4 livros teóricos que todo designer de produto deveria ler

Design Ops Linx
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10 min readJun 24, 2021
https://dribbble.com/ddmarcelino

Eis uma verdade: é na hora de colocar os projetos em prática que percebemos a amplitude e complexidade teórica que o Design exige. Se você é um profissional da área ou trabalha com designers, precisa compreender que existem consequências no que estamos produzindo e que o nosso objetivo sempre vai ter foco no que realmente importa: quem vai utilizar o que estamos projetando.

Por isso, hoje separamos indicações de livros que lemos, recomendamos e aplicamos nas nossas atividades. Temos como objetivo não somente indicá-los, mas também mostrar um pouco mais sobre o conteúdo de cada um, para que você possa entender se faz sentido apostar nesses investimentos. Além de que, vão te fazer refletir mais sobre o seu papel como designer e sobre as nossas próprias ações dentro da área. Nesse post vamos focar em livros de pesquisa e teoria. Tudo o que você precisava, né?

1) Entrevistando usuários: como descobrir percepções atraentes de Steve Portigal

Interviewing Users: How to Uncover Compelling Insights

O autor Steve Portigal é um pesquisador experiente que ajuda organizações a amadurecerem práticas de pesquisa do usuário. Lançado em 2013, “Entrevistando Usuários” rapidamente se tornou um clássico recomendado para quem precisa conversar diretamente com seus usuários. Pesquisadores, designers, gerentes e líderes se beneficiam de técnicas e ferramentas do livro que permitem que você conduza entrevistas informativas com qualquer pessoa. Durante a leitura você passará da simples coleta de dados para a descoberta de percepções poderosas sobre as pessoas. Massa, né? ;)

Conteúdo do livro:

  • A importância da entrevista no design
  • Uma Estrutura para Entrevistas (trecho)
  • Preparando-se para conduzir suas entrevistas (trecho)
  • Mais do que apenas fazer perguntas
  • Fases-chave da entrevista
  • Como fazer perguntas
  • Documentando a entrevista
  • Otimizando a entrevista
  • Causando impacto em sua pesquisa

Recursos:

  • Modelos, amostras e apresentações
  • Postagens sobre como entrevistar usuários

Encontrando participantes (também conhecido como recrutamento)

O livro conta com modelos e dicas valiosas para executar recrutamento, uma das etapas mais importantes do processo de pesquisa. Achamos importante ressaltar alguns trechos do livro sobre esse assunto, pois alguns designers menosprezam essa etapa ou consideram número de usuários mais importante que de fato quem realmente faz parte do contexto de uso do produto ou serviço a ser pesquisado:

“Encontrar participantes é uma parte crucial da preparação para o trabalho de campo, mas algumas equipes tratam isso de forma muito casual, contando com amigos e familiares (uma abordagem que às vezes é justificada com a retórica de “guerrilha”) ou ainda pior, coletando participantes na rua ou em alguma loja (isso é conhecido como “interceptação”).

Por outro lado, algumas equipes de UX (como as da Intuit e da Salesforce.com) possuem um membro da equipe em tempo integral cuja principal responsabilidade é gerenciar o recrutamento. A primeira etapa (às vezes ocorre no início, enquanto você está definindo o escopo de um projeto) é identificar as características-chave do seu modelo. Por exemplo:

• Seis usuários ativos de software de blog (WordPress, LiveJournal, Blogger ou MovableType) em Chicago, Lisboa e Tel Aviv. Dois têm blogado há dois anos ou mais. Dois usam a plataforma atual há menos de um ano; todos entre 25 e 55 anos. Dois leitores de blog ativos com mais de 100 assinaturas de feed. Algumas coisas a serem observadas neste exemplo:

- Estamos examinando várias partes de uma transação (neste caso, escritores e leitores de blog); mesmo que estejamos projetando apenas uma parte da experiência, podemos obter uma compreensão mais profunda olhando para ela de vários pontos de vista.

- Temos uma mistura do específico (a lista de plataformas de blog) e do descritivo. (Não sabemos ainda o que torna alguém um blogueiro ou leitor “ativo”.

- Os critérios baseiam-se mais no comportamento (“ativo”, “mais de 100”) do que na atitude (“contadores de histórias dramáticas”).

