(Foto: Clarice Almeida/PI)

Atraentes e traiçoeiras

Quedas d’água em parques naturais revelam belezas, histórias e perigos

Primeira Impressão
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15 min readDec 12, 2021

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por Clarice Almeida

A natureza também pode ser competitiva. Dois lugares na região do Vale do Caí provam isso. Do alto de seus 30 metros de queda d’água, a Cascata Vitória mostra-se imponente e desafiadora. Com metade dessa altura, 15 metros, a Cachoeira Maratá — batizada com o mesmo nome da cidade onde refresca a população e atrai turistas — chama a atenção pela beleza com que movimenta suas águas e as oferece para banhar seus visitantes.

Maratá é uma pequena cidade, de cerca de 2,5 mil habitantes, localizada no Rio Grande do Sul, que contou com a sorte de ter duas belas áreas para fomentar o turismo e oferecer lazer aos seus munícipes. No passado, enquanto a Cascata fazia surgir energia — através de uma usina hidrelétrica lá instalada — para abastecer poucas casas do ainda distrito de Maratá, a Cachoeira era uma espécie de clube social, no qual famílias se reuniam para promover distração às crianças.

Já na década de 1990, Cascata e Cachoeira — diferentes por sua estrutura natural — passaram a ter a mesma finalidade: encantar seus visitantes. Com a usina há anos desativada, o maquinário foi retirado. No local foram deixadas apenas algumas peças, que remetem ao passado gerador de energia. Ambas as áreas foram alçadas ao status de parque, passando a serem chamadas de Parque da Cascata Vitória e Parque da Cachoeira Maratá. Ecônomos tomaram para si a responsabilidade de manter a ordem e promovem as melhorias necessárias para receber o público — não que seja preciso fazer muito, pois a “decoração” fica por conta da própria Mãe Natureza.

(Infografia de Milena Silocchi sobre foto de Érica Moraes/PI)

Contudo, os gestores dos parques se dedicam a cuidar da área balneável como se fosse uma extensão de suas casas. Em ambas, o visitante é recebido em uma espécie de túnel verde. Na Cascata Vitória, as atrações são pensadas para adultos e crianças. Já na chegada, o playground e a pista de skate convidam os mais jovens a gastar energia. Alguns adolescentes reclamam que o sinal de telefonia não é 100% eficiente no local, mas aí eles deixam os jogos on-line para a volta pra casa e passam a experimentar sensações diferentes “no meio do mato”.

A trilha até a parte de cima da Cascata é uma das grandes atrações. Mas o friozinho que dá na barriga na hora de passar pela pinguela também pode ser considerado algo muito especial do local. Os mais corajosos não abrem mão de passear de “caíco” — como são chamados os caiaques no local. Mesmo off-line, as selfies eternizam o momento. Mais tarde, já no perímetro urbano, elas são publicadas para exibir o quanto foi prazeroso estar lá.

Enquanto a garotada se diverte em segurança, os adultos aproveitam a sombra refrescante das árvores. Gotículas de água que emanam da Cascata fazem a sensação térmica se tornar algo extremamente relaxante. A temperatura agradável do parque permite que as famílias desfrutem de forma ainda mais intensa a estada no local. Alguns optam em formar a tradicional roda de chimarrão do povo gaúcho, sentam-se em suas cadeiras de praia e aproveitam para colocar em dia os assuntos da semana.

(Foto: Érica Moraes/PI)

Há quem prefira fazer uso dos espaços com mesas e cadeiras em cimento, ofertados pelo parque, para preparar um churrasquinho. É comum ver que, entre alguns casais, enquanto os homens espetam e salgam a carne, claro, degustando uma cerveja bem gelada, ou uma caipirinha de limão, as mulheres ficam de olho nas crianças e aproveitam para comentar sobre a aparência e a forma como se vestem os demais frequentadores.

Quem também fica atento aos visitantes é Sérgio Schneider, ecônomo da Cascata. Mas no caso dele a atenção redobrada é para evitar que algo saia da rotina no local. Ele cuida do Parque como se fosse sua própria casa e quer colocar em prática alguns projetos que sonha para a área. Atualmente, num ambiente rústico e encantador, está instalada a lancheria do Parque da Cascata. Nela são comercializados alimentos e bebidas. Porém, Schneider quer dar mais uma opção de escolha aos visitantes, e para isso ele pretende disponibilizar um restaurante.

