O tal do Design Thinking

Yori L. Galvão Borges
Pretux
Published in
5 min readMar 21, 2022

Quando finalmente descobri que o duplo diamante é, de fato, precioso

Recentemente entrei em projeto novo que já estava em andamento havia certo tempo. Ao participar de uma das reuniões, prestei atenção em tudo o que foi dito de ambos os lados, as exigências dos clientes e negociações do nosso time. Terminamos a reunião e saí da sala virtual com uma certeza: eu estava completamente perdido. Entrei achando que haviam definições bem traçadas, mas durante a conversa tudo mudou de rumo e a única certeza é que eu não sabia de nada.

Logo pedi para conversar com a minha líder e ela me acalmou. Porém, durante a conversa me veio um clarão e perguntei: “foi feito algum processo para definir o objetivo do projeto?” e a resposta foi não. De acordo com ela, nós teríamos que extrair essas informações durante a execução, porque não haveria mais tempo e muito provavelmente haveria mais trabalho e muito seria descartado no caminho…

Felizmente, quando isso ocorreu eu estava já cursando a formação da Echos Online sobre Design Thinking.

E o que é o tal do Design Thinking ?

-É o design de pensamento, né?

-Não ajudou muito.

O Design Thinking é um método que auxilia no processo criativo, na ideação, para que as equipes consigam trabalhar com um norte melhor antes de começar a desenhar algum serviço ou produto. Não há um método único, mas sim um apanhado de ferramentas que ajudará as pessoas, junto com os clientes, a idealizarem qual o objetivo daquele projeto, público alvo, bem como otimizar o desenvolvimento. Assim, reuniões como as que eu participei não deixarão os envolvidos perdidos pela aparente falta de foco (e olha que eu tenho TDAH e sobre falta de foco eu entendo um bocado).

É usando algumas das inúmeras ferramentas que conseguimos ver quão alinhado está o pensamento inicial com a real demanda das pessoas que serão consumidoras. Também é possível que durante o projeto os objetivos mudem e isso também faz parte do movimento do Design Thinking uma vez que a base é a iteração, isso é, repetição. Logo, é comum voltar para algumas das fases para rever algum conceito inicial ou alterar algum objetivo que foi verificado durante pesquisas, entrevistas ou testes. E todas essas etapas estão dentro do precioso duplo diamante.

Duplo diamante

Quando falamos do processo de iteração, logo vem à mente o que é ensinado em curso, o Duplo Diamante. Dividido normalmente em 4 etapas e os nomes podem variar.

Imagem do duplo diamante com as palavras descoberta e definição no primeiro diamante e desenvolvimento e entrega no segundo diamante. A imagem faz parte do kit de ferramentas da Echos escola de Design Thinking
Imagem parte do kit de ferramentas da Echos Escola de Design Thinking

E com o uso das etapas que serão traçadas metas e formas de atingir os objetivos do projeto. A iteração (repetição) faz parte essencial do duplo diamante então, uma vez que se chega na entrega, não necessariamente está terminado o processo de Design Thinking. É possível (e muito provável) que seja preciso retornar e realizar novas dinâmicas e estudos para alinhar e refinar o que já foi descoberto anteriormente e assim seguir sem perder o caminho traçado como sendo o mais importante. Talvez tenha que passar pelo processo de descoberta novamente caso em algum momento fique claro que as evidências iniciais não se aplicam ao que é desejável como entrega do produto.

Parece trabalhoso né? Mas saiba que é extremamente importante, assim o tempo será otimizado e provavelmente serão poucas reuniões que você se sentirá como na imagem abaixo:

Quadrinho da revista Turma da Mônica com o personagem Seu Cebola (pai de Cebolinha) assustado perguntando “O que está acontecendo?” e o personagem Cascão gritando “Eu não sei!”. Há o cachorro Floquinho claramente assustado ao fundo e todos estão correndo.
Quadrinho Turma da Mônica de Maurício de Souza

Atualmente há pessoas que defendem inclusive que existe um Triplo Diamante, mas será assunto para um outro momento.

