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e quando o temporal passar?

a gente protestou e aparentemente as coisas estão se resolvendo,mas isso é o suficiente?

Fábio Melo
4 min readJun 27, 2013

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assim que eu li a publicação do Estado de São Paulo sobre a aprovação do projeto que tornou a corrupção crime hediondo dei aquela respirada aliviada, satisfeito de ter feito parte da grande mobilização nacional que clamou por isso. aposto que muitos de vocês também se sentiram assim. passagem de ônibus baixando, PEC 37 sendo derrubada, corrupção virando crime hediondo… “caramba, estamos chegando lá”, eu pensei (e na verdade nem foi bem assim né…).

daí resolvi olhar um pouco o movimento pelas redondezas do meu bairro. no momento em questão acontecia um protesto aqui no Recife e cerca de cinco mil pessoas seguiam para a sede provisória do governo do estado, que por acaso fica bem pertinho da minha casa. eles pedem melhorias para o sistema de transporte público em Pernambuco. claro que o trânsito ficou uma porcaria, restando apenas uma rua como escape para quem vem de Olinda pra Recife e vice-versa.

como não poderia deixar de ser em um cenário de trânsito complicado, todo sinal de gentileza desaparece das pessoas e cada cruzamento vira uma zona de guerra onde o motorista se depara com um gravíssimo dilema: atrasar a própria vida em 5 segundos para dar passagem a outros motoristas ou atrasar em 10 minutos a vida de todo mundo que quer passar . claro que eles escolhem economizar 5 segundos.

coisinhas assim acontecem todo dia e dizem muito sobre o país que ainda somos, não se enganem. por outro lado, é também nessas coisinhas que residem as mudanças que precisam acontecer para virarmos o país que queremos ser.

se outras PECs forem derrubadas, se Renan for deposto do senado, se Feliciano sair da presidência da comissão de direitos humanos, se tudo que a gente estiver reivindicando for atendido, no final nós ainda seremos um povo que avança o carro para que o outro não passe no cruzamento. mas não precisa ser assim. se tem uma coisa tangível que esses protestos fizeram foi mostrar para todo mundo que definitivamente não precisa ser assim.

sobre educação e dia-a-dia

agora lutamos diariamente para pressionar e/ou tirar do poder aqueles corruptos que, por preguiça e ignorância, nós mesmos ajudamos a eleger. fica bem evidente aí um grave problema de educação. é a tecla mais batida de todas, e não sem razão. essa culpa é muito nossa.

vamos cobrar educação então”, e lá está devidamente aprovada na câmara dos deputados a proposta de reverter os royalties do pré-sal para a educação (proposta ainda precisa passar pelo senado, que certamente aprovará). não foram os 100% prometidos pela presidenta em rede nacional, e sim 75%, o que representa um investimento de 280 bilhões de reais ao longo de 10 anos. os outros 25% vão para a saúde. mais uma vitória.

o problema é que as escolas construídas/reformadas, os professores contratados/capacitados e os salários pagos/melhorados não serão suficientes para mudar país sozinhos. educação não é só o que acontece nas escolas e faculdades, educação também se aprende em casa, educação também se faz no dia-a-dia.

o jeitinho brasileiro precisa mudar junto com o cenário político e social. o conformismo em que o brasileiro se encontrava antes do protesto também é fruto dessa falta de educação.

quando o temporal passar, nós não podemos mais ser o país que dá 1 real para o cobrador para passar por baixo da catraca do ônibus. não podemos mais ser o país da carteirinha de estudante falsa para pagar metade em show. não podemos mais ser o país que ocupa o caixa de pequenas compras no supermercado com um carrinho enorme. não podemos mais ser o país que ~dá um jeitinho~ de continuar recebendo o seguro desemprego mesmo já estando trabalhando.

se tudo isso está errado, a gente tem que usar os caminhos corretos para combater. corrupção não é algo que só acontece no círculo dos ricos e poderosos, e sim algo que está a nosso alcance todos os dias. nós não queremos ser isso. essa tem que ser a nossa mudança. precisamos ser o exemplo para as próximas gerações, pois eles é que vão viver no novo Brasil. eles é que precisam VER que a cobrança popular e democrática dá resultado, que tudo precisa ser questionado e que eles podem mudar o rumo das coisas.

quando tudo isso passar, nós precisamos ser o homem maior. a próxima geração vai ser mais informada, mais desconfiada e mais disposta que a nossa. eles terão muito mais poder que a gente para mudar o país, e é nosso papel deixar o melhor legado para esse pessoal.

essa mudança é só nossa e de mais ninguém. muda brasil.

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