Quarto de Infância

André Rodrigues
ProduçãoeRevisãodeTexto
3 min readNov 12, 2020

O meu mundo em quatro paredes

Autora: Hamana de Lima Fernandes

Editor: André Rodrigues Ciria

Para quem já se mudou muitas vezes, que me fez perder a conta, lembro de um quarto de infância, que ficou marcado para sempre em minha memória, que é o Quarto verde.

Eu e minha família morávamos em Viamão, bairro Viamar, nossa casa ficava localizada na parte com mais natureza, essa casa era exatamente em frente ao mato, no qual brincávamos muito depois da escola.

Lembro de muitas coisas boas, como os raios de sol no fim da tarde batendo na janela, acordar e sentir o cheiro do pé de laranjeira que tinha ao lado do meu quarto, que eu nunca vou esquecer, era um cheiro doce e ácido ao mesmo tempo, só de recordar eu escuto os pássaros que me acordavam. Meu quarto era pequeno, mas muito aconchegante, dividia ele com a minha irmã mais nova, lembro que a parede era de um verde bem vivo, e o teto era branco de madeira, minha cama era completamente quebrada de tanto que nós pulávamos.

Tínhamos também um clube de amigos e o meu quarto era a sala de reuniões, era mais gritaria e briga do que “reunião de espiões” como nós chamávamos. Do lado da janela tinha uma colmeia de abelhas que nós pirralhos na época adorávamos cutucar, era um rito de passagem para entrar no clube, aquelas abelhas eram vingativas e com toda a razão.

Nesse quarto habitavam tantos insetos e animais que perdi a conta, mas quem mandava era uma lagartixa enorme de gorda que sempre me protegia das aranhas de “mil pernas”, no meu quarto também tinha um porquinho da índia que era muito bravo e uma tartaruga meiga que eu salvei de uns meninos. Ali era meu canto, onde eu brincava com minhas bonecas sem corpo, pois eu preferia arrancar a cabeça delas e pôr em um garfo, desenhar no espelho com os batons da minha mãe e brincar de teatro, que era a minha paixão na época.

Mas quando chegava a noite, tudo que era lindo pela manhã, era assustador a noite, eu lembro de situações que me assustam até hoje, como pegadas no teto do meu quarto, arranhões na janela, a porta do quarto abrindo, e para uma criança de 7 anos, era o extremo do terror, ainda mais quando nossa maior satisfação era contar histórias de terror no nosso clube, muitas vezes não dormia, me escondia embaixo das cobertas, na minha imaginação os cobertores eram a proteção.

Com o passar dos anos descobri que eram os gambás que dormiam no teto do meu quarto, os arranhões na janela, eram os galhos do pé de laranjeira e a porta era tão velha que não fechava.

Quando somos crianças criamos um mundo em nossa mente, acreditamos no nosso sentido, agora imagina se eu escrevesse naquela época, imagina se todas as crianças escrevessem sobre seus quartos, nós iríamos ler histórias incríveis de imaginação super fértil.

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