Um toque de UX Writing em Central do Brasil
Prezada pessoa que me lê neste momento.
Venho, por meio desta carta virtual, falar um pouco sobre o insight que identifiquei no filme Central do Brasil.
Exageros por minha conta (talvez), identifiquei no filme uma prática que tem a ver com a tão crescente profissão de UX Writer — pessoa que faz a redação de interfaces, seja uma plataforma, um aplicativo, um chatbot e outras aplicações tecnológicas.
Tudo começou justamente pouco tempo depois que migrei para o time de Produto&Design da Linx Digital. Um dia estava numa demanda com o designer e reparei no quanto a troca para definir a mensagem das telas estava sendo enriquecedora. O mesmo propôs uma nova abordagem de escrita que eu percebi que atendia bem ao objetivo da demanda: textos claros, coesos, concisos e funcionais, além das demais boas práticas de UX Writing.
Fiquei com a ideia por uns dias até vir a reunião do time sobre o lançamento do nosso Medium — estas janelas lindonas aqui que você agora tem à sua disposição para nos ler e aprender sobre tecnologia, produto e UX e também trocar figurinhas com a gente.
Na hora de sugerir um tema, o mix de pensamentos sobre a troca gritaram alto e eu propus que o filme Central do Brasil tinha tudo a ver com a profissão UX Writer, afinal a personagem principal do filme, Fernanda Montenegro, é uma pessoa que escreve as cartas para pessoas que não sabem ler e escrever.
Proposta de tema aceita, cheguei até estas linhas. E nossa, transpirei para conseguir escrever este texto com toda a franqueza, transparência e coração que eu realmente queria. Porque a realidade é que eu revi o filme, me emocionei com a história, as cenas e os trejeitos dos personagens e elenco, a fotografia e direção de atuação… Mas, eu penei para conseguir fazer a assimilação. E após muito escrever e apagar, escrever e apagar, eu cheguei no tom de mensagem que agora você me lê.
O ensinamento de UX Writing que o filme Central do Brasil tem e que torço para que você passe a ver com esta minha perspectiva, é o fato de que a Dora — a personagem da Fernanda Montenegro — escreve cartas para pessoas analfabetas. Ela não coloca no papel apenas o que ouve, Dora também opina, orienta, faz uma escuta ativa e concretiza com palavras a mensagem desejada pelos remetentes. Precisa passar o sentimento genuíno da pessoa que envia a carta e também criar uma experiência agradável para quem irá recebê-la.
Em User Experience, quem se identifica mais com os usuários?
O filme mostra que Dora não posta as cartas nos Correios. Ela apenas as escreve como hobby, em casa ela lê as cartas junto com a amiga e elas decidem se rasgam ou engavetam. E Dora é uma pessoa sozinha, amargurada com a vida, tira proveito dos outros apesar de escrever as cartas. E enquanto eu assistia estes traços da personalidade dela, pensei: “A Dora não se envolve com os remetentes no sentido de se comprometer a realmente enviar as cartas!”
E assim, a partir do raciocínio de envolvimento, fiquei pensando: qual é a posição de UX que mais se envolve com os usuários no sentido de mais se identificar com eles? Imagino que todas as posições se envolvem, entretanto a de UX Writing é a que “fala a mesma língua”. É a que usa do mesmo signo, mesmo símbolo, do mesmo modelo mental que está enraizado nos usuários — desde que estes sejam alfabetizados, é claro.
Tudo isso que estou falando não é desmerecendo outros cargos de User Experience, Produto ou Marketing, é na verdade mostrar a realidade do que é ser UX Writer e a relevância que a posição ocupa. Pelo que tenho vivido como UX Writer e observado no dia a dia, o cargo que ocupo é o que mais precisa ter a escuta ativa colocada em prática.
Afinal, escuta ativa é quando conseguimos desenvolver um interesse genuíno no que a outra pessoa fala, permitindo nos envolver na conversa. Quando isso acontece dos dois lados entre os interlocutores, o diálogo automaticamente se otimiza e o ouvinte consegue demonstrar que está prestando atenção e vice-versa quando se troca quem é a pessoa ouvinte. E assim a comunicação fica linda, humana e surge um momento chique demais, né? Pode dar até vontade de ficar horas e horas conversando.
Agora eu te pergunto: quem é que está trabalhando para que a mensagem em interfaces tecnológicas fiquem mais próximas dos usuários? Nós, UX Writers :)
Então assim, sempre que você ouvir alguém em dúvida sobre a relevância de ter uma pessoa profissional dedicada exclusivamente aos textos para determinado produto digital, lembre-se do filme Central do Brasil e de que a personagem principal é escrevedora de cartas ❤ para pessoas analfabetas.
Não estou desmerecendo quem não é UX Writer, mas a profissão tem ganhado visibilidade justamente pela necessidade em ter, nas empresas, pessoas “alfabetizadas em textos para interfaces” — que podem ser pessoas graduadas em Letras, Comunicação Social, História, Cinema etc.
Trabalhar com UX Writing poderia ser uma profissão também chamada de Fala que a Gente Escreve, usando esta analogia com a Dora do filme Central do Brasil. Porque é fato o que eu comentei no início do texto: UX Writing não é um cargo solitário, uma escrita solitária (ao contrário do que muitos famosos escritores dizem sobre o ato de escrever literatura). Os profissionais dessa área precisam ter abertura tanto para aprender quanto para ensinar, um lado meio que professor mesmo.
Escrever para produtos digitais é se entregar à empatia em ouvir outras pessoas e escrever o que elas têm a dizer da mesma forma que a Dora faz e ainda tentando se colocar nos sapatos/chapéus dos usuários. Juntos, eu, você, UX Writers, Tech Writers, Content Designers, UX Designers, Product Designers, UX Researchers, POs, PMs, desenvolvedores, CEOs e mais um tanto de pessoas podemos entregar uma experiência que atenda aos objetivos do micro momento — que pode ser uma mensagem só informacional, ou instrucional, ou encantadora, ou transacional e aí o papo muda para outro texto, né pessoal?! ;)
Dica1 de amiga: reveja (ou quem nunca viu, veja pela 1ª vez) o filme Central do Brasil. É lindo, é Brasilzão puro ❤ e merecedor de Oscar! Fernanda Montenegro é nossa diva eterna e merecia ter ganhado o troféu hollywoodiano. E encerro este micro momento de contato com você, que me leu até aqui (obrigaadaaa), com esta fala da diva sobre o filme, mesmo após 20 anos do lançamento dele:
“Eu acho que o que o filme tem de mais bonito 20 anos depois é esse demorado adeus de uma humanidade que se encontra, que se ampara e que sai de lá renascida”, aponta Fernanda Montenegro
Dica2 de amiga: revi o filme neste link aqui ó, mas te digo que tem em plataformas de streaming, qual delas não sei e não vou fazer propaganda aqui KKKKKK https://www.facebook.com/CineiderOfficial/videos/316589302504881/