De Analista de Projetos a Produteiro: Franks Freitas

Rafael Louzada
Product Arena
Published in
9 min readAug 21, 2020

Uma história com altas doses de cara-de-pau e muita, mas muita vontade de conhecer e viver nesse mundo de produto

Em um primeiro momento, esta edição do “Como Virei Produteiro” pode ser vista como uma história clássica de mudança de carreira: uma pessoa insatisfeita com o trabalho atual resolve explorar novas oportunidades mesmo sem saber direito o que encontrar pela frente. Mas a jornada do então Analista de Projetos Franks Freitas tem doses de perseverança com algumas pitadas de cara-de-pau que vão te fazer pensar em como é possível criar e aproveitar as oportunidades que surgem pelo caminho.

Comecemos essa história pela faculdade. O Franks sonhava em trabalhar com tecnologia, mas achava que, para fazer um curso desse tipo, deveria ter algum conhecimento técnico sobre o assunto. Logo, terminou escolhendo administração, mas deu um jeitinho de manter o velho crush por perto: escolheu a FIAP, faculdade que oferece cursos ligados a tecnologia. (para você ter uma ideia, o curso de administração no site deles tem como Slogan “Innovation & Digital Transformation)”.

Franks, ainda com um visual mais formal, na faculdade. Foto: (APF — Arquivo Pessoal do Franks)

- Eu pensei “Como eu posso trabalhar com tecnologia sem trabalhar com código?” Então, resolvi fazer esse curso com ênfase em tecnologia, que eu gostava muito — conta.

Coincidentemente, uma das primeiras aulas era sobre análise de projetos, justamente o tema do que viria a ser o seu primeiro emprego na área. Franks foi trabalhar em uma farmacêutica em meio a projetos de SAP, com cronogramas, acompanhamento de custos e tudo mais que o PMI raiz tem a oferecer.

A dinâmica era muito focada em projetos que já estavam sendo aplicados globalmente. Ou seja, não havia etapas de levantamento de necessidades ou entendimento de dores. O foco era fazer o projeto acontecer conforme especificado, sem autonomia ou trabalho criativo envolvido.

Com o contrato de estágio terminando e sem vagas abertas na empresa, o Franks partiu para uma segunda experiência. Dessa vez, em uma empresa brasileira focada em um produto, mais especificamente um programa de fidelidade. A sua função inicial ainda era de analista de projetos e o processo também era bastante burocrático, razoavelmente parecido com o anterior.

- Para você ter uma ideia, até para trocar um botão, a gestão era feita como em um projeto cascata: documentação super detalhada, entrega para o time de desenvolvimento… — explica.

Em meio a esse cenário, havia um ponto positivo: Franks trabalhava mais próximo aos desenvolvedores. Trocava ideia, explicava como as coisas funcionavam. Começou a conhecer com mais detalhe as questões técnicas do produto, o que seria uma vantagem mais adiante.

Meses depois, a empresa passou por uma mudança estrutural e ele foi deslocado para a área de suporte. Lá, aquele conhecimento sobre negócios e questões técnicas ajudava a se destacar na função de relacionamento com stakeholders e com o próprio time técnico.

- Eu tinha aprendido o que era uma integração, API, um Json, como funcionava uma estrutura… Os próprios desenvolvedores me procuravam para tirar dúvida de negócio e sobre o funcionamento de produto.

Só que aquele ainda não era o cenário que Franks sonhava. Ele queria tratar mesmo era da evolução de um produto. Até que caiu uma ficha: os conhecimentos que ele tinha acumulado até ali renderiam muito provavelmente empregos com aquele perfil. Logo…

Em busca de novas habilidades

Era preciso adquirir novas habilidades. Franks começou a procurar por temas que poucas pessoas estavam estudando, para ter um diferencial. Logo, um tal de Design Thinking chamou a atenção e ele resolveu se aprofundar. Continuaria na empresa, mas se dedicando a novos conhecimentos nos horários vagos.

Resolveu se inscrever em um curso da Gama Academy que tinha um processo seletivo. Tentou a primeira vez e não conseguiu. Na segunda, ficou na lista de espera. E aí, amigos, ela surgiu. A amiga dos futuros produteiros que querem uma oportunidade. A exuberante e infalível… cara-de-pau.

- Eles me mandaram um e-mail dizendo que eu estava na lista de espera. Mas nunca me mandaram um e-mail dizendo que eu tinha sido eliminado. Então, no dia da primeira aula, eu fui lá na porta e expliquei a situação. Aí, deram uma olhada e me deixaram entrar!