(Foto: Clarice Almeida/PI)

Quem quiser, também poderá ir até lá para se exercitar, pois também faz parte do plano dele instalar equipamentos de academia ao ar livre. Comer bem e fazer atividade física é fundamental para a saúde, mas o ecônomo quer ainda oferecer a oportunidade de os visitantes terem uma “aula” de história e aprender mais sobre a cultura dos imigrantes alemães que povoaram aquela região. “Quero levantar as ruínas da usina, vou fazer um deck e colocar bancos lá”, conta o administrador.

Ao lado da igreja da localidade de Vitória, Sérgio possui cerca de sete hectares de terras. Lá existe um prédio que deverá ser reativado para visitação. A ideia também contempla a construção de outras estruturas, como uma casa atafona — local onde o trigo passava por vários processos até ser transformado em farinha — e uma serraria. A intenção é mostrar aos turistas como era realizado parte do trabalho do colono. Para que essa visita tenha ainda mais emoção, Sérgio planeja construir uma trilha ecológica para ligar a propriedade ao Parque da Cascata. O deslocamento deverá ser feito a pé sobre os trilhos do trem. A meta é transformar tudo isso em realidade até daqui a dois verões, e com isso aumentar o número de visitantes interessados em conhecer o Parque da Cascata.

(Foto: Érica Moraes/PI)

Todos os anos, turistas das mais variadas regiões do Estado visitam a Cachoeira e a Cascata para conferir de perto tudo que se ouve, e lê, sobre esses espaços. O que poucos sabem é o motivo de uma ser classificada como cascata e outra como cachoeira. De uma forma singular, pode-se dizer que o que difere ambas é a altura e o volume de água, explica o técnico em meio ambiente André Venâncio Alves. A cachoeira, com seu volume menor e menos intenso de água, move-se em um ritmo calmo. A água serpenteia entre as pedras, que formam pequenos desníveis de solo, como se estivesse alternando passos de uma coreografia musical. As cachoeiras podem se estender por vários quilômetros, como é o caso da cachoeira Salto do Yucumã, no Parque Estadual do Turvo, na fronteira gaúcha com a Argentina. Ela tem quase dois quilômetros de extensão e quedas de 12 a 15 metros de altura.

A cascata, por sua vez, é formada por maior volume de água e altura. Nela tudo é intenso. Quando “nervosa” — em consequência das chuvas que elevam ainda mais sua quantidade de água –, seu som estrondoso chega a assustar quem está por perto. Até mesmo longe dela é possível escutar e “mergulhar” na emoção que o ruído provoca. Misteriosa e atraente, é difícil resistir aos seus encantos.

(Aquarela: Carolina Ambros/PI)

Em viagem pelo Vale do Caí, Maria Helena Gautério, moradora de São José do Norte, na região sul do estado, adorou o passeio pelos parques naturais de Maratá no início da primavera. “É muito lindo. Esse barulho da água caindo transmite uma paz pra gente”, diz Maria sobre o que sentiu ao estar na Cascata Vitória. A turista afirma que é difícil definir qual dos dois parques oferece mais beleza. Sombra e água fresca não faltam. Para ela, complicado é decidir onde passar mais tempo.

É difícil olhar a cachoeira e não associar a imagem da água branca, com textura similar à de uma renda, a um véu de noiva. Graciosa, a água cai, sutilmente, espalhando-se e formando uma piscina natural, como se fosse o formato circular do véu, visto por trás da noiva. Já a Cascata Vitória parece menos delicada. Rodeada por paredões rochosos, ela mostra que não está para brincadeira. Por todo o seu histórico de vidas perdidas, a impressão transmitida por ela é de haver algo em que se deve prestar muita atenção. É como se nas entrelinhas de sua história houvesse um recado para quem se arrisca a desafiá-la. Se fosse possível decifrar o som emitido pela queda d’água, talvez se ouviria: “Não me desafie. Sou mais profunda do que você pensa e posso te engolir”.

