Você sabe mesmo qual é a diferença entre UX/UI e Product Design?

Um produto é um organismo vivo, então não esqueça que você pode dar vida ao seus cases acadêmicos/pessoais. Isso pode fazer toda diferença

Rafael Holme
Pretux
7 min readMar 30, 2021

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Existem muitas formas “não ortodoxas” de se aprender qualquer coisa hoje em dia e, na área de tecnologia, os Bootcamps são umas das mais famosas. Isso se deve pelo fato de que neles você aprende metodologias de design, organização, documentação, processos e desenvolvimento, utilizando-as em conjunto com seus colegas e facilitadores a fim de descobrir e/ou resolver os mais variados tipos de problemas. Basicamente você aprende o que, quando e como deve-se fazer algo para chegar a um resultado específico. Você aprende enquanto faz e faz enquanto aprende — soa muito mais legal do que ficar sentado vendo alguém falando na frente de um PowerPoint não é?

Exemplo de board no Miro de um bootcampo online.

Uma ótima recomendação de onde encontrar bootcamps excepcionais com preços mais acessíveis pra quem está começando é a escola How Bootcamps. Lá, realizei o meu primeiro bootcamp de Product Design, graças à comunidade PretUX.

A maioria das pessoas que optam por realizar esse tipo de treinamento são aspirantes da área que desejam aprender de uma forma mais dinâmica e ativa para poder se capacitar o quanto antes para o mercado. Um costume muito comum entre essas pessoas é, além de participar do maior número de treinamentos possíveis, construir cases acadêmicos para estabelecer um portfólio mínimo para começar a se jogar na rede dos recrutadores.

O que devo lembrar fundamentalmente antes de projetar um case acadêmico de Product?

Um fato super importante para não se esquecer durante a criação de um é que produtos, sejam digitais ou não, são como seres vivos — estão em uma constante linha de evolução, mudança e adaptação dia após dia. Porém, enquanto que nos seres vivos os critérios para isso acontecer são condições biológicas como reprodução, hereditariedade e variabilidade genética, nos produtos esses critérios são basicamente fundamentados em KPIs. Com isso, pode-se dar continuidade no ciclo de vida de desenvolvimento do produto (Product Development Lifecycle), mapeando e mensurando dados em tempo real, por meio de análises de dados em geral: google analytics, google optmize, SEO, SEM, hotjar, SQL, MQL, heurísticas de usabilidade, benchmarks e entrevistas com usuários ou stakeholders, questionários online entre outros.

De forma extremamente resumida, esse é o trabalho que você vai ter como Designer de Produtos — algo um pouco diferente dos Designers de UX/UI.

O ciclo de vida do desenvolvimento de um produto, como o o próprio nome diz, é cíclico — não tem fim.

UX/UI Designer vs Product Designer

O UX/UI Designer, muitas vezes, trabalha em cascata, isto é, são dados a ele (ou ele mesmo descobre alguns contextos), objetivos e problemas/desafios de usabilidade de produtos novos ou já existentes. Ele se aprofunda no contexto e nos problemas, idealiza uma solução, materializa, testa, faz os ajustes (se necessário), desenvolve ou aplica um Design system, elabora o protótipo em alta fidelidade, entrega o projeto e acabou.

O Product Designer faz praticamente a mesma coisa, porém há algo que o torna diferente: os processos descritos a cima são realizados periodicamente e com constância, isto é, repete-se o mesmo processo infinitas vezes, com os mais variados tipos de problemas e desafios, tornando o dia a dia do designer uma intersecção constante entre alcançar os objetivos do negócio, a melhor experiência possível para os usuários e a tecnologia disponível para desenvolvimento de tudo isso.

Diagrama da relação entre Negócio, Usuários e Viabilidade Técnica

Ao lado do Product Manager, o objetivo principal desse profissional é encontrar e validar esses problemas e desafios, viabilizar soluções e operações para o processo de materialização da forma mais rápida e efetiva possível (Roadmap e Backlog) aperfeiçoando as principais propostas de valor do produto a cada dia que passa. Junto desse processo, deve sempre acompanhar os KPIs definidos também pelo PM e, consequentemente, acelerar o processo de crescimento da empresa.

Processo de Design de produtos - Semafor

Então, por se se tratar de duas profissões/áreas que são muito parecidas, é comum o erro de se criar um case de UX/UI pensando ser de um produto, ou pelo menos o exibindo como se fosse um.

Um exemplo da diferença entre cases de UX/UI Design e cases de Product Design

Cenário 1 — Um amigo seu está abrindo uma empresa nova, um ecommerce, e você quer projetar o site/app do zero. Você faz o discovery, ideação, materialização, testes, às vezes até o protótipo em alta fidelidade e, finalmente, a entrega final do material para seu amigo e seus desenvolvedores, finalizando a sua parte no projeto. Isso é um case de UX/UI.

