Uma de tantas luzes

AnnaPaulaRosa
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2 min readDec 8, 2020

Autora: Hamana de Lima/ Editora: Ana Paula

Em um lugar não tão distante, cidade de Viamão mais precisamente na “Rua A”, viva a mulher chamada Marlize, já viúva e muito trabalhadora sustentava sozinha duas filhas pequenas. A barriga nunca ficava vazia, mas tampouco ficava cheia.

Em um lugar não tão distante, apenas uma hora de Porto Alegre, essa mulher viúva adoecia, em uma depressão profunda por perder aos poucos a sua visão. Essa mulher não conseguia mais ficar de pé para fazer comida para as filhas, permanecia deitada no abismo sem pensar em nada.

Em um lugar não tão distante da Rua A, morava uma senhora chamada Janete, que com muita garra também criou sozinha os filhos, porém não tinha forças ao ver um filho passar por dificuldades, uma filha sempre tão alegre, que passa a viver, entrar na profunda tristeza e que sente que ao perder aos poucos sua visão já não encontra mais sentido em viver.

-Muito doloroso para uma mãe, ver isso e não poder ajudar? -Dizia, Janete, com as mãos em seu rosto.

Em um lugar não tão distante, Marlize que já está quase sem poder enxergar estuda minuciosamente cada detalhe do rosto das suas filhas, cada sinal e expressão, ela guarda tudo em sua memória, pois seu maior medo é não lembrar mais do rosto de suas filhas.

Sempre deixava a luz do corredor ligada e a porta aberta, como garantia que ao abrir os olhos estaria ainda com sua visão

Em um lugar não tão distante da Rua A, Janete mãe de Marlize, sofre ao saber que não pode fazer mais nada para recuperar a visão da sua filha, pois não era só Glaucoma, também tinha retina descolada, e além disso bactérias que foram pegas na recuperação da cirurgia e que após ter feito cinco procedimentos, sentia que sua visão sempre piorava, passando a enxergar cada vez menos.

Em um lugar não tão distante, a filha de Janete se deita, vendo pela última vez a luz do corredor que refletia na porta.

Ao acordar

- Abre os olhos, fecha os olhos. -Dizia Marlize com medo.

E nada. Escuridão.

O maior medo da Marlize, era não lembrar mais dos detalhes do rosto de suas meninas. Mas quando ela perdeu sua visão, nunca deixou de sonhar com elas, cores ficaram ainda mais vivas, agora quando acordava o abraço era ainda mais significativo, ela que mesmo sem ver os resultados dos lindos cachecóis continuou tricotando.

A cruz não era tão pesada que essas mulheres fortes não pudessem carregar, com a aceitação da sua nova realidade Marlize já não precisava mais da luz do corredor pois a relação de cumplicidade que tinha com sua mãe já de muita luz

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