Especial Dia das Mães: maternidade x home office
Hoje trago um texto sobre a dupla ou tripla jornada que muitas mães em tempos de Pandemia tiveram que adotar e que se perpetuaram como um novo normal nos dias de hoje. Mas, diferente de muitos artigos que existem, com dicas de como se organizar dentro deste cenário, trarei uma reflexão por um olhar muito positivo. Vamos nessa?
Para começar, impossível não falar de toda a adaptação que ocorreu em diversos lares do mundo, pela necessidade de isolamento social para controle do vírus COVID 19. Isso é fato! Todas as pessoas foram inicialmente ceifadas de alguma forma pelo impedimento de manter sua rotina e tiveram que se adequar com novos processos de vivência e “sobrevivência” em família. Não foi diferente comigo, nem com meus filhos (e gatos).
O modelo de trabalho remoto nunca fez parte do meu dia a dia, assim como aulas remotas jamais eram uma possibilidade para as crianças, ir ao mercado e ter que higienizar tudo com álcool, trocar de roupa na chegada em casa, não ter vida social, rede de apoio. Nunca houve uma cartilha que nos ensinasse a viver tempos assim, mas eles chegaram, e agora? Opção 1: respirar (mesmo de máscara), opção 2: surtar. Opção seguinte: histeria coletiva causada por surto da mãe. Então, resolvi respirar e seguir fazendo o jogo do contente, na tentativa de não gerar grandes impactos em casa, pois o mundo já estava em caos.
Não gosto de lembrar de nossa adaptação, de quantas vezes chorei cansada debaixo do chuveiro, do medo que tive de adoecermos e do quanto me senti incapaz de cuidar da minha transição de carreira que acontecia ao mesmo tempo neste contexto. Mas com o tempo, aprendi a olhar com carinho para o papel especial que passei a ter, sob o olhar atento dos meus filhos. Vi que nunca exerci tanto meu papel de mãe na integralidade dos dias, nunca fui tão observada. Entendi melhor que o termo “segurar a onda” está diretamente relacionado à palavra “mãe”, e que potencial é este que eu não conhecia?
Nós, mães, fazemos isso desde sempre! Desde o útero até em momentos em que o mundo entra em colapso é a mãe que conforta e ajusta nosso emocional, arruma nossa bagunça em diversos sentidos, até mesmo quando já se foi. Quando estamos em perigo, é da segurança de seus braços que desejamos voltar. E quem não teve a chance de convívio materno, certamente em seu íntimo fantasia momentos de amor incondicional. A natureza nos fez assim, é orgânico.
Aos poucos, depois das vacinas descobertas, aplicadas, reaplicadas, retorno ao novo normal, as crianças voltaram à escola e eu fiquei trabalhando em casa. Com essa “reconquista” de espaço e tempo, algumas atividades ficaram mais fáceis, mas nem tanto a ponto de descansar. Descanso raramente consta no dicionário de “mãe home office”.
Trago aqui uma analogia ao analisar minha realidade doméstico-corporativa. Muitas vezes me sinto como uma ostra no oceano, inicialmente perdida e solta nas águas da incerteza de minhas escolhas e com o passar do tempo presa, imobilizada por meus medos. Entretanto, em alguns momentos entre o trabalhar e maternar me pego produzindo pérolas belíssimas que mostram que estou no caminho certo: me deparei esses dias com minha filha de 9 anos abrindo um word e criando um texto, assim como me vê fazer. A postura, a mesa de “trabalho” que ela montou, a simulação de reunião online a qual ela participava e sorria ao falar… Tudo, tudo era uma réplica de mim. Fiquei emocionada em ver a forma como ela me enxerga e mais feliz ainda por ter visto que sou um bom exemplo profissional, além de mãe.
A maternidade aliada ao trabalho remoto me faz refletir que faço parte de um grupo muito especial de mães cuja responsabilidade é gigantesca: criar pessoas que convivam mais de perto com as experiências do mundo corporativo sem abrir mão da importância do convívio familiar. Vejo a oportunidade que esta geração está tendo ao resgatar uma fatia de vida ao lado das mães (e pais também) que era apartada por escritórios, horas de deslocamento no trânsito e muita terceirização de vivências reais. Nossos filhos conseguem nos ver como profissionais com atribuições e prazos a cumprir e acabam aprendendo a lidar com certas frustrações (por não estarmos ali integralmente com atenção voltada às suas questões infantis). Percebem que não fazemos parte apenas do mundo deles, isso faz amadurecer.
Meus filhos “conhecem” meu gestor e alguns colegas meus devido a este convívio profissional coabitado em minha sala de estar. Eu nunca soube como era o rosto do superior de meu pai, mesmo ele trabalhando mais de 20 anos na mesma empresa.
Em resumo, me sinto feliz em ser mãe e oferecer minha experiência profissional diária, meu “lado B” de maneira tão real e prática. Pode ser super doloroso se abster de dar uma olhadinha naquele desenho que o rebento fez no papel, em não responder todas às vezes que escuta aquele “mãããe” ou tentar delimitar jornadas domésticas e de trabalho sendo que ocorrem no mesmo ambiente. Mas com certa resiliência percebo: é apenas mais um desafio de tantos que a maternidade me coloca à prova.
Não sou super mulher, nem super mãe, nem super ser humano, definitivamente não tenho super poderes que me façam sair revitalizada de cada jornada. Longe disto. O que sei é que nós mulheres, somos feitas de ciclos, nunca se sabe onde começa um e termina o outro. Então, tento tirar proveito do que estou vivendo hoje, se este proveito é ensinar meus filhos a serem pessoas melhores, já está valendo a pena. Não sou dona do amanhã e penso que talvez voltar para o escritório seja bastante doloroso, já que a dinâmica está organizada, mas pode acontecer. Então, entre reuniões, prazos, roupas para lavar e auxílio em tarefas escolares, sobrevivo e passo bem. Um viva para as mães! Feliz dia para nós!
E agora, fotos das mamães do time, vale mãe de pet também! ❤