Pílulas de verdade

autor(a): Ana Paula Rosa Castro

A branquitude deles

Me dá aversão

O pensamento é pequeno

Reduzido ao seu próprio umbigo

Me traz uma aflição

A gente morre

Sangra como carne no açougue

E eles, eles continuam como antes

Mesmo que as estatísticas sejam projeção

Elas não são transformadoras

Só mostram a nossa raça em extinção.

Os fardados que nos tiram a vida

Os não fardados,

Os acostados na palavra do governo

A religião que nos oprime,

Mas que clama pelo amor ao próximo

Mas só se esse “próximo” for igual a mim

Eles, os brancos

Nos desejam como amantes,

Mas não somos para casar

Somo fortes, robustos e grandes

Como seguranças

Ou como de costume nos confundem

Marginais

Nós mulheres

Com ternura

Cuidamos dos filhos dos patrões

Enquanto eles com indiferença

Ao se dizerem olhar pelas nossas crianças

Os desfazem de sua existência

Mas e a miscigenação,

Não somos um país Racista

Somos maiores em população

A mesma que se expandiu

De uma violação

O IBGE declara

Somos Pardos,

Misturados

Mas a minha descendência

Meu sobrenome

Vem de um Branco

Abastado

São maioria

Mas no consultório não os vejo

Agora se contarmos

A tia da limpeza

E o segurança

Me faltam dedos

E quando falam que acima de tudo

Somos todos humanos

Ai que me indigno

Miguel Otávio

Marielle Franco

George Floyd

Ágatha Vitória

Evaldo dos Santos Rosa

Somos tantos, será que já não somos suficientes

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