MAD MAX: Estrada da Fúria (Fury Road, 2015)

Roberto Honorato
Primeiro Contato
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4 min readMay 15, 2017

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Até hoje tenho em fita cassete a primeira trilogia Mad Max. Lembro de assistir com meu pai sempre que possível (não era simplesmente por ter poucas fitas para assistir, mas por amar a obra com todas as minhas forças), de berrar “dois homens entram, um homem sai” e cantar “We don´t need another hero“, assim como nos comerciais do SBT, quando alguém começava a debater ou brigar por qualquer coisa e lembro de querer sempre mais daquele mundo.

Três décadas depois, George Miller, o mesmo mestre por trás da trilogia original, decidiu revisitar este universo. Todos sabemos que a palavra “revisitar” pode ser assustadora, principalmente pela péssima experiência que temos muitas vezes com remakes, mas neste caso valeu e muito a pena. Não foi apenas o melhor Mad Max feito até o momento, foi um dos melhores filmes (se não o melhor) do ano e uma aula de como fazer cinema de ação de primeira.

Nos últimos anos, sofremos com incontáveis filmes do gênero sem qualquer personalidade, sendo entupidos de CGI, atuação ruim, carisma inexistente e ação — que deveria ser, no mínimo, algo a se considerar — completamente rasa, sem emoção e dispensável. Felizmente, assim que terminei de assistir Mad Max: Estrada da Fúria, entrei em um estado de espírito que só pode ser resumido em pura felicidade e satisfação

Não quero detalhar demais a trama para não estragar algumas surpresas, mas tudo que posso dizer é que Max (Tom Hardy), mais uma vez, se encontra em uma perseguição frenética em meio a um mundo pós apocalíptico e sem esperança que briga por gasolina e sofre com a escassez de água. Fugindo do ditador Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), temos a Imperatriz Furiosa (interpretada magnificamente por Charlize Theron), que procura por salvação. Isso rende um longa cheio de tensão, do início ao fim.

Planejado para ser uma sequência de perseguição contínua, Miller decidiu começar o projeto pelo storyboard e desenvolver o roteiro em cima dele. Este formato fez com que a trama fosse executada de forma dinâmica e o desenvolvimento de personagens fosse muito bem elaborado, dependendo de situações extremas ou raros momentos de descanso. Toda a loucura da série e os momentos surreais conseguiram ser mantidos, agora com um orçamento maior, o que deu liberdade suficiente para termos um bando de percursionistas e um guitarrista louco por pirotecnia no meio da estrada (e acredite, neste filme faz sentido, TOTAL SENTIDO). Esqueça longos e desnecessários diálogos explicando a trama e nos lembrando constantemente o que está acontecendo em cena (não estou citando nomes), é através de detalhes e sutilezas que Mad Max consegue nos conquistar.

Ah, e eu já cheguei a comentar que nem 20 porcento dos efeitos do filme é CGI? Pois prepare seus olhos para beleza que são os efeitos práticos.

Tom Hardy não fica devendo em sua atuação e consegue ser um Max tão bom quanto Mel Gibson, mas é em Furiosa e Nux (Nicholas Hoult) que encontramos a melhor construção de personagem do filme. Charlize e Hoult estão excelentes e cada um carrega seu próprio drama. Desde Ripley em “Aliens” ou Sarah Connors em O Exterminador do Futuro” não temos uma personagem feminina tão bem elaborada.

Mas não seremos injustos, houveram momentos para cada personagem brilhar, desde Hugh Keays-Byrne como vilão (sdds Toecutter), até Josh Helman como Slit. Falando no Byrne, se você assistiu a trilogia original, vai conseguir captar um ótimo easter egg durante um dos flashbacks de Max neste filme.

Infelizmente, este pode não ser um filme para todos, o que afeta a bilheteria e compromete um segundo longa. Mas se você é um amante do cinema, vai ficar de boca aberta com toda direção de arte, que fez um trabalho beirando a perfeição — a fotografia está tão bela, de tamanha harmonia, tamanha riqueza que faz cada frame valer a pena. Miller representa o tom sombrio e desolador com cores fortes (enquanto tem gente aí confundindo sombrio com a cor preta) e vivas, entrando em contraste direto com o sentimento de esperança (ou a falta dela) dos personagens. Cenas como Furiosa de joelhos no deserto e a tempestade de gasolina não são apenas ótimos momentos da trama, são um banquete visual pra ninguém botar defeito (pode tentar, não vai conseguir).

Falando nisso… Miller, obrigado pela câmera estática, obrigado por nos livrar de presenciar a mesma tendo um ataque epiléptico.

O que dizer sobre este filme que assisti pouco, vou assistir mais umas mil vezes e já considero pakas? Só uma coisa: “You’ve seen it, you’ve heard it. And you’re still asking questions?” (“Você viu, você ouviu. Ainda precisa perguntar?”).

Corra para assistir esta obra incrível. Se o ano não trouxer um filme tão bom quanto ou melhor, saberemos que 2015 realmente pertenceu ao louco.

Matéria postada originalmente no site Pêssega d´oro.

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Roberto Honorato
Primeiro Contato

"Mad Mastermind". Eu gosto de misturar palavras e ver no que dá. Escrevo sobre ficção científica para o Primeiro Contato e cinema para o Rima Narrativa 📼