De profissional de moda a Produteira: Eva Melo

Rafael Louzada
Product Arena
Published in
8 min readAug 7, 2020

Uma jornada com paradas nos ramos de educação e medicina até a oficialização como Product Manager

Chegamos à sexta edição da série “Como Virei Produteira” para contar mais uma história inusitada. Depois de um jornalista, uma publicitária, um militar, uma contadora e um advogado, chegou a vez de entender como uma pessoa que começou a carreira focada na coleção da próxima estação foi parar na gestão de produtos. E o que o Enem tem a ver com isso. 🤔

Essa é a história da Eva Melo, hoje Product Manager na PSafe, uma empresa de cybersegurança. No início da nossa conversa, tive que dar um aviso “Eu não entendo nada de moda, então se eu fizer alguma pergunta idiota, me desculpe.”

Eva (à esquerda) na passarela (Foto APE: Arquivo Pessoal da Eva)

E fomos pelo beabá. Eva me explicou por alto o processo de criação de uma coleção, em que ela estava envolvida do início ao fim: começava pelo entendimento de quem era o consumidor a ser conquistado, passava por fazer um benchmarking para entender as tendências, planejar quais seriam as estampas, tecidos etc da coleção, alinhar com os fornecedores a compra dos materiais, receber um piloto para avaliar e testar as peças com as modelos e, mais adiante, lançar as peças em produção.

Reparou, né? Entender o consumidor, pegar referências, planejar, alinhar, testar, lançar… Se olhar direitinho, produto tava ali batendo na porta, vai…

Produto bate à porta da Eva pedidno passagem…
Produto bate à porta da P… Digo, Eva

Mas após alguns anos trabalhando nesse mercado, ela estava à procura de algo diferente, mais especializado. Chegou a iniciar um MBA de Bolsas e Calçados (que eu não fazia a menor ideia que existia. Obrigado, Eva), mas quando estava na metade surgiu uma oportunidade digamos… curiosa, que a fez deixar o curso pela metade.

Uma empresa sueca especializada em tecido têxtil automotivo (serve para fazer bancos, cortinas de caminhões etc) tinha uma fábrica em Portugal e queria montar uma nova unidade no Brasil. Para isso, eles estavam recrutando pessoas para passarem cerca de 15 meses na Terrinha fazendo um intensivão, de maneira que elas liderassem a criação da fábrica no interior de São Paulo mais adiante.

Eva se candidatou sem muita pretensão, mas passou. Foi para Portugal essencialmente para aprender.

- Eu era estagiária total! Porque não sabia nada do processo, produto, nada de nada. Eu cheguei lá e tinha uma mentora 24 horas do meu lado.

Eva na produção de tecidos automotivos, na Borgstena, em Portugal (Foto: APE — Arquivo Pessoal da Eva)

Mais de um ano na condição de aprendiz e Eva já preparou as malas para voltar ao Brasil e participar do trabalho de implementação da fábrica propriamente dito. O processo estava começando pela escolha do terreno ou galpão onde seria construída a unidade. Enquanto isso, entre outros assuntos, ela focava em avaliar os futuros fornecedores, trabalho que demandava constantes viagens dentro do estado de São Paulo.

Essa rotina, aos poucos, começou a cansar. Chamava atenção a diferença de objetivos e, principalmente, percepção de entrega de valor entre os ramos automotivo e de moda.

- O mercado de moda era mais dinâmico. Uma coleção era pensada para durar uma estação mesmo, porque daqui a três meses, já teria um outro tema. Mas o setor automotivo é diferente. Tem vários processos, ISOs, idas e vindas… o estofado de um carro tem que durar 20, 30 anos, é outra pegada.

Tinha um Enem no meio do caminho

Pesando os prós e contras, Eva resolveu retornar para o mercado de moda. Voltou ao Rio de Janeiro com esse foco, mas o Enem (o Enem!) surgiu nessa história.

Não, Eva não resolveu fazer uma nova faculdade. Desempregada e recém-chegada à cidade, ela atendeu a uma sugestão de um amigo para ser fiscal de prova do Enem na Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ).

- Eu tava de bobeira mesmo… e ainda ganharia 200 reais. Já era um ajuda.

Pois bem. Dessa oportunidade, surgiu outra. Ela comentou com outras pessoas no local da prova que estava desempregada e alguém lembrou que uma empresa ali perto estava contratando para vaga de vendas. Era uma startup que administrava um sistema de gestão escolar. Mesmo sem nenhuma experiência anterior em vendas, Eva passou na entrevista.

Ela ficou cerca de 4 meses na função de vendedora. Fazia contato com clientes, explicava as vantagens do sistema, tirava dúvida, entendia as maiores dores. Bem… Olha o produto aí.

Produto batendo à porta com um pouco mais de afinco

O objetivo ainda era voltar a trabalhar com moda, mas as coisas estavam acontecendo. No final do quarto mês, passou a coordenadora de vendas, liderando uma equipe de representantes comerciais, que visitavam as escolas para fechar negócio. Nessa função, Eva precisava estar especialmente atenta às novidades do produto, para comunicar a essa equipe. Era responsável pelo treinamento deles, inclusive.

Até que, mais adiante, surgiu uma nova tendência de mercado: aplicativos para serem utilizados no lugar das antigas cadernetas escolares. Eram especialmente relevantes para a comunicação com pais de crianças menores, os populares pequerruchos. A empresa identificou uma oportunidade em um produto desse tipo e convidou a própria Eva para liderar a iniciativa.

- Eu já entendia muito do mercado, do cenário de gestão escolar. Então aceitei o convite “Claro, óbvio que eu quero”.

