Uma breve reflexão
Sobre o trabalho e o ideal de nação
Por mais técnico que seja o que faço profissionalmente (planejo e gerencio projetos de desenvolvimento web), é absolutamente impossível que eu me sinta completo profissional e pessoalmente sem a expressão humanística.
A tecnologia nos serve, mas a quais propósitos individuais e coletivos? Os dados que armazenamos em bancos; as mídias que utilizamos: estão a serviço de que interesses?
Somos governados, mas por quem? Geramos informação ininterruptamente, que é utilizada por quem nos domina. E somos dominados por abrirmos mão do raciocínio crítico. Passamos — nós, O Povo — horas a fio diante de novelas que se repetem sucessivamente — os mesmos dramas, o mesmo maniqueísmo; enredos pensados por senhores e senhoras sexagenários que, muito ao contrário do que manda a sua idade (segundo a qual deveriam ter muito mais pensamento crítico a nos inspirar), se aliam cada vez mais ao engessamento ideológico, imposto à sociedade, por um grupo de senhores oligarcas…
Estas novelas não são apenas as televisionadas: a obsessão em acompanhar a vida íntima do outro em redes sociais ou em noticiários sobre a vida privada daquela celebridade preferida: o filho da Angelina Jolie (que não deveria precisar ser “resgatado” de sua terra); o drama e superação do garoto que treina descalço (que deveria poder comprar seu par de tênis, em uma sociedade justa); o julgamento de uma parricida; o ex-membro de grupo musical que, agora, é viciado em drogas.
E então lembro da frase do Al Gore, no livro “Ataque à razão”: “em que isso fez adiantar a nação?”…
Não é de estranhar que uma nova geração represente o que há de mais incômodo aos que detêm o poder, bem como aos que, não o possuindo, raciocinem o suficiente para ver o absurdo: manifestantes (aos quais se misturam, sim, criminosos, mas não são, nem de longe, maioria nessa turba) que estão cansados de não ser ouvidos protestam contra a sua condição social, mas incapazes de alimentar ideais que alcancem um pouco além dos seus problemas quotidianos: “passe livre”; “menos impostos”.
São demandas justas e autênticas. Mas o ideal de nação, que é pensamento exclusivamente de longo prazo, é semente a ser plantada para as gerações futuras, das quais nós também faremos parte. Todo e qualquer profissional deve analisar a sua profissão com estes olhos: o do trabalho enquanto função social e política.
Construa uma Nação, e todas as suas demandas justas e autênticas serão atendidas. E não só as suas, mas as de todos. Qualquer coisa que fuja a isto, é caminhar de lado.