Pronto. Lá ia o Franks para o seu primeiro curso sobre Design Thinking. Estava encantado com aquele universo de conhecimento do usuário, das dores, perfil, criação de um novo produto. Ele se envolvia nas atividades e ia “passando de fase”. Nesse curso, os alunos que não performassem bem eram eliminados a cada semana. Ele chegou até o final.

Para finalizar o curso, havia uma feira de startups, em que empresas que estavam iniciando as suas trajetórias poderiam contratar alunos recém-saídos. Franks havia lido o livro Design de Serviços, do Tenny Pinheiro, e queria uma vaga como esse perfil.

Habemus um Produteiro

Legenda: O momento em que o Franks se apresentava ao Michel. (Foto: Arquivo Pessoal do Franks)

E foi exatamente o que ele conseguiu. Um empreendedor, Michel Zetun, estava criando uma Venture Builder e precisava de ajuda para validar uma série de ideias, ver o que poderia de fato virar um produto. Uma curiosidade: coincidentemente, nessa mesma época a empresa em que o Franks trabalhava começou a criar uma área de produto. Ele chegou a trabalhar por cerca de dois meses como Product Owner, mas já havia sido seduzido pela possibilidade de trabalhar com produto na veia em vez de passar por um processo de transformação.

Foi quase um ano de trabalho na nova empresa, onde teve a possibilidade de realizar pesquisas com usuários, criar landing pages para validação, gerar MVPs Mágico de Oz, protótipos de baixa fidelidade, campanha de ads no Facebook e até um chat bot. Um verdadeiro intensivão.

Uma da experiências desse período é lembrada com mais empolgação: Franks queria validar se as pessoas estariam dispostas a utilizar um chatbot para pedir bebida na balada. E a primeira missão foi conversar com os potenciais usuários. Em geral, eles diziam que não gostavam das filas e que com certeza adotariam uma solução que permitisse reduzir aquele tempo de espera. Mas…

- Mas na hora de validar, vimos que não era bem assim. Eu fui a algumas baladas para observar esse comportamento e percebi que as filas não eram uma dor tão grande. Era um momento de descontração, as pessoas conversavam, interagiam.

E aí, surgiu a ideia de testar para valer a solução. Franks entrou em contato com donos de bares e se apresentou aos clientes como um funcionário que poderia solicitar a bebida para eles através de um chat no Messenger.

- Eu ficava do lado do bar, com o celular esperando as mensagens. Mas não era da cultura das pessoas. A gente percebeu que seria necessário uma evangelização muito forte pra mudar aquele hábito.

O produto terminou não indo para frente, mas a experiência da (in)validação dessa hipótese foi incrível, passando por campanha de ads, logo para o produto, chatbot, MVP etc.

Por outro lado, uma coincidência: um dos “filhotes” dessa época acaba de ser lançado. O Projeto Goma é uma iniciativa com foco no mercado imobiliário e foi uma das ideias das quais o Franks participou ativamente da validação. Preparou landing page para captação de leads, anúncios no Instagram, fez pesquisas de mercado e entrevistas com usuários até confirmar que a ideia valia a pena. Esse ano, o produto chegou ao mercado.

Novos voos

Após um ano nesse trabalho de testes e validações, chegou a hora de buscar novos desafios. Franks sempre procurava por vagas de UX, mas esbarrava em um problema: a grande maioria das vagas desse tipo pedia experiência com interface, o que não era a sua praia. E ele começou a perceber que o seu perfil poderia se encaixar melhor como Product Manager.

- Eu tinha conhecimento de negócio, da minha faculdade de administração. Aprendi muito da área técnica nas minhas experiências profissionais. E estava mergulhando em UX mais recentemente. Fazia todo sentido virar PM.

A questão era: como encontrar uma vaga sem ter experiência na função? A nossa velha amiga de fé, irmã camarada estava de volta. Vem aqui, cara-de-pau, sua linda.

- Eu peguei a lista das 100 Startups pra ficar de olho da Revista Exame e comecei a entrar em contato com CEO, CTOs, equipes de recrutamento… contava a minha história, explicava porque queria a vaga. Fui tentando…

Mas foi de uma outra iniciativa que surgiu a primeira oportunidade. Nosso amigo Franks também participava de eventos e comunidades sobre produto, UX e empreendedorismo. Uma vez, via Slack,, um CTO anunciou uma vaga: precisava de um PO para cuidar de um produto na TIKAL TECH, uma Legaltech (que faz produtos e serviços para a área jurídica).