(Foto: Érica Moraes/PI)

Moradora da cidade desde a década de 1960, a professora aposentada Neli Gloria Plass, de 79 anos, admira e respeita a imponente Cascata Vitória. Ela até já perdeu as contas do número de vidas que lá foram deixadas por pessoas que acreditavam que saber nadar seria suficiente para passar pelos pontos mais fundos de Vitória.

Pequenos álbuns de fotografias antigas e um cigarro entre os dedos ajudam a professora a contar as memórias guardadas sobre os parques. “Dizem que dentro da cascata ainda existem restos da usina. Não fui lá olhar porque são 30 metros e meus ouvidos não aguentam altitude e o barulho”, diz Neli de uma forma que quem ouve não consegue distinguir se ela fala sério ou se está brincando. Prestes a completar oito décadas de vida, a bem-humorada senhorinha de cabelos grisalhos e sorriso fácil é testemunha de muitos acontecimentos que marcaram o que são hoje a Cascata Vitória e a Cachoeira de Maratá.

Numa tarde de sexta-feira de outubro, Neli dedica um tempo a partilhar lembranças do próprio passado e de várias outras pessoas que por ele passaram. Além de alfabetizar e levar conhecimento religioso, através das aulas de Ensino Religioso, a professora treinou dezenas de pessoas da cidade a nadar. “Hoje tem muita gente, com mais de 60 anos, que diz que aprendeu a nadar comigo. Devo ter ensinado, pelo menos, umas 40 pessoas a nadar”, relata. Pequena no tamanho, com seu 1,50m de altura — ela garante que era mais alta, mas a idade a “encolheu” –, Neli se mostra grandiosa na generosidade que sempre teve para com seus alunos e por tantas outras pessoas que dela precisaram.

Natural de São Sebastião do Caí e dona de uma memória de despertar inveja em muita gente, Neli lembra da primeira vez que foi até a Cachoeira de Maratá. O ano era 1969. Ela havia ido ao município para conhecer o local onde iria se instalar, com o marido, pelo período de seis meses. Logo, quis conhecer as belezas naturais do local onde passaria a residir. “O acesso era praticamente um trilho largo, não chegava a ser uma estrada. Mas sempre foi um lugar bonito”, recorda-se. Quando se mudou para Maratá, ir à Cachoeira virou rotina. Duas horas depois do almoço, Neli — que ainda não tinha filhos — e um grupo de vizinhas e seus rebentos se deslocavam para refrescar o calor das crianças e relaxar suas próprias mentes no silêncio em meio à mata que abraça a queda d’água. “Todas as crianças que foram comigo aprenderam a nadar”, sublinha a professora aposentada.

(Foto: Clarice Almeida/PI)

Ir à Cachoeira era considerado um evento. O momento mais esperado pela garotada era o da “merenda”. As mães preparavam lanches e sucos que, a uma certa hora da tarde, eram distribuídos aos pequenos. Todos saíam da água correndo para se alimentar. Depois de comer, eles tinham de esperar algum tempo até entrar na Cachoeira novamente. “Faz mal entrar na água de barriga cheia, todos sabem disso”, faz questão de dizer Neli.

Na década de 1970, Emílio Gretchen, um mecânico da cidade, resolveu empreender. Aos finais de semana, ele levava refrigerante e gelo em seu carro para vender a quem estivesse na Cachoeira. Segundo a memória de Gloria, as crianças adoravam uma “gasosa”, como eram chamados os refrigerantes naquela época.

Logo ela descobriu que também poderia ir à Cachoeira para se distrair de outra forma. “Íamos pra lá pra ver o trem que vinha de Caxias, às quatro e meia. A estrada era alta e a gente conseguia, através da vegetação rala, enxergar ele passando”, detalha.

Apaixonada por ensinar, certa vez chamou a atenção da professora o lamento de dois jovens, filhos de agricultores, que já tinham ultrapassado os 15 anos de idade sem aprender a nadar. A dupla cresceu tendo como brinquedo de infância o cabo da enxada, usada para ajudar suas famílias no trabalho na roça. “Perguntei pra eles que horas colono começava a trabalhar, e eles me informaram que era depois que nasce o sol. Então, disse que poderiam ir para a Cachoeira depois do meu horário de trabalho, à tarde”, e assim foi.