O Kit de utilidades

Quando tratamos do que são os processos de Design Thinking, existem inúmeras ferramentas que podem ser usadas para ajudar a objetivar e ordenar as metas que clientes têm em mente com o produto. Não tem como comentar sobre todas porque cada etapa há uma boa variedade para ser testada de acordo com a necessidade. Mas dentre as mais famosas há a matriz CSD, entrevistas qualitativas e quantitativas com possíveis pessoas usuárias do produto e também a “explique para um ET”. Falarei sobre duas delas para que possamos entender um pouco mais o funcionamento, ambas são referentes a fase de descoberta.

Explique para um ET

Imagem com modelo da dinâmica “Explique para um ET” Há um primeiro bloco escrito “escreva abaixo o seu desafio e sublinhe as palavras-chaves. E no bloco de baixo há a frase “reescreva as palavras chaves em post-its e cole-as abaixo, assim como suas definições”.
Explique para um ET da Echos Online

Essa dinâmica consiste em ajudar as pessoas a conseguirem definir melhor o objetivo do que querem fazer, na tentativa de explicar para alguém (ET) que não tem conhecimento nenhum sobre o assunto qual é o funcionamento daquele produto.

Uma vez que o grupo atue no que será o desafio, eles passam a decidir quais são as palavras chaves e também suas respectivas definições, dessa forma a assertividade aumenta e se torna mais fácil saber qual caminho tomar e locais que devem ser explorados para que se possa tentar comprovar/atingir o que está sendo proposto.

Matriz CSD

3 colunas. A primeira está escrita “C — Certezas — O que nós sabemos?”, a do meio “S — Suposições — O que supomos saber?”, a última “D — Dúvidas — Que dúvidas temos?” Arquivo do curso de Design Thinking da Echos Online
Matriz CSD da Echos Online

A Matriz CSD (Certezas, Suposições e Dúvidas) ajuda a mapear o que as pessoas entendem do produto que está sendo projetado/desenvolvido. Dessa forma facilita identificar os locais que precisam ter o foco para comprovação de ideias (principalmente no campo das suposições) e que necessita de investigação mais minuciosa (como no campo das dúvidas). É comum também que ao realizar essa dinâmica, as pessoas agrupem as ideias comuns para que seja possível visualizar com mais facilidade o que todas as pessoas participantes percebem como foco do projeto.

Mas não se engane, o que está dentro da coluna de certezas também precisa ser confirmado para não atuarem somente no campo do achismo.

E de fato, é precioso mesmo esse Design Thinking?

Caso o projeto que eu participo tivesse passado por esse processo é bem possível que não teríamos tido que descartar coisas feitas.

Num mundo ideal todos os projetos teriam etapas de reflexão baseadas nas descobertas e implementações feitas usando as inúmeras ferramentas que essa método usa. Porém, a verdade é que muitas vezes os projetos já iniciam com pressão por parte de clientes e falta de tempo. Assim, inúmeras etapas são simplificadas para que se atinja uma entrega de forma mais rápida.

A reflexão que fica é: será que ser mais rápido é de fato sinônimo de eficiência? Ou será que investir momentos estratégicos para revisitar o que foi descoberto e traçar metas usando todas as contribuições colhidas com o Design Thinking trará resultados mais certeiros?

Talvez tudo dependa da urgência do projeto e de quem está coordenando, mas eu sei que hoje eu me sinto mais preparado para lidar com as adversidades e com as surpresas que encontrarei em minha carreira e onde for possível, tentarei passar pelo processo de Design Thinking.

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Yori L. Galvão Borges
Pretux
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UX e Content Designer apaixonado por tecnologia, graduado em Letras Português/Inglês e um curioso que adora aprender sobre a vida o universo e tudo mais.