Franks respondeu ao post na hora e enviou o seu Linkedin para o CEO da empresa. Marcaram um papo. Ele conta que ficou especialmente esperançoso quando a empresa pediu que ele avisasse caso estivesse participando de outro processo seletivo e como estava o andamento.

Enfim, Product Manager

O final da história você já deve imaginar. Nosso agora ex-analista de projetos conquistou a primeira vaga como Product Owner.

- Eu fiquei muito feliz de ter passado. Tinha chegado a hora de eu colocar em prática tudo aquilo que eu tinha estudado sobre produto.

Franks na época de estudos, que renderiam frutos agora. (Foto: Arquivo Pessoal do Franks)

O primeiro desafio seria cuidar de um produto que a empresa queria revitalizar. Então, o início do trabalho envolvia muitas pesquisas: entender as dores dos usuários, o que eles faziam no dia a dia, quem usava o concorrente, o que faziam de forma analógica e poderiam fazer melhor e mais rápido com a ferramenta.

Por exemplo, quando ele chegou, a empresa havia acabado de contratar uma fábrica de software para conduzir a reformulação de um novo produto. A TIKAL havia entregado uma especificação sobre as funcionalidades desejadas e entendeu que isso bastava. Mas Franks achou melhor aprofundar essa história e quis conversar com usuários, entender melhor o propósito do produto.

Rolou uma dificuldade: a base de usuários era pequena e ele mesmo tinha, obviamente, uma rede de contatos com pouco advogados. Recorreu, então, à rede do dono da empresa:

- Eu fiz um post para ele publicar no Linkedin dele, perguntando se advogados realizavam determinadas tarefas e se elas topariam conversar sobre o assunto.

Dali, saíram diversas ideias, que foram negociadas com a empresa que havia sido contratada, para redirecionar o esforço inicialmente previsto para novas dores dos usuários. Conversa daqui e dali, havia um novo direcionamento que ajudaria o produto a entrar nos trilhos.

Nessa experiência, Franks passou por um marketplace e produtos Saas B2B e B2C. Assim como na época da Venture Builder, quando ele considera que entrou de vez no mundo de produto, este é o momento em que virou de fato um Product Owner. Além de liderar os desenvolvedores, houve espaço para atrair os designers, experimentar iniciativas, praticar tudo que havia aprendido.

- Eu puxei a cultura de design para perto do time. Envolvia a Designer nos processos de Discovery, implementei Hotjar, Optimize… começamos a implementar uma cultura de dados, passando a olhar mais para o Analytics — conta, empolgado.

Foto: Arquivo Pessoal do Franks

Hoje, Franks Freitas é Product Manager na CVC. Conseguiu a vaga em meio à pandemia e está há apenas um mês na função. Quando perguntei o que ele teria feito de diferente nessa trajetória, ele não tinha uma resposta de bate-pronto. E explica o motivo:

- Foi um fluxo tão natural que eu não sei se faria algo diferente. Toda a minha carreira profissional me levou para isso. Tudo que eu fiz me levou até onde eu estou hoje.

E ainda deixou algumas dicas para quem queira fazer o mesmo movimento que ele fez:

- É importante estar em meetups, ler livros, artigos, consumir muito conteúdo. Se você não tem o conhecimento prático, você precisa pelo menos ter o teórico. E ter cara-de-pau, claro. Veja startups que estão começando, manda mensagem para o CEO. Diz que está procurando.

E ele acrescenta ainda um detalhe importante:

- Muitas empresas, quando estão começando, não conhecem direito a nomenclatura de mercado. Então, talvez uma vaga de analista de produtos seja um bom começo para fazer esse movimento.

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Quer fazer essa transição para Produteiro(a) ou ainda se aperfeiçoar? Dá só uma olhada na lista dos cursos da Product Arena:

Módulo 1: Arquitetura de Informação e Usabilidade, com Guilhermo Reis (24, 25 e 27 de agosto)

UX Strategy, com Denise Pilar (1, 2 e 3 de setembro)

Product Discovery, com Rafael Louzada e Rafael Xavier (8, 10 e 11 de setembro)

Módulo 2: Arquitetura de Informação e Usabilidade, com Guilhermo Reis (14, 15 e 17 de setembro)

Métricas de Produto, com Horácio Soares e Gustavo Esteves (21, 22, 23 e 24 de setembro)

Módulo 3: Arquitetura de Informação e Usabilidade: Design Cross Device, com Guilhermo Reis (28, 29 de setembro e 1 e 5 de outubro)

Detalhes e calendário completo nesse link.

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