Assim como acontece com os objetivos da pesquisa, esses critérios devem ser compartilhados com a equipe do projeto e iterados para que todas as partes estejam na mesma página. Além disso, o alinhamento com esses critérios pode exigir “terapia de grupo” (consulte a barra lateral “Terapia de grupo” da Julie). Quando as equipes se perguntarem quem são os clientes deles (ou quem eles podem ser), podem ter uma série de desconexões: hipóteses disfarçadas de fatos, aspirações e alucinações em massa. Você deve resolver as questões com o maior cuidado possível. Por exemplo, em um estudo que se concentrou na compra online de roupas esportivas, passamos quatro semanas (do que deveria ser um projeto de seis semanas) negociando ativamente entre um conjunto cada vez maior de interessados, os arquétipos básicos de clientes que deveríamos olhar. Foi assustador, mas essencial para ter qualquer sucesso no futuro. Não fomos capazes de mudar as questões culturais subjacentes que estavam causando esse problema (nem estávamos tentando), mas pudemos usar nossa experiência no planejamento e execução desses tipos de estudos para ajudar a resolver o impasse. Embora essas quatro semanas tenham sido exaustivas e frustrantes, conseguimos motivar a equipe e seguir em frente com a pesquisa em si.

Screener produzido a partir dos critérios do autor.

O modelo de screener é muito parecido com uma pesquisa usada para qualificar participantes em potencial. Inclui uma combinação de tipos de perguntas (incluindo sim / não, múltipla escolha e aberta) e usa respostas para direcionar o fluxo através do conjunto de perguntas. Depois de ter um screener finalizado, você precisa encontrar os participantes.

Outra parte importante a ressaltar do livro é sobre o incentivo para o usuário que vai participar da pesquisa. O livro diz que precisamos pensar no incentivo não como uma compensação, mas como um agradecimento. Em situações profissionais um incentivo monetário pode ser estranho (e às vezes até antiético). Se você for oferecer um mimo, poderá ir além de um simples agradecimento. Pesquisadores de campo experientes, cientes de que os participantes também são clientes, complementam seus incentivos com materiais úteis estampados com o logotipo da empresa (garrafas, sacolas, etc).

Dica: oferecer cupons de desconto e brindes podem ser alternativas.

Esse livro é com certeza um guia completo, mostrando o passo a passo de como planejar e conduzir pesquisas com usuários, contendo todas as etapas de como executá-las. Se você quer investir em pesquisa ou tem interesse pela área, “Entrevistando usuários” é uma leitura obrigatória com dicas que você não aprende em muitos cursos. O único ponto negativo é que o livro é todo em inglês, mas fica a dica: se você optar pela versão digital, vai facilitar a tradução automática.

2) UX Research com sotaque Brasileiro

“UX Research com Sotaque Brasileiro” é um livro escrito pelas pesquisadoras de UX, Cecília Henriques, Denise Pilar e Elizete Ignácio. Aborda temas, métodos e técnicas de pesquisa de experiência que possam ser aplicados em contextos de inovação e desenvolvimento de produtos e serviços no Brasil. Além de tudo isso, é muito especial, pois agora finalmente temos um livro com a nossa cara e dentro do nosso contexto ❤️

Conteúdo do livro:

  • Planejamento e etapas de uma pesquisa de experiência;
  • Com quem pesquisar e como encontrar essas pessoas;
  • Métodos e técnicas existentes e quando são adequados;
  • Coleta de dados e o que fazer com eles;
  • Síntese e análise de dados coletados;
  • E por aí vai..

Praticamente qualquer pessoa pode fazer pesquisa e/ou melhorar suas técnicas de coleta e análise de dados: ao decompor o processo de fazer pesquisa, podemos identificar o que precisamos aprender para alcançar melhores resultados. Por isso, é indicado que você faça sua própria lista de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) que considera importante para se formar pesquisador, depois disso verifique quais você já tem e aqueles que ainda precisa desenvolver. Isso irá nortear seus próximos passos para se aperfeiçoar, como busca de cursos e leituras complementares que auxiliem seu desenvolvimento profissional. Para isso você pode usar o exemplo da figura para criar o seu próprio, com base nesse.

Essa é apenas uma das primeiras lições do livro, essa dica é super importante principalmente se você está iniciando agora ou tem interesse em pesquisa, pois você precisa entender que você já sabe e que falta para poder fazer planejamentos estratégicos e assertivos em suas pesquisas.

O capítulo de pesquisa de experiência centrada no usuário também é interessante, o livro fala que ‘’o usuário final é a pessoa que interage com diferentes produtos ou serviços, empregando para isso suas vivências prévias, assim como os aspectos cognitivos e culturais que possui. É a pessoa que sente (internamente e/ou externamente) os efeitos que resultam dessa interação dado um contexto. Esta é uma definição genérica e nosso objetivo é deixar claro que o usuário é, necessariamente, a pessoa que está em interação constante com o produto.” Ou seja, em um produto B2B, o usuário provavelmente será um funcionário do seu cliente, e não necessariamente a pessoa que decidiu comprar seu produto.

Depois, entram naquele ponto importante que vale ressaltar: o desenvolvedor não é o usuário. Designers e desenvolvedores estão desenvolvendo o produto, o contexto não é o mesmo, mas quantas vezes você já ouviu a frase ‘’eu acho que dessa forma é melhor para o usuário’’ totalmente nos achismos, sem dado algum? 😟

O livro também aborda temas como a diferença entre clientes e usuários, claro que tudo depende do seu contexto, mas para muitas empresas o cliente é quem pede a demanda e não quem realmente está usando o seu produto, o livro enfatiza que o cliente e usuário nem sempre são a mesma pessoa.

