De publicitária a produteira: Jéssica Blando

A série "Como virei Produteiro" volta com a história de quem sempre esteve perto de produto, até que se encantou pela área

Rafael Louzada
Product Arena
8 min readJun 5, 2020

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Imagine a seguinte situação: você domina a área em que trabalha, é reconhecida pela excelência no trabalho em marketing dentro da empresa. E um belo dia avisa aos chefes e pares:

- Oi! Então… eu queria mesmo era ir pra produto!

Why? Why?

Essa é a história da Jéssica Blando, publicitária em outra encarnação. Atual Mobile Product Manager no Hurb. Mas pega lá um café que eu vou te contar como isso aconteceu.

Jéssica me explicou logo no início da entrevista que é movida por duas coisas na vida profissional: vontade de aprender e se sentir bem fazendo o trabalho. E com esses sentimentos, iniciou a carreira atuando em marketing digital. Se você não sabe o que é, eu explico de forma beeeeeem resumida: basicamente, ela administrava campanhas de links patrocinados em buscas e redes sociais. As pessoas clicavam nessas campanhas e chegavam a um site. No início, o foco era em awareness (percepção de marca) e, mais adiante, o foco passou a varejo, onde o que importa é conversão propriamente dita.

Aos poucos, foi se tornando fera no assunto e fala com carinho sobre a passagem pelo Zoom, site de comparação de preços: “A gente trabalhava muito, mas aprendia demais”.

Jéssica trata uma passagem específica como uma das primeiras grandes lições da carreira. Ela era analista júnior e recebeu um feedback que considerou bom, mas queria saber o que faltava para ser ainda melhor. Ouviu do seu chefe na época, um diretor: “Você não me questiona”.

- Eu era analista júnior e ele era diretor de marketing. E eu assim “Questionar?”. E ele: “É, eu não quero trabalhar com alguém que não me questiona, só aceita tudo que eu falo”. E eu falei “Ok, eu tenho que questionar o diretor da empresa.”. Entendi. Foi engraçado, mas levei isso pra vida — lembra a hoje Product Manager, vinda de uma rígida criação militar.

Novos desafios

Mas lembra da vontade de aprender e se sentir bem? Pois é… uma hora, bateu aquele desejo por novos desafios. A empresa sofreu um corte de investimentos e ela foi transferida para outra área, que não empolgava tanto. Era hora de dar uma olhadinha no mercado.

Surgiram duas alternativas. Uma para trabalhar com performance na B2W. Outra, para encarar algo totalmente novo. O Hurb (que antigamente se chamava Hotel Urbano) estava procurando alguém para focar em marketing de performance para aplicativos móveis. A primeira parte era o que ela dominava. Já a segunda era um mundo a ser desbravado.

Pausa para conhecer a equipe de marketing do Hurb naquela época. (Crédito: APJ — Arquivo Pessoal da Jéssica)

A questão era: como entender desse mercado? O caminho escolhido foi procurar por pessoas que entendiam do assunto.

- Olhei no Quora, Linkedin, Artigos… Mandava mensagem para as pessoas, me apresentava e pedia ajuda: “Oi. Eu faço isso aqui na web. Existe um jeito de fazer isso em aplicativos?”. E as pessoas respondiam! A gente fazia calls e elas me davam aulas sobre todos os assuntos possíveis. Aprendi demais.

O ano foi de bastante pressão por resultados e de muito trabalho para aprender aquele ecossistema. A partir dessas conversas, Jéssica conhecia ferramentas, artigos e, claro, mais pessoas que poderiam ser referência. Desses papos, surgiu uma experiência que chamou a atenção.

Better say sorry…

Uma das pessoas com quem a Jéssica conversou mencionou uma tal de push notifications.

— Eu corri para o Líder Técnico de apps e falei “(Thiago) Cortat, a gente precisa fazer isso! — falei empolgadaça — Ele explicou que já tinha feito uma experiência antes, mas que tinha dado merda. Derrubou o site.

Melhor deixar pra lá, então?

— Nada! A gente sabia que aquilo era muito importante. O Cortat não barrou a ideia, só falou que precisaria avaliar algumas coisas com o time. Então, combinamos: ele iria ver a parte técnica e eu falaria com a Beta, diretora de marketing da área sobre a nossa iniciativa.

Enquanto ele falava com os desenvolvedores, Jéssica mandava milhões de mensagens e ligava para a chefe.

— A Beta não respondeu, não apareceu… e o Cortat veio e disse “Eu já falei com a galera toda, está todo mundo alinhado”. E eu falei “Então, vambora… Vambora?”. Ele disse que sim, fechou. E a gente foi.

