Saber vender não é “ser vendido”

Anne Freitas
Prisma Design Thinking
5 min readFeb 20, 2018

Eu queria começar esse texto levando a uma reflexão de como o brasileiro no geral enxerga o ato de vender, vamos pegar de exemplo o vendedor, aquele das lojas de rua ou dos shoppings centers, ou até mesmo de catálogos e cosméticos.

Todo adolescente, pelo menos na minha época, quando fazia 16 anos imprimia um currículo e saia distribuindo nos shoppings centers, especialmente nas épocas sazonais para ter um “emprego de verão” como se diz o americano. Ou quem nunca começou pelo telemarketing? Bom eu fiz os dois na adolescência, e como toda boa moça “de boa aparência”, isso era muito pedido antigamente, já fui recepcionista e auxiliar de escritório.

Bom, mas onde todas essas profissões entram em Design? Não entram em Design não, mas todas são relacionadas ao ato de vender. Os tempos passaram, popularizaram-se as lojas de departamentos, com poucos vendedores. Mas existe um preconceito muito grande, quando você preenche uma ficha e coloca “vendedor”, especialmente ser for “vendedor autônomo”.

As pessoas no geral acham que o vendedor é aquele cara “simpaticão”, com um sorriso brilhante no rosto o tempo todo, que está disposto a vender a todo custo, como se diz popularmente que o bom vendedor “consegue vender picolé no Alaska”.

Eu, quando trabalhava nesses empregos, tinha um modelo diferente do vendedor, eu tentava entender a necessidade do cliente, explicar a diferença entre os produtos e indicar o porque da diferença entre eles. Esse momento antecede a vende, é essencial, mas nem todo vendedor consegue pôr em prática. Vender, é fechar negócio. Não é pejorativo, não é vergonhoso, se você pensa dessa maneira está na hora de rever seus conceitos, você pode estar perdendo grandes oportunidades.

O tempo passou, os anos na verdade, e me encontrei como Designer. E começando na profissão de designer, trabalhei em gráficas e na maior parte das vezes, dentro da área de marketing. Isso me fez ter um especial olhar para a força de vendas, especialmente quando eu trabalhei em empresas da área de tecnologia.

A força de vendas é uma das áreas mais importantes dentro de uma empresa consolidada, o vendedor é o espelho do negócio, todos os funcionários o olham com respeito e são muito integrados com a área na maior parte das vezes, porque, faz parte do perfil deles, ser sim o “simpaticão”, é a pessoa educada que a gente nem sabe o que faz, mas te dá bom dia no elevador, passa na sua baia e te cumprimenta, pára para puxar uns minutos de conversa na copa, porque eles são assim, simpáticos e desinibidos por natureza.

Quando me tornei designer, sempre recebia demandas da força de venda, principalmente para programas de incentivo. Mas nunca parei para comparar meu comportamento como designer e meu comportamento antes de me tornar uma.

Especialmente quando somos novos na área, nos primeiros anos, ou em uma empresa nova, temos uma tendência de sermos a pessoa invisível da empresa, que se integra aos programadores, que por sua vez também tem a fama de serem os “antissociais”.

Eu sai desse padrão comportamental, porque na maior parte das empresas, eu era a única designer do setor, ou seja, todo mundo que queria algo do marketing precisava falar comigo, e para o marketing atender bem a todos os setores da empresa eu precisa entender e atender bem a todos.

Porém, dentro de uma estrutura de marketing, com um designer só, fatalmente não existia plano de carreira. E eu sempre trocava de empresa. Quando comecei, ou passei por empresas que haviam oportunidades em que eu pudesse crescer, isso não aconteceu, e com os anos, eu fui migrando de especializações e subindo a senioridade.

Porém chegou um momento, em que características como liderança, e o vender seu trabalho se tornaram decisivos para eu evoluir profissionalmente. Trabalhando em uma área de design, percebi que eu era sempre “a pessoa das entregas”, “a pessoa que põe no ar” e “a pessoa que resolve os problemas técnicos”. E isso acabou se transformando em um problema, quando eu percebi que a maior parte das pessoas não sabia nada em profundidade do que eu fazia na minha rotina.

Apenas o quanto eu entregava e que eu cumpria prazos.

Então em 2016, eu “empaquei”, não conseguia trocar de empresa, migrar de cargo, ou ter um aumento de salário. E isso me causou grande insatisfação e procurei ajuda profissional, e contratei os serviços de coaching pessoal.

Então eu, pela primeira vez comecei a refletir sobre o papel do Design nas vendas, mas não nas vendas de produtos, eu percebi que nós não só não sabemos nos vender, mostrar nosso trabalho, nós, na maioria das vezes, nem nos damos conta de que isso é necessário.

E quando damos, conversar com o chefe, apresentar o trabalho, ser a pessoa que conhece todo mundo, nós, na nossa “visão estereotipada de criativos” achamos que estamos puxando o saco das pessoas, ou tentando convencê-las de que não é necessário mudar o layout, que existem outras intenções por trás. Que o nosso papel não é negociar, mostrar, explicar, etc.

Isso é um erro. Por que aos poucos as pessoas tendem a achar que é normal pedir uma criação do nada para você, porque você sempre atende, ou você é o próximo designer, só isso. Então, como designer thinker, o que eu sempre fiz, e aconselho você a fazer, mas, faça conscientemente e de maneira assertiva é abrir o canal de comunicação, gaste tempo conversando com todos antes de sentar e criar.

Falamos em criar uma cultura de design, fazer e praticar esse ato, faz parte. Explique seu processo de trabalho, conscientize seus colegas da sua complexidade, exalte seu diferencial, eduque sobre práticas que envolvam seu dia a dia, o que é do seu ponto de vista, uma marca, uma página, um produto, troque ideias, comece com as pessoas que te demandem e aos poucos você vai ver que você não é o cara do design, vão te chamar pelo, saber seu ramal e seu e-mail. E logo você almoçará com uma pessoa diferente a cada dia, estará ampliando seu círculo de amizades e de contatos.

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