O PICASSO QUE EXPLODA!

André Rodrigues
ProduçãoeRevisãodeTexto
4 min readDec 8, 2020

Autora: Hamana de Lima

Editor: André Rodrigues Ciria

Photo by Brooks Leibee on Unsplash

Quando a neve caía, Alfredo colocava a mão no bolso tentando achar a chave de sua casa, ao abrir aquela porta deu de cara com quem ele jamais imaginou que algum dia veria, alguém que fazia parte do seu passado obscuro, esse alguém que fazia os pelos da sua nuca arrepiar.

— Maldição! — Digo, irritado. O que essa mulher quer me atormentar depois de tantos anos, olha essa cara de tédio, com olhar de gato, ela foi sempre tão desconfiada, tão linda essa maldita, seu cabelo tão vermelho quanto sangue derramado, como o mal pode muitas vezes ser lindo.

— Oi! Fred, demorou. — Ela diz com a voz dengosa.

Tudo estava errado, ela não poderia estar aqui, ela morreu faz 4 anos. Mas parecia mais viva do que nunca.

— Sabe Fred, tudo que uma mulher faz é perfeito, até forjar sua própria morte — Ela diz sorrindo.

Aqueles dentes tão brancos e retos que hipnotizavam, seus olhos eram de deixar qualquer homem com medo. Ela jamais desviava o olhar, jamais.

— Ophélia, como você pode fazer isso comigo, nem me avisou, eu sofri com a perda. — Digo, irritado

— Uma mulher não precisa avisar um homem quando se está planejando algo, nós simplesmente fazemos, por isso é tão perfeito, pois, ninguém sabe quando não se tem pontas soltas.

Ela me deixa tão irritado, triste e apaixonado, tem como, amor e ódio andar de mãos dadas, pois é isso que eu sinto por essa mulher. Ela usa a sensualidade como arma para homens fracos como eu. Queria poder dar um abraço nela, mas meu orgulho não deixa.

— SAIA! — Digo, irritado.

— Você não quer que eu saia, não antes de contar o motivo da minha vinda. — Ela diz com ar de superioridade.

— Não quero saber nada de você.

— Isso você vai querer saber.

Aquele perfume estava me desequilibrando, era um perfume que tinha notas almiscaradas, com flor de ylang ylang e cardamomo. Até o perfume dela me intimidava. Eu sou fraco, tão fraco por ter caído nos cantos dessa sereia, agora ela me tem no fundo do mar e me mata aos poucos.

— Você sabe que eu ainda trabalho para Tom Carbon e ele me deu um último trabalho.

— Eu não trabalho mais com roubos, agora saia! — Digo, Impaciente.

— Você tem algo que ele deseja. — Ela diz olhando para trás. Eu sei para onde ela está olhando, para meu quadro do Pablo Picasso, que foi furtado no último trabalho, tarefa que foi entregue a mim, por Tom Carbon. Foi nessa última Tarefa que encontrei a angústia da minha vida, que se chama Ophélia, eu apenas fui mandado para o mesmo trabalho que ela, onde ela me deixou comendo poeira ao concluir seu trabalho antes de mim.

— Eu posso te matar, se você não me entregar o que eu vim buscar.

— Pode? — Digo, debochado

— Posso.

— Pode pegar e concluir a sua tarefa infeliz. — Digo, abrindo espaço para ela passar. Quando ela passou por mim, senti seu braço encostar no meu, foi como se um raio atravessasse e me quebrasse em mil pedaços. Ela causava isso, éramos opostos, ela era a água fervendo e eu a congelada, ela era Prótons e eu Elétrons, ela era tudo e eu nada. Como eu a Odiava, queria agarrar sua mão e beijar.

Ela sacou a arma que estava na coxa e deu um tiro no teto.

PÁ!

Ela pegou o quadro e rasgou toda a parte de trás. Ela além de desarmar uma bomba e tirar uma escuta que estava dentro do quadro, ela fez questão de quebra-lo.

— Você está louca? — Digo, assustado.

— A loucura faz parte de todos os que tem consciência, pois sem a loucura não sobreviveríamos em um mundo sacana como esse.

Ela estava eufórica, nunca tinha visto ela desse jeito.

— Ophélia, quero que me conte agora, o que diabos está acontecendo.

— Tom Carbon quer seu fim, ele me enviou para matá-lo, era minha tarefa final antes da liberdade, e se eu não cumprisse, ele me mataria também, por isso ele colocou uma escuta atrás do quadro e uma bomba para matar nós dois, caso eu não conseguisse. Só que ele nunca imaginou que eu soubesse onde ele escondeu a bomba. Eu jamais esqueceria do quadro que roubamos juntos, Fred.

Fico sem reação, não sentia minhas pernas, estava tão nervoso, caí no chão de joelhos. Quer dizer que essa mulher maravilhosa, inteligente de humor ácido e mal, salvou minha vida.

— Posso saber o motivo pelo qual você me salvou? — É tão simples, nossos corações batem na mesma frequência, mesmo depois de 4 anos, no qual fui obrigada a te deixar, pois, se não te deixasse, seria o nosso fim. Eu ganhei confiança dele o suficiente para conseguir essa tarefa, então sem mais delongas. Vamos?

Abandonar tudo por uma mulher, tudo que construí em 4 anos sozinho, eu ficaria com saudades da minha vida tranquila, pois estar com ela é como se estivesse sempre com espadas apontadas nas costas. Mas Ophélia não é uma mulher qualquer, ela era o mal e o bem em luta dentro dela, e como eu amo essa personalidade, me faz sentir que estou vivendo intensamente.

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