Um cinema orgulhoso e diverso

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Por Renato Cabral

O cinema LGBTQIA+ nunca saiu de cena. Até quando o código Hayes foi implementado nos anos 30, nos Estados Unidos, gays e lésbicas estavam por toda Hollywood mesmo que de volta ao armário. Estavam todos atrás e frente às câmeras dando o que hoje chama-se sensibilidade queer para grandes clássicos que conhecemos hoje. Mas o cinema mundial não é o cinema estadunidense e infelizmente por vezes tomamos apenas como matriz esse cinema que tem maior alcance mercadológico. O que não o faz pior, muito pelo contrário. É esse cinema midiático que auxilia públicos que nunca assistiriam uma história com a nossa temática a ter acesso.

Mas ao falar sobre a história de quem somos como comunidade é preciso sempre falar sobre diferentes lugares e experiências, afinal somos diversos e apesar de ser algo universal, existem sim universos bem particulares. Apesar de serem os Estados Unidos o berço do que hoje chamamos de Mês do Orgulho, é preciso compreender as diferentes identidades, etnias e culturas que permeiam a nossa sigla em outros tantos lugares.

Por isso, selecionei alguns filmes que ajudam a perceber que Pride pode se chamar orgulho, orgullo , orgueil e 誇り(Hokori). Ah, os filmes não estão na Netflix. Lembrem-se, até mesmo em meio ao streaming de filmes existe um mundo de muita diversidade.

A Paixão de JL (Carlos Nader)

A morte do artista cearense Leonilson nos anos em que a epidemia de AIDS se espalhou pelo mundo foi prematura como outras tantas. Neste documentário o diretor Carlos Nader resgata bem mais do que os diários gravados em fitas cassetes do artista, mas também um jovem apaixonante e intenso que, como diria Drummond, continha o sentimento do mundo. Ao mesclar suas obras e uma colagem de vídeos como em um ensaio visual, Nader traduzir lindamente a dor e a felicidade de ser quem somos.

Disponível no Youtube.

Bixa Travesty (Kiko Goifman e Claudia Priscilla)

Linn da Quebrada. Somente o nome de Linn deveria ser suficiente para qualquer um buscar este documentário vencedor de diversos prêmios internacionais. Artista multifacetada, Linn é uma cantora transexual negra com um corpo político. Uma força da natureza no palco e com suas rimas e tiradas de duplo sentido em suas canções e sua mente reflexiva sobre seu lugar e o lugar dos outros, desconstrução de mitos e estereótipos raciais, classistas e de gênero. Junto a isso os realizadores ainda destacam a cena musical trans de São Paulo com destaque para a também excepcional e companheira musical de Linn, Jup do Bairro.

Disponível no NOW.

Eu, tu, ele, ela (Chantal Akerman)

Chantal Akerman foi uma diretora tão fascinante e com filmes de tons tão autobiográficos que a assistir é como se a encontrássemos em uma constante busca pela sua própria imagem e compreensão através dos filmes que realizava. Neste filme, um dos seus primeiros, ela lida com a minúcia do dia a dia de uma garota (em interpretação de Akerman) após um término com sua namorada. Chantal costumava dizer que nunca pretendia que seus espectadores perdessem a noção do tempo ao assistirem seus filmes e aqui certamente ela cumpre sua promessa. Um filme de ações ordinárias, mas que leva a um reencontro. A delicadeza do slow cinema.

Disponível em Supo Mungam Plus.

Funeral das Rosas (Toshio Matsumoto, 1968)

Nesta mistura audiovisual baseada em Édipo Rei acompanhamos a travesti Eddie e sua amiga transgênero Gonda, no bar em que trabalham em Tóquio e as rivalidades com o dono do local e sua esposa, a travesti Leda. Incluindo momentos em tom documental em que elenco e outros convidados trazem questões relativas à sexualidade, uso de drogas, gênero e a cultura queer local, além do fato de que todas as personagens trans são interpretadas por mulheres trans na vida real. Com reviravoltas e trechos que remetem a um cinema avant-garde, Funeral das Rosas é tão emblemático na história do cinema que foi referência direta para Stanley Kubrick criar a estética de Laranja Mecänica.

Disponível no MUBI e Supo Mungam Plus.

Veneno (Criada por Javier Ambrossi e Javier Calvo, 2020)

Minissérie espanhola que tomou de assalto os espectadores em 2020 ao ser distribuída nos Estados Unidos pela HBO, trata da trajetória de vida da travesti mais conhecida da Espanha e quiçá da Europa, La Veneno. Descoberta por uma repórter que fazia uma matéria sobre prostituição, a figura impactante de corpo feminino escultural poderia hoje ser chamada de um verdadeiro viral de sucesso. Da descoberta acidental na televisão à fama internacional, La Veneno encontrou também o preconceito, a instabilidade e o ostracismo até ser redescoberta por uma jovem repórter transexual e sua fã desde criança, Valéria, que decide escrever sobre o ícone.

Disponível em breve na HBO Max.

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