A Comunicação Não Violenta no ambiente de trabalho
Como a CNV pode ajudar os relacionamentos dentro e fora das squads
Há poucos dias, li o relato de uma moça que, muito angustiada, pedia conselhos sobre o que fazer para se comunicar melhor com o time majoritariamente masculino em que trabalhava.
Entre outras coisas, ela relatava que os homens do time eram, de certa forma, agressivos com suas ideias e opiniões, ao passo que eram mais brandos com outro colega homem que ocupava a mesma função que ela.
Sem entrar no mérito da discussão (extremamente válida!) do machismo e seus efeitos colaterais, fiquei pensando: como ainda podemos viver esse tipo de situação visto já termos evoluído em tanta coisa bacana?
E mais: como ainda podemos ter tanta dificuldade em algo que somos realmente muito bons: a comunicação.
Sim, pois segundo Yuval Noah Harari em seu livro ‘Homo Sapiens’, o ponto crucial na evolução de nossa espécie foi sua capacidade de se comunicar e de conviver em sociedade.
Pensando nisso tudo, me lembrei da Comunicação Não Violenta (CNV) e as contribuições que esse processo pode trazer às squads.
Por isso, vai aí um passo a passo para melhorar a comunicação no seu time:
1- Empatia
É, eu sei… “mais do mesmo”, você pode estar pensando rsrs. A palavra se tornou um verdadeiro buzz, mas será que todo mundo sabe do que se trata? Eu já ouvi definições como: ‘calçar os sapatos do outro’, ou ainda ‘se colocar no lugar da outra pessoa’. Mas convenhamos que nem sempre é fácil sentir o que o outro está sentindo, pensar o que o outro está pensando. Por esse motivo, a empatia na CNV vai além e pressupõe um estado de presença, ou seja, realmente escutar a fala da outra pessoa e perceber a necessidade por trás dela. É o famoso “escutar para entender, e não para responder”. Para isso, tome cuidado com o tom de voz, faça perguntas para ter certeza de que entendeu o que foi dito e, o mais importante: livre-se de ideias pré concebidas e achismos!
2- Desenvolva sua Inteligência Emocional
Existem muitas formas de você exercitar sua inteligência emocional. Seja com terapias, mindfulness, cursos e ferramentas, você precisa estar preparado para ouvir ‘não’ ou ‘e daí?’ sem surtar. Certa vez, em um projeto que participei, ao expor meu sentimento à pessoa do meu time, tive de ouvir um: “sem drama, vai…”. É, minha amiga e meu amigo. É a vida! Certifique-se de estar preparado para essas situações porque, de fato, elas podem ocorrer. É um direito de seu interlocutor não atender seu pedido. Aprenda mais sobre o poder da vulnerabilidade aqui: https://www.youtube.com/watch?v=yPY7uF5Yle8
3- Os pilares
Por fim, relaciono os pilares de sustentação da Comunicação Não Violenta:
- Observação: é muito importante observar o cenário limitando-se aos fatos. Muitas vezes a comunicação nos chega distorcida, com omissões ou generalizações. Por isso, tome cuidado com julgamentos, vieses, percepções e intuições. Eles podem ser apenas as suas emoções embaralhando sua visão. Lembre-se: não leve para o lado pessoal.
- Sentimento: tenha autoconhecimento suficiente para saber o que está sentindo. Saiba diferenciar sentimentos de julgamentos e emoções, seja sincero e não tenha medo de parecer vulnerável — todos somos!
- Necessidade: poderia falar por horas a fio sobre necessidades, afinal, elas são muitas. Tenha certeza de que, tanto as suas quanto a de seus colegas, estejam sendo olhadas. E caso não seja possível atender a necessidade de alguém por causa de uma necessidade sua, seja sincero sobre isso também.
- Pedido: precisa ser bem claro e objetivo. Trabalhe sua assertividade nesse ponto. Além disso, o pedido precisa ser realista, senão perde o sentido. Mas vale a dica: prepare-se para um possível ‘não’, que é de direito do outro.
Em tempo: Marshall Rosenberg, psicólogo norte americano que estruturou a CNV, disse certa vez em uma palestra:
“Comunicação Não Violenta é a integração de várias coisas(…). Para mim, a parte mais importante do que é a CNV, é a consciência a qual ela está tentando servir, o seu propósito. Então para mim a parte mais importante do que ela é, é a intenção. Essa intenção é criar uma certa qualidade de conexão com nós mesmos e com outras pessoas.”
Por isso, tenha sempre em mente que a intenção principal da comunicação com seu time é a conexão, ou seja, o entendimento entre todos. No entanto, esse é um trabalho coletivo — todo o time precisa estar consciente da importância da comunicação de qualidade para, de fato, se tornar um time saudável. Pense no corpo humano: se algum órgão não funcionar bem, todo o corpo pode entrar em colapso!
Se o seu caso é semelhante ao exemplo citado no início do texto, a dica é: fortaleça sua inteligência emocional e busque uma comunicação clara e assertiva na resolução de conflitos.
Vale lembrar, ainda, que assertividade não se refere apenas a ser direto. Eu gosto muito da definição de Vicente Caballo para a assertividade:
“(…)sinônimo de habilidade social, a qual compreende as seguintes formas de comportamento: iniciar, manter e finalizar conversas; pedir ajuda; fazer e responder a perguntas; fazer e recusar pedidos; defender os próprios direitos; expressar sentimentos de agrado e desagrado; expressar opiniões pessoais; pedir mudança no comportamento do outro; fazer e aceitar críticas e elogios; desculpar-se e admitir falhas”.
Caso você coloque em prática esses preceitos — empatia, inteligência emocional, os pilares da CNV, assertividade — e mesmo assim o problema continuar, escale a situação e procure um líder que possa orientá-lo e ouvir suas ideias.
Se ainda assim nada disso resolver, saiba que o time é que não está funcional, não você.