A dupla Inácio Roveder e Sérgio Vier ia para a Cachoeira de bicicleta cerca de duas horas depois do almoço. “Eles desciam a lomba correndo pra chegar logo e entrar na água”, lembra Neli. Tiveram aulas de natação com ela ao longo de uma semana. O método usado para orientá-los como se portar na água foi bastante simples, afirma a instrutora: “Eu segurava eles pela ‘bariga’, eram magrinhos”, conta com olhos vidrados — como se estivesse novamente vendo a cena — e sotaque puxando apenas o som de um “R” — típico da ascendência alemã.

Quando penso que Neli vai dar mais detalhes sobre sua forma de ensinar a nadar, subitamente, ela levanta-se da cadeira e segue até a geladeira falando sobre suas recordações relacionadas à Cachoeira. Ao abrir a porta do eletrodoméstico, abaixa-se como se fosse pegar uma jarra d’água — o que seria natural para hidratar-se naquele calor –, mas nada disso. “Quer pudim?”, oferece cheia de entusiasmo. Pudim é um dos meus doces preferidos, respondo.

A professora intercala informações sobre a receita do pudim, que segundo ela leva um ingrediente especial — do qual realmente pude sentir a presença já ao provar a primeira colherada das duas generosas porções que eu mesma pude servir. O elemento-surpresa do pudim é suco de laranja, constato. “Aqui em casa é assim, a visita se serve. Se ela servir pouco e ficar com vontade de comer mais, a culpa é dela. Se servir muito e não gostar, a culpa também é dela”, brinca a acolhedora vovó.

Neli não se serve do doce. Pergunto o motivo e ela diz que, lamentavelmente, é diabética. Ela acende mais um cigarro e volta a contar sobre o passado. Mas, antes, revela que há 20 anos havia parado de fumar, só que a pandemia despertou a ansiedade que fez o vício retornar, junto a uma tosse de causar preocupação. Ela volta à cadeira e a conversa retorna ao foco inicial.

(Foto: Érica Moraes/PI)

Foram muitos os alunos de natação da professora Plass, mas alguns marcaram por motivos bastante pontuais. A máxima de que nunca é tarde para aprender faz parte dessas razões. “A pessoa que mais gostei de ter ensinado a nadar foi a Norma Viebeling. Ela aprendeu a nadar depois dos 42 anos de vida. Ensinei toda a família dela, os três filhos, menos o marido”, acrescenta. Neli não gosta de usar a palavra orgulho ao se referir sobre o que sente por ter ensinado tantas pessoas a ler, a escrever, a nadar e, de certo modo, a viverem mais felizes. “Fiz porque gostava”, afirma.

Na Cachoeira Maratá, a própria natureza fornecia os equipamentos para as aulas de natação. Troncos de árvores caídos e pedras eram usados como trampolins. A criatividade de Neli foi fundamental para criar o “processo” de ensino de natação. “Assim que a criança aprendia a nadar com bastante desenvoltura, eu ensinava ela a mergulhar. A gente atirava uma latinha dessas de conserva, cheia de pedras, no fundo da cachoeira, e eles tinham que buscar. Na parte de cima ficavam os mais experientes. Faziam um círculo e desciam junto pra ver se estava tudo bem com o outro, era a segurança. Se acontecesse alguma coisa, ele era trazido pra cima pelos outros. Nunca aconteceu nada”, explica. Já sobre quem não foi seu aluno, Neli não pode dizer o mesmo.

“Vi um rapaz entrar na água achando que era raso, ele entrou e afundou. Não sabia nadar. Uma aluna minha, que estava perto, passou a mão nele e trouxe de volta pra cima, foi a sorte dele. Teve um outro que morreu e disseram que fui eu que ensinei ele a nadar, mas não foi. Aluno meu sabe o que pode e o que não pode fazer na água”, diz Neli.