Cenário 2 — Um amigo seu está abrindo uma empresa nova, um ecommerce, e você quer ser o responsável de design daquela plataforma não só durante sua idealização e concepção, mas também no gerenciamento e aperfeiçoamento constante e periódico do produto como um todo no decorrer de sua vida no mercado, acompanhando, mensurando e aumentando seu crescimento, encontrando novos problemas e soluções para eles. Isso é um case de Product Design.

Tirar o seu case do papel, literalmente, pode fazer toda a diferença

Tendo em mente que um produto é esse organismo vivo que depende de métricas dos usuários e do business em tempo real para ser constantemente aperfeiçoado, você já deve estar percebendo que boa parte dos cursos por aí não pode te proporcionar essa experiência por si só. Isso porque, geralmente nesses treinamentos, ou você pega um produto já existente para estudar ou cria um produto próprio do zero.

O problema é que quando você pega algum produto já existente no mercado para trabalhar no seu curso, você pode até fazer pesquisa com usuários ou uma desk research aqui outra lá, mas não vai dar acesso à maioria das métricas reais do produto. Não vai te dar contato com a equipe de desenvolvimento da empresa, nem mesmo a de design. Logo, você não estará tendo uma vivência semelhante com a de um profissional de produto da vida real e o seu case vai ficar mais próximo das áreas de UX/UI, mesmo usando metodologias de produto.

E nos casos em que você cria o seu próprio produto no curso, já abre espaço para experimentar uma vivência um pouco mais próxima da real.

Basicamente, se você não desenvolve e lança seu produto pra funcionar no mercado real, com pessoas reais utilizando por um mínimo período de tempo possível, você não conseguirá realizar um trabalho de Product Design 100% completo. Para isso, você deveria aplicar as metodologias que aprendeu de forma periódica e constante durante a existência do produto no mercado. Ou seja: sim, você pode sair da zona de conforto e dar à luz (ou pelo menos tentar) ao seu produto para o mundo real.

Faça umas horas extras no seu curso/bootcamp

Vá um pouco mais além do proposto pelo seu curso. Que tal criar e lançar um produto real mesmo sendo acadêmico ? Lance no mercado, faça com que as pessoas usem-no de verdade, mesmo que seja para um número limitado de pessoas. Ainda que seja um aplicativo para a lojinha de roupas da sua tia. Não é para você montar uma Startup Unicórnio avaliada em bilhões de dólares. Apenas projete um job pessoal, desenvolva e lance o produto no mercado com a mínima estratégia possível e veja o que acontece. Por mais que seu produto não seja um sucesso e seja complexo de se desenvolver, tenha um MVP bem definido.

Hoje já é possível utilizar incríveis ferramentas para se desenvolver sites e aplicações essenciais praticamente de graça e em pouquíssimo tempo, mesmo com pouco ou nenhum conhecimento em programação. Alguns bons exemplos disso são plataformas como WordPress, Webflow ou até mesmo o criador de sites Wix. Em todas essas plataformas é possível implementar e utilizar ferramentas para encontrar métricas qualitativas e quantitativas para suas pesquisas e análises de dados. Além de também ter uma vasta gama de plug-ins, APIs e outras diversas ferramentas para a construção do site em si.

O investimento é praticamente 0 e, sendo assim, você não corre risco de se dar mal, ainda podendo ter uma experiência com design de produto muito mais “fiel”, pois conseguirá acompanhar métricas em tempo real do seu produto no mercado.

Alguns exemplos de aulas e cursos que você encontra de graça no Youtube sem ter muito trabalho:

Agora, se mesmo assim você ainda não consegue colocar seu produto no mercado, não tem problema — você só terá que apresentá-lo de forma clara para que as pessoas entendam suas limitações e contextos. Inclusive, existem algumas perguntinhas que se você responder de uma forma legal no seu portfólio, podem te ajudar a fazer isso. São elas:

  • Qual é o problema que você deseja resolver?
  • Quem são os usuários?
  • Qual foi sua função no projeto?
  • Qual é o seu processo de design
  • Quais são as opções de design e como as decisões são tomadas?
  • Quais são as restrições e limitações?
  • Como validar seu projeto?
  • Qual será o seu próximo passo?
  • Quais são os KPIs de monitoramento?
  • Qual é e como foi definido o Roadmap?

Afinal, o que você achou dessa ideia de lançar seu produto no mercado? Muita loucura?

Os modelos de negócios que parecem os mais impossíveis de se criar são os mais encantadores porquê não há concorrência.

Já ouvi isso em algum lugar 🤔

Lembrando que o intuito principal desse artigo é apenas trazer essa provocação sobre um assunto que está tão presente no meu dia a dia e pode estar também no seu.

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