Você costuma chamar sucesso de sorte?

Amalia Oliveira
Printi Tech
Published in
4 min readJun 24, 2021

Conheça a síndrome que ainda afeta a carreira feminina

Mulheres muito bem-sucedidas como Meryl Streep,Sheryl Sandberg e Michelle Obama já declararam sofrer dessa incômoda sensação de incapacidade.

Meryl Streep, Sheryl Sandberg e Michelle Obama da esquerda para direita

Falo sobre a síndrome do impostor, que apesar de não ser classificada como patologia é uma desordem psicológica, com um conjunto de sintomas associados à sensação de incapacidade, sobretudo em ambientes profissionais.

Sabemos hoje que ela atinge homens e mulheres, no entanto mulheres ainda são maioria.

Esse termo foi utilizado pela primeira vez em 1978 pelas psicólogas norte-americanas Pauline Clance e Suzanne Imes, da Universidade do Estado da Geórgia, em um artigo.

Através de um estudo com 150 mulheres em posição de destaque profissional, com títulos acadêmicos e excelente histórico escolar, foi possível identificar que quanto mais respeitadas e bem-sucedidas, mais essas mulheres sentiam-se inseguras e acreditavam ser impostoras.

O artigo dizia: “Contrariando realizações acadêmicas e profissionais, mulheres que apresentam o fenômeno do impostor insistem em acreditar que elas não são boas o suficiente e que apenas enganam quem pensa o contrário.”

Nesse mesmo estudo foi identificado que cerca de 70% da população feminina sofria desse transtorno.

Os sintomas são:

  • Sentimento de não pertencimento, não merecimento e inadequação
  • Procrastinação derivada de insegurança ou outros sentimentos relacionados
  • Ações de auto sabotagem que minam chances de sucesso nas atividades
  • Auto depreciação em discursos ou pensamentos
  • Não acreditar em elogios
  • Comparação frequente com os outros
  • Autocrítica excessiva

Por que mulheres são tão afetadas?

Desde esse estudo já se passaram 40 anos, muita coisa mudou, mas ainda temos mulheres passando por esse sentimento de fraude.

De acordo com Sérgio Lima, psiquiatra e especialista em psicologia social pela USP, o problema é mais frequente em mulheres do que em homens porque, desde sempre, existe a cobrança excessiva provocada pelo machismo e a crença de que os bons cargos e as situações de poder são dos homens. “Isso é um equívoco muito grande, que, infelizmente, ainda permanece na nossa história. Em alguns casos, é difícil as mulheres conseguirem combater isso e, quando combatem, obtém alguns resultados que podem levar à sensação de impostora”, detalha Sérgio Lima.

“Entrar em uma faculdade de elite, quando o seu orientador vocacional no colégio disse que você não era boa o suficiente, quando a sociedade vê crianças negras ou de comunidades rurais como ‘não pertencentes’… Eu, e muitas outras crianças como eu, entramos ali carregando um estigma”.

Disse a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama em visita recente ao Reino Unido.

O mercado de tecnologia também possui seus estigmas, é comum ouvir relatos na comunidade, de mulheres que se sentem subestimadas.

O motivo? Simplesmente ser mulher.

Por ser uma área ainda predominantemente masculina, existe um certo preconceito, e por conta disso mesmo mulheres de performance incrível acabam tendo sua auto confiança minada.

Me identifico com esses sintomas, o que posso fazer?

  • Procure um profissional — Em muitas situações tentamos dar conta de tudo sozinhos, e isso não é saudável. A ajuda de um profissional fará toda a diferença. A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) possui uma série de técnicas para identificar quais são as crenças do paciente e reestruturar seus pensamentos.
  • Reconheça seus pontos fortes — Faça uma lista de todas suas conquistas, habilidades e talentos, independente do tamanho que elas sejam.
  • Busque o feedback — Tenha pessoas que você admira, e que possa buscar feedbacks sinceros, escolha com quem conversar.
  • Saiba quem é você — Criar um discurso confortável para explicar o que você faz a qualquer um que perguntar, pode ser uma boa ferramenta.
  • Feito é melhor do que perfeito — (Essa frase é um pouco polêmica hehe) Quando buscamos a perfeição, isso nos leva a um estado de procrastinação, o que pode te levar a um ciclo de auto sabotagem desqualificando suas habilidades. Permita-se errar e aprender, não se auto subestime Só vai!

E mais ninguém pode fazer nada?

Ao invés de combater a Síndrome da Impostora deveríamos exigir ambientes com mais equidade.

Ao invés de instruir mulheres como lidar com esses problemas, deveríamos proporcionar ambientes em que esse tipo de problema deixe de ocorrer.

Promover a diversidade principalmente entre lideranças, programas de mentoria, ter ferramentas para que mulheres e homens possam conciliar vida pessoal e profissional.

Só há igualdade depois de haver equidade!

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