Educação

Descaso e transtorno na educação pública

No início deste ano, a Secretaria Estadual da Educação fechou seis escolas da rede pública de ensino na capital e com isso surgiram novos transtornos para crianças, jovens e seus familiares

Ricardo Morais
Olhares Plurais

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Entrada da Escola Alberto Bins / Foto: Ricardo Morais

N o primeiro semestre deste ano, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), abriu uma solicitação de fechamento de seis escolas estaduais na capital gaúcha. As escolas Alberto Bins, Bejamin Constant, Oswaldo Aranha, Doutor Miguel Tostes, Marechal Mallet e Plácido de Castro não receberam novas matrículas no ano letivo de 2018. O secretário estadual de educação, Ronald Krummenauer, afirma que essa medida se deve pela redução no número de matrículas dessas escolas e também pela queda da natalidade infantil no Estado nos últimos anos.

Transtornos

A Escola Alberto Bins, localizada no bairro Santa Tereza na Zona Sul da capital, afirma que cerca de 140 alunos que estavam matriculados tiveram que ser transferidos para outras escolas públicas da cidade. Alguns anos antes, o colégio estava tendo melhorias como, por exemplo, a criação de um laboratório de informática, pintura na sua fachada e melhorias na rede elétrica e hidráulica. Entretanto tinha problemas como grama alta, goteiras e falta de funcionários

A vice- diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Vila Tronco, abriu uma denúncia no Ministério Público por negligência do estado, por que depois que a escola Alberto Bins fechou, nenhum órgão público do estado fiscalizou a estrutura do prédio, e com isso, o prédio é invadido e depredado todos os dias.

Logo após seu fechamento oficial, em 15 de julho deste ano, a escola começou a ser invadida e depredada. Janelas foram quebradas, portas caíram, forros foram arrancados, paredes pichadas e fios elétricos e caixas de água furtados. Além disso, por não ter funcionários para manter a estrutura da escola limpa, ela acabou sendo foco de mosquitos da dengue e de animais silvestres, como por exemplo, cobras e lagartos, por conta da grama alta e pneus velhos deixados no pátio. Outra coisa que assusta os moradores do em torno é que a escola se transformou em ponto de tráfico de drogas e abrigo para moradores de rua.

Pátio da Escola Alberto Bins que fica ao lado da Escola Municipal Vila Tronco / Foto: Ricardo Morais

Por conta do fechamento da escola, muitas famílias que tinham seus filhos matriculados tiveram que se deslocar para colégios que ficassem próximos. Algumas dessas famílias, no entanto, não tiveram a sorte de matriculá-los em outras escolas do bairro, como é o caso de Lúcia Priscilla Almeida, de 30 anos, que só conseguiu matricular sua filha Thayssa, de 7 anos, na Escola Estadual Presidente Roosevelt, localizada no bairro Menino Deus, que fica cerca de três quilômetros de sua residência. Durante duas semanas a menina ficou matriculada nesta escola. E depois sua mãe conseguiu fazer a transferência para a escola que fica em torno de duas quadras da sua casa, Guerreiro Lima. Mas, infelizmente, a menina teve que ser transferida mais uma vez por conta da guerra do tráfico na região.

Para conseguir a terceira transferência de sua filha, Priscilla teve que abrir uma solicitação na Seduc para que sua filha fosse matriculada na escola Venezuela, que fica a três quadras de sua casa.

Ações sociais

A associação de moradores do bairro Santa Teresa antes do fechamento da escola, fez um projeto de revitalização para mostrar para Seduc o quanto a escola é importante para o desenvolvimento de crianças e jovens da comunidade. Foram feitos grafites na fachada, melhorias na estrutura, peças de teatro para as crianças, campetições de Hip Hop, entre outras ações. Entretanto, a secretaria afirmou a comunidade que é inviável à reabertura da escola.

Reunião da Associação de Moradores / Foto: Michael Rodrigues

De acordo com um dos coordenadores da associação, Michael Rodrigues, foi solicitada uma audiência pública, onde foram representados pela vereadora Sofia Cavedon (PT) e pelo deputado Tarcísio Zimmermann (PT) para mostrar novamente à secretaria o quanto a escola era importante para comunidade, mas a secretária adjunta não compareceu a audiência pública. “Fizemos um mutirão com os moradores para revitalizar a escola, além das assinaturas legais solicitadas, mas foi tudo em vão” , lamenta Michael.

Grafite na fachada / Foto: Michael Rodrigues
Batalha de Hip Hop / Foto: Michael Rodrigues

Michael também diz que, nos últimos anos, as turmas na escola estavam diminuindo constantemente, até que no início de 2017 já não havia turmas de Ensino Médio, e no Ensino Fundamental apenas havia sete turmas na escola.

Frente parlamentar

No final do primeiro semestre deste ano, a secretaria publicou no Diário Oficial do Estado o fechamento de mais dez escolas públicas: Luciana de Abrel (Santana); Infante Dom Henrique (Menino Deus); Dom Pedro (Glória); Irmão Pedro (Floresta); Apeles Porto Alegre (Santana); Rodolfo Ahrons (Rubem Berta); Padre Rambo (Partenon); Padre Teodoro Amstad (IAPI); Maria Tereza da Silveira (Bela Vista); e os Núcleos de Educação de Jovens e Adultos (EJAs). Entretanto, logo após a divulgação, foi aberta pela deputada estadual Juliana Brizola (PDT) uma Frente Parlamentar que está tentando impedir o Governo do Estado de fechar essas escolas. Ela conta também com o apoio do Sindicato dos Professores (CPERS) e com associações estudantis como União da Juventude Socialista (UJS) e a União Nacional dos Estudantes (UNE).

De acordo com a deputada, é um ato inconstitucional do Estado fechar escolas que têm plena condição de continuar atendendo os alunos e sua comunidade. A Escola Luciana de Abreu, que tinha risco de ser fechada no final do ano letivo, saiu da lista graças ao apoio da mídia e da comunidade escolar do bairro que se manifestou com força nas ruas. A deputada declarou que, no momento, ainda não obteve nenhum sucesso, mas a frente parlamentar vai continuar em andamento. “Não podemos deixar que essas escolas fechem, vamos continuar lutando” , diz deputada.

Ricardo Morais

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Ricardo Morais
Olhares Plurais

Estudante do curso de jornalismo, apaixonado pelos fatos e por transmitir a verdade para a sociedade.