Aprenda a se proteger dos impulsos da mente e seja livre
Por muito tempo busquei uma pista que indicasse que estou no caminho certo na vida e talvez essa seja a primeira vez em que posso dizer com certa clareza que encontrei.
Nunca me adequei ao modelo tradicional de viver a vida, aquele em que um ser humano nasce, cresce, estuda, se forma na faculdade, casa, arruma um emprego, tem filhos, trabalha até se aposentar e morre, em minhas configurações mentais a possibilidade de viver assim não existe, o reflexo disso foi ter largado a faculdade para empreender. O que eu não contava ao desejar sair desse tradicionalismo é que uma decisão como esta exigiria muito trabalho duro e paciência pois, não seguir um caminho que tantos já seguiram significa que você vai ter que inventar a sua própria maneira de viver e seja morando embaixo de uma ponte, rodando o planeta numa van ou sonhando em ser um grande empreendedor todas as escolhas vão testar cada fibra do teu corpo. Eu me considero o ser humano que mais procrastinou na última década e guardadas as proporções do exagero dessa brincadeira eu preciso sempre reconhecer que a procrastinação me atrasou durante anos, sempre tive muita preguiça e dificuldade para desenvolver as minhas ideias, logo eu era um sonhador que não fazia muito além de sonhar.
Hoje sou grato por ter desenvolvido a noção de que nada se constrói sem uma presença fervorosa na busca diária pelos objetivos que temos na vida mas, eu vivi disperso por tanto tempo que não sei como não me perdi durante a caminhada, ainda hoje sinto as consequências disso. Nos últimos dias eu não fui tão produtivo quanto a média atual da minha performance e isso está claramente afetando meu estado emocional ao ponto que se eu não me conhecesse muito bem e não estivesse numa busca constante por produtividade era bem provável que entraria numa rotina procrastinadora novamente e me deixaria levar por ela até que estivesse atolado até o pescoço. Entretanto fui capaz de mudar os meus hábitos e me tornar menos disperso e ansioso, isso me permitiu ter mais consciência dos processos que levam à procrastinação e saber quais são estes gatilhos vêm me permitindo criar formas de vencê-los.
É muito louco quando a gente compreende que é necessário desenvolver um gatilho para o gatilho, ou seja, para cada comportamento que me leva à procrastinação eu preciso criar uma ação que barre meu cérebro de reconhecer a anterior como o padrão a ser seguido. Criar uma resposta padrão ao gatilho é mais simples do que se imagina e pode ser um poderoso divisor de águas, por exemplo, digamos que eu tenha dificuldades em manter uma dieta de perda de peso, sempre que for à cozinha comer algo que não devia eu posso tomar um copo d’água como resposta padrão ao ato de sair da dieta. Ao desenvolver uma nova abordagem para lidar com os comportamentos nós enganamos o cérebro antes que ele faça o mesmo conosco e começamos a bloquear os impulsos que recebemos pois, estamos alimentando a capacidade de desviar nossa atenção do que desejávamos fazer e isso é suficiente para satisfazer a mente e nos trazer de volta o foco.
Agir por impulso é ceder ao domínio da mente e permitir que a mediocridade invada nossas vidas, comportamentos gerados através de ordens nos colocam num estado hipnótico onde apenas obedecemos e ao fazer isso perdemos o livre-arbítrio nos tornando fantoches. A pior parte dessa história toda é que a maioria das pessoas segue a vida sendo uma mera marionete da dispersão e não se dão conta de quanto nos afastamos de nós mesmos quando vivemos assim, nos tornamos cegos para o potencial de desenvolvimento que possuímos. Nós seres humanos habitamos corpos que possuem capacidades incríveis, somos as máquinas mais perfeitas e complexas da natureza mas, somos facilmente levados à comportamentos que nos controlam.
Eu abri o texto dizendo que acredito ter encontrado um indicativo de estar no caminho certo em minha vida e é justamente por ter criado novas respostas padrão aos meus antigos comportamentos. Hoje por exemplo eu tinha tudo para ser improdutivo e não fazer nada durante o dia mas, nos quarenta e cinco do segundo tempo eu reagi de forma consciente e me coloquei em movimento. A simples ação de não aceitar a procrastinação e dedicar meu tempo para escrever este texto me fez ser produtivo pois, produtividade não se mede pela quantidade de horas trabalhadas, se em pouco tempo fui capaz de produzir algo com o qual me identifico e finalizar tarefas que são essenciais no meu dia logo fui extremamente produtivo e eficiente. Eu poderia perfeitamente me permitir procrastinar já que tenho sido tão produtivo neste ano mas o que isso faria por mim? Seria apenas ilusão, quem vive por um propósito jamais se saciará com a simples dispersão.
É importante que você entenda que eu não tirei essa capacidade de enfrentar a procrastinação de lugar algum pois, isso isolaria todo o sofrimento pelo qual passei para chegar até aqui e todas as vezes em que falhei miseravelmente e senti frustração por não conseguir. Antifragilidade não se compra nem se cria mas, se constrói diariamente num eterno processo de tentativa e erro.
Podemos facilmente controlar nossos impulsos criando respostas padrões para eles e fazendo o compromisso de manter o foco nelas.