A corajosa professora aprendeu a nadar ainda menina. Nas águas do Rio Caí, na cidade de São Sebastião do Caí, uma amiga chamada Dalva a instruiu a desafiar as turvas águas do manancial, e desde então ela se apaixonou por nadar e por passar esse conhecimento adiante. Certa vez, Neli ousou ao tentar fazer a travessia do Rio Jacuí, no município de Triunfo, mas ao ouvir o som de um navio se aproximar desistiu, no meio do trajeto de quase um quilômetro. Para ela, bom mesmo é nadar na Cachoeira.

(Fotos: Érica Moraes/PI)

Embora a queda d’água mais vultuosa de Maratá se localize no Parque da Cascata Vitória, Neli sempre preferiu frequentar a “concorrente”, ou seja, a Cachoeira. Quando os filhos Gustavo e Valéria Plass nasceram, começaram a ser levados à Cachoeira pelos pais. O filho aprendeu a nadar aos sete anos. A menina, Néca — como carinhosamente é chamada até hoje –, deu suas primeiras braçadas na água aos quatro anos. “As crianças gostam mais de cachoeira, ela encanta. A outra é mais perigosa”, avalia.

A professora está correta, o perigo é real devido à profundidade e à altura. Contudo, existe nos dois pontos turísticos da cidade, principalmente para aquelas pessoas que se arriscam e desobedecem aos limites estabelecidos para mergulho. Muitas vidas já foram perdidas, em ambos os locais. A última morte foi a de um jovem, de 28 anos, morador do Vale do Taquari. Numa quente tarde de janeiro, ele foi até o Parque da Cascata da Vitória aproveitar a folga com amigos.

O afogamento foi registrado, involuntariamente, por Douglas Modzelan, de 29 anos, morador de Brochier, cidade vizinha a Maratá, que estava no local produzindo conteúdo para seu canal no YouTube. “A parte da filmagem eu já tinha feito. Estava tirando fotos e foi nesse momento que a minha mãe gritou que ele não estava brincando, estava se afogando, atrás de mim. No que olhei, ele já tinha afundado”, recorda sobre aquele dia 6 de janeiro de 2021. “O cara afundou no meio daquela água e eu não pude fazer nada”, lamenta o youtuber.

Douglas afirma que ouviu o ecônomo do local dizer várias vezes ao grupo que não deveria ultrapassar a boia que estabelecia o limite, mas os avisos foram ignorados. O local só tinha presença de salva-vidas aos finais de semana, banhos em dias de semana não eram recomendados. “Durante todo o tempo em que eu estive filmando, o ecônomo do parque, de tempo em tempo, orientava o pessoal, que estava bebendo lá, pra que não entrasse na água e, se entrasse, não passasse dos limites da boia”, conta. “Eu entrei na água, o limite da boia é suficiente para tomar um banho tranquilo. Eu tenho 1,80m e estava em pé no limite da corda com a água no pescoço. Já o limite da boia é muito fundo”, avalia Douglas. “Não seguir regras foi o que ocasionou a morte do cara, que tinha praticamente a minha idade. O povo precisa ter respeito às leis e regras. Foi uma imprudência”, opina.

A tragédia interrompeu um período de sete anos sem registros de mortes por afogamentos na cidade. É como se a “disputa” entre Cachoeira e Cascata não ficasse só em qual é a mais bela. O último óbito havia sido registrado no dia 2 de fevereiro de 2014, no Parque da Cachoeira de Maratá. A vítima foi um citricultor da região. Ele saiu de casa sozinho e desapareceu. Começava a escurecer quando os familiares, sem conseguir falar por telefone com o rapaz, saíram à sua procura. Eles foram até o parque e, no local, encontraram a moto, com capacete, telefone, carteira, tênis e outros pertences trancados no baú. O corpo apareceu somente à noite, boiando nas águas da Cachoeira.

O que se ouve sobre os afogamentos, em ambos os parques de Maratá, é que as águas foram desrespeitadas e cobraram seu preço por isso. Quem se deixou envolver pelas belezas sem perceber o risco que isso significa, acabou pagando com a própria vida. Já aqueles que sabem aproveitar o que os locais têm de melhor, sem desafiá-los, garantem que um dia irão voltar para viver novas histórias e gerar muitas lembranças, que ficarão registradas em fotografias e armazenadas na memória.

(Fotos: Érica Moraes/PI)

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