Eva ainda não tinha o vocabulário e as ferramentas mais badaladas do universo de produto. Mas isso não impediu de fazer o trabalho. Trocava muita ideia com os próprios desenvolvedores e com outras pessoas, lia sobre o assunto.

- Por recomendação de um amigo, comprei o livro “Lean Startup” e aquilo abriu a minha mente. Vi que existia um modelo de trabalho, um processo por trás.

De cara, teve dois focos: buscar referências de apps similares fora do Brasil e conhecer melhor os clientes. Ia para a porta das escolas conversar com pais, alunos, professores. Isso foi importante para entender algumas reações de usuários e stakeholders:

- Era engraçado. Os alunos mais velhos falavam “Eu não quero esse app, porque o meu pai vai saber que eu tirei nota baixa. Ou que eu faltei à escola.”

O app começou a ganhar corpo, tinha uma versão beta e Eva recorreu a quem já era cliente da empresa. Levava o produto para testes, colhia feedbacks e ia amadurecendo a ideia.

- Abri o CRM e peguei os meus 10 melhores clientes para fazer um teste. Depois, peguei os 50 melhores para mostrar. Entendia o que queriam e levava para debater com a equipe comercial e com os desenvolvedores.

Olha a Eva fechando um contrato e "tocando o sino" pra celebrar (Foto: APE — Arquivo Pessoal da Eva)

Até que chegaram os primeiros clientes. E a preocupação passou a ser com com a implementação e onboarding desses novos usuários. E lá estava a Eva envolvida, em todas as etapas. Em eventos, chegou a ter um cartão de visitas que a identificava como “Diretora do Wello”, nome do produto na época.

Nesse momento da conversa, eu fiquei curioso: “Nessa época, você já se considerava uma Product Manager?” Fiquei surpreso com o “Não” e perguntei se tinha um motivo, já que ela sabia o que era produto.

- Faltava coragem pra me intitular uma pessoa de produto. Toda segunda-feira, eu recebia métricas e dados, apresentava para o C-Level. Eu sabia que era muito importante, mas não tinha esse olhar, era quase ingênua a maneira de trabalhar.

Enfim, Product Manager

Mais tarde, Eva terminou deixando a empresa. E foi altamente recomendada pelos diretores para um novo desafio, onde assumiu formalmente o cargo de Product Manager pela primeira vez. Àquela altura, convenhamos, uma mera formalidade. A porta já tinha sido atendida pela agora (e há tempos) produteira.

Oi, Produto. Tudo bem?

Eva foi trabalhar na PEBMED, uma empresa especializada em conteúdo para médicos. Chegou com a missão de validar se um novo produto faria sentido, despertando um trabalho similar àquele da criação do Wello: entender o mercado, as oportunidades etc. A análise chegou à conclusão que a empresa não deveria investir no produto naquele momento e Eva assumiu um dos já consolidados na empresa.

Teve a primeira experiência mais formal como Product Owner, seguindo processos mais consolidados, conduzindo ritos, liderando o time e continuando o seu desenvolvimento. Nessa época, procurou cursos de produto para acelerar essa jornada, fazendo uma mescla entre cursos mais baratos online e cursos presenciais pela Product Arena ❤️.

Hoje, Eva é Product Manager na PSafe. Ela começou lá na semana em que esse texto está sendo publicado, uma feliz coincidência. É o mais perto que o “Como Virei Produteira” chegou de dar um “furo de reportagem”, como eu dizia na época de redação.

Eva no seu primeiro dia de trabalho na PSafe diretamente para o Como Virei Produteira (Foto: APE — Arquivo Pessoal da Eva)

História contada, fiquei curioso com um momento: afinal, quando ela desencanou de moda?

- Quando eu fechei o primeiro cliente do app. Saber que o meu trabalho está gerando diretamente receita para a empresa, pagando as contas. Foi uma sensação muito boa, vi que queria fazer aquilo.

Para fechar, pedi à Eva que olhasse para essa história que ela havia acabado de me contar e pensasse no que teria feito diferente.

- Lá quando eu fui tocar o app, eu teria procurado uma educação mais estruturada sobre produto. Como eu não sabia o que estava fazendo, então não sabia que podia correr atrás disso — conta.

Sobre conselhos a futuros produteiros e produteiras, Eva levantou coisas que faz hoje em dia mesmo e ajudam muito.

- Eu estou no Slack de Mulheres de Produto, estou em 3, 4 grupos de UX no Whatsapp. Não fica com medo. Entra no grupo, vê o que está sendo colocado. A dica que eu daria é “faz um curso básico que seja”, pra você entender o básico.

É isso. Essa tem sido uma dica recorrente na série: entender o básico para abrir portas e caminhos. Até porque, você pode descobrir relações entre o mundo consolidado de produto e aquilo que você faz hoje. Afinal, como disse a Eva no finalzinho dessa entrevista:

- Eu sempre fui de produto, só que agora eu trabalho com produto digital. 😉

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Quer fazer essa transição para Produteiro(a) ou ainda se aperfeiçoar? Dá só uma olhada na lista dos cursos da Product Arena:

Métricas de Produto (Online — Ao vivo) com Horacio Soares e Gustavo Esteves (10, 11, 12 e 13 de agosto)

UX Writting, com Bruno Rodrigues (12, 13, 19 e 20 de agosto)

Product Manager, com Arthur Castro e Horácio Soares (17, 19, 24 e 26 de agosto)

UX Strategy, com Denise Pilar (1, 2 e 3 de setembro)

Módulo 2: Arquitetura de Informação e Usabilidade, com Guilhermo Reis (14, 15 e 17 de setembro)

Product Discovery, com Rafael Louzada e Rafael Xavier (8, 10 e 11 de setembro)

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