Cliente é aquele que toma a decisão sobre a compra. Usuários costumam ser pessoas que demandam a solução para resolver problemas específicos em seu contexto.

E pra finalizar, também mostra alguns métodos de pesquisas, como se portar em uma entrevista, quando intervir ou saber quando parar, produzir roteiros e até a parte de como executá-los.

Esses são alguns compilados dos trechos dos capítulos iniciais do livro, maravilhoso né? ❤️

Dica: discutir sobre como foi estruturada a forma que exercemos a nossa profissão nos dias de hoje é essencial para entender os nossos problemas e insatisfações. Antes de ver as próximas indicações, que tal dar uma olhadinha nesse vídeo do Don Norman (❤️) sobre o Design no século XXI? https://www.youtube.com/watch?v=7FJNsqoC4tI

3) Design — Uma introdução

O design no contexto social, cultural e econômico

Prefácio do livro “Design — Uma introdução”.

Antes de exercer uma atividade dentro do escopo do design é preciso entender que somos responsáveis pelo trabalho que colocamos no mundo. Por isso, é importante discorrer, historicamente, sobre as coisas que aconteceram e acontecem dentro do universo do design. “Design — Uma introdução” mostra as principais evoluções históricas da área vinculadas a comentários críticos do autor para somar os debates. Além disso, também traz discussões (polêmicas) que sempre dialogam com ciência e pesquisa. Uma qualidade desse livro é que o autor, Beat Schneider, não deixa os textos tão densos (como a maioria dos livros teóricos acabam sendo).

Conteúdo do livro:

  1. História contextualizada do design
  2. Em “O design no contexto: debate” o autor questiona o design em contextos de terceiro mundo, gênero, identidade corporativa, teoria, pesquisa e ciência.
  3. A parte três reúne anexos (bibliografia, revistas, museus, organizações e outras referências).
Na esquerda, uma página do primeiro capítulo do livro “Industrialização e primórdios do Design”. Na direita, é a parte do livro onde o autor mostra um pouco do que existe sobre teoria do design: um bom guia para começar ou relembrar o que realmente fazemos e porque fazemos.

É uma leitura que vale muito a pena para conhecer e debater a história do design por uma perspectiva diferente dos demais livros teóricos. Infelizmente no design acabamos tendo muitas leituras que tratam apenas da perspectiva branca-europeia, ignorando a pluralidade que existe na nossa área. Para “descentralizar” suas leituras sobre design, eu recomendo o acervo de conteúdos (gratuitos!) “Decentering Whiteness in Design History” que reúne a história do design representando as contribuições de negros, indígenas, latinos, asiáticos e outros designers e estudiosos de cor em seus contextos. É em inglês, mas nada que um Google Tradutor não resolva, né? :)

4) Design para um mundo complexo

“Não são determinados esquemas de cores, fontes, proporções e diagramas, e muito menos encantações como “a forma segue a função”, que resolverão imensos desafios do mundo complexo em que estamos inseridos.” (CARDOSO, p. 41)

Mais um livro curto, de leitura simples mas muito importante: Design para um Mundo Complexo é escrito por um brasileiro, Rafael Cardoso, e é um dos livros mais atuais para se estudar teoria do design. O livro inspira quem precisa ter mais consciência sobre as nossas responsabilidades, e o melhor de tudo isso: tem de graça no Kindle da Amazon Prime. Os capítulos são divididos em:

  1. Contexto, memória, identidade: o objeto situado no tempo-espaço
  2. A vida e a fala das formas: significação como processo dinâmico
  3. Caiu na rede, é píxel — desafios do admirável mundo virtual
  4. Novos valores para o design [e seu aprendizado]
Trecho retirado do livro em uma apresentação acadêmica (créditos na foto)

E se você ainda não se convenceu com as informações acima, também trouxemos uma avaliação feita sobre a obra: “O sentido crítico que Rafael Cardoso mantém durante toda esta obra é um apelo à “comunidade de designers”, um pedido de “descruzem os braços e ajam”, e não uma revolta contra os mesmos. Esta é uma leitura interessantíssima, especialmente para quem está dentro da área do design e da comunicação, pois revela tudo aquilo que um dia pensamos, mas nunca foi tornado público.👀 Fonte: https://journals.openedition.org/cp/610

E essas são as indicações que separamos por hoje. Quer trocar uma ideia sobre os livros ou indicar alguma coisa pra gente? Dá um alô pelo nosso LinkedIn:

👤 Duda, Product Designer na Linx | Linkedin | Email

👤 Vanessa, Senior Product Designer na Linx | Linkedin | Email

Te vemos na próxima 👋

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