Primeiras lições…?

Fernando Alves Medeiros
Primeiras Lições de Poesia
2 min readApr 26, 2019

Por muito tempo, levei a sério as resenhas que fazia. Achava que, o que fazia, era crítica, na acepção gloriosa da palavra.

Por muitos anos, eu me deixava levar por uma idealização do crítico — essa entidade autoritária, acima de homens e obras, que enxergava as mínimas engrenagens das criações artísticas e as iluminava como potentes holofotes.

Mas hoje percebo que, o que fazia, era algo muito distinto. Algo como um pensar alto, como um Montaigne à roda do quarto. Caminhar pelas coisas com o sentimento e a praticidade de quem observa, de quem se permite fazer associações livres de ideias e se deixar levar por essas coisas, ideias e associações.

E acho que é um pouco desse espírito que tento retomar nestas Primeiras Lições de Poesia.

Manuscritos de Walt Whitman (1819–1892) para “Come, said my Soul”

Por caminhar em terra pouco objetiva, os comentários reunidos nesta página dizem mais de seu autor que do seu “objeto”. Criticamente, os comentários daqui dizem mais respeito à relação que se estabeleceu em algum instante entre leitor e livro, poeta e poesia (dos outros, inclusive), do que de “objetos” estanques.

Como um escritor empírico que caminha no meio das vozes do nosso tempo e registros do passado, meus comentários são instantâneos, polaroides. São tomadas de posição — tomadas ainda que frágeis, inacabadas e momentâneas.

O pressuposto por trás dessas Primeiras Lições é que toda arte é um gatilho. Seja ela boa ou má. Por ser gatilho, penso que a arte pode ser respondida com arte. Às vezes, muita gente estabelece limites discutibilíssimos e idiossincrásicos para definir ou estabelecer aquilo que mereça o epítome de arte — do lado de cá, é arte; do lado de lá, não. Do lado de cá, Rimbaud. Do lado de lá, Rambo.

Eu tento analisar sem muita rigidez, mas com elasticidade. Embora analisar seja uma palavra muito forte para o que se propõe aqui. Até mesmo na indústria cultural — aquela mais “bagaceira”, comprometida até a tampa com o sucesso imediato — surgem artesãos com cara própria, com coisa boa para se dizer e que funcionam, quer com consciência disso quer não, como eficazes antenas que captam o espírito de uma época.

Ora, num tempo em que se exige ter todas as respostas para todas as perguntas, soa estranho escolher atravessar terrenos movediços se equilibrando apenas com a intuição, a paixão, uma reflexão mais circunscrita no campo afetivo.

Esta página é mais um caleidoscópio de gostos e sensações, inclinações e dúvidas de quem se vê como aprendiz do que qualquer outra coisa. É um caderno aberto de primeiras lições de poesia, nada além disso.

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