações de uso do nosso serviço ou produto. Temos que projetar para diferentes situações como usar o celular enquanto está em movimento. Oferecer a experiencia equivalente para todos, independentemente da situação. - Ser consistente
Use convenções familiares e aplique-as de forma consistente. Interfaces que são familiares costumam aplicar padrões bem estabelecidos. Esses padrões deve ser utilizados consistentemente dentro da interface para reforçar seu significado e propósito. Isso deve ser aplicado as funcionalidades, comportamentos, editoriais e apresentações. Você deve informar as mesmas coisas da mesma maneira e as pessoas devem poder fazer as mesmas coisas da mesma maneira. - Dar o controle
Possibilitar que as pessoas possam interagir com o conteúdo como preferirem. Não remova ou desative a possibilidade do usuário alterar e ajustar as configurações padronizadas do navegador ou da plataforma que usa, como orientação de tela, tamanho da fonte, zoom ou contraste. Evite também alterações no conteúdo de forma automática, que não tenha sido provocada por uma ação do próprio usuário, a menos que haja uma maneira de deixar o usuário no controle. - Oferecer escolha
Devemos adicionar diferentes maneiras para os usuários concluírem determinadas tarefas, especialmente aquelas que são complexas ou não são padronizadas. - Priorizar o conteúdo
Ajude as pessoas a se concentrarem nas tarefas. Interfaces podem ser difíceis de se compreender quando os principais recursos não são claramente expostos e priorizados. Um site ou aplicativo pode fornecer muitas informações e funcionalidades, mas as pessoas devem poder se concentrar em uma coisa por vez. Identifique o propósito central da interface e em seguida, destaque o conteúdo e as funções necessárias para se cumprir esse propósito. - Adicionar valor
Considere a importância dos recursos e entregas e como eles melhoram a experiencia para diferentes usuários. Os recursos devem agregar valor à experiência do usuário, oferecendo maneiras eficientes e diversificadas de localizar e interagir com o conteúdo. Considere os recursos do dispositivo, como API’s de voz, geolocalização, câmera e vibração, e como a integração com dispositivos conectados ou com uma segunda tela pode fornecer opções.
Você pode ver mais sobre este conteúdo no site designinclusivo.com.
Dicas para começar a aplicar a acessibilidade
Para ter uma boa acessibilidade em seu site, aplicativo ou serviço, é necessário adquirir um bom conhecimento de todo esse universo. Aqui vão algumas dicas para vocês começarem a implementar isso no dia a dia.
- É necessário compreender a WCAG para que não haja dúvidas durante as aplicações de seus critérios de sucesso.
- A WCAG é a base, não o fim.
- Teste leitores de telas sempre e comece a navegar com o teclado, esqueça o mouse um pouco, só assim conseguimos ter uma noção de como todos utilizam os nossos produtos.
- Ainda é um protótipo? Chama o amiguinho ou amiguinha para ser o seu leitor de tela. Vale a pena testar!
- Crie personas inclusivas.
- Teste com usuários com algum tipo de deficiência, se possível diferentes.
Com essas dicas vocês podem se aprofundar ainda mais neste tema importantíssimo. Leve acessibilidade para a sua empresa. Seja uma pessoa que usa, abusa e defende a acessibilidade. E então, os seus projetos terão muito mais resultados positivos.