Era uma experiência… o que poderia dar errado?

Bem… mandaram a notificação entre 18h e 19h, um dos principais horários de acesso e conversão no site. Que caiu, já que a infra-estrutura era a mesma do app. Não aguentou o volume gigantesco de acessos.

- De repente, a Beta surgiu. Passou na minha mesa e falou “Você, vem comigo”. Eu fui e ela andando pra TI. Chamando os líderes técnicos, de infra, mobile… Todo mundo para uma sala. Mas foi um esporro… daqueles históricos.

Mais tarde, com a poeira mais baixa, Jéssica recebeu uma única resposta da Beta depois das trocentas que havia enviado para a chefe:

- Better say sorry than ask for permission. (Melhor pedir desculpas do que pedir permissão)

Better say sorry than ask for permission. Yeeeeeeey!

Depois desse “elogio”, obviamente, vieram mais experimentos com as push notifications. O site chegou a cair mais uma vez? Caiu… Um diretor falou que não queria mais saber de push notifications? Disse. Mas isso impediu que as experiências continuassem até dar certo? Não.

- E hoje a gente manda notificação direto. hahaha

Produto se aproxima…

A Jéssica já tinha trânsito com a equipe de tecnologia, mas faltava uma aproximação definitiva. E isso aconteceu com a chegada de duas pessoas à empresa: um novo gerente em Marketing Mobile e um novo Product Manager em produto.

- O gerente era o Daniel Lessa, que olhou aquela estrutura e decidiu que eu deveria trabalhar junto do produto “pra eu vender o que o produto fazia, não o que estava na minha cabeça”. E eu passei a sentar fisicamente com o time.

E o Product Manager era alguém que você que acompanha a Product Arena deve conhecer: nosso amado careca Horácio Soares.

Primeira formação do time de mobile, já com o Lessa e o Horácio (Crédito: APJ — Arquivo Pessoal da Jéssica)

- Eu passei a conviver com aquele universo de testes, de entender porque a gente deveria fazer alguma coisa, o que o usuário achava. Mostrava os números para os desenvolvedores e eles vinham com sugestões. Eu participava dos rituais do time. Era parte do time. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida profissional.

Aquele era um trabalho de Product Marketing Manager (ainda que a empresa não usasse a nomenclatura na época), feito em parceria com o PM, os desenvolvedores e a equipe de UX. E a Jéssica, obviamente, se encantou pela dinâmica toda.

Eventualmente, ela acabou saindo do Hurb, mas estava decidida: queria trabalhar com produto. Tirou um período para focar em estudos, quando chegou a frequentar, inclusive, alguns eventos e cursos da Arena. Quando voltou a procurar por vagas, viu que não havia muitas opções de produto no mercado. O que tornava ainda mais complicada a situação de alguém que ainda não tinha experiência como PM.

Até que um dia, foi chamada para retornar ao marketing do próprio Hurb. Pelo menos, estaria próxima a um produto que ela conhece, poderia aprender um pouco mais, um dia ganhar a experiência que gostaria. Passou 9 meses no marketing, desempenhando bem o papel, com a desenvoltura que já tinha antes.

Lembra do início do texto?

Até que um dia, tomou coragem. Contou para amigos, gestores, diretores. Todo mundo sabia que a Jéssica queria ir para produto.

- A minha chefe na época, Bruna Amaya, ficou surpresa, mas me deu apoio, entendeu que era o que eu queria pra minha carreira.

O assunto chegou ao CEO da empresa, que chamou algumas pessoas mais próximas à Jéssica para conversar. Perguntou o que acharam e a receptividade foi ótima. Ela terminou mais adiante topando um desafio intermediário, de analista de produtos, até ser convidada para a posição de Mobile Product Manager, o que foi ainda melhor que o esperado. O aplicativo era o produto que ela melhor conhecia, desde a época de marketing, o que facilitava as coisas, apesar de manter ali uma cota de desafios.

- O meu primeiro planning foi complicado. Tinha rolado uma transição de backlog, boards, ferramentas que o antigo PM usava (era o Cortat, o cara das notificações, que tinha virado Head de Produto). Mas o time me encheu de perguntas que eu não sabia responder direito ainda.

É claro que houve um período de aprendizado. Se acostumar a conduzir os rituais, liderar mesmo o time, era uma experiência nova. Além da questão de não ser tão técnica quanto o antigo PO.

- Eu costumo dizer que tecniquês a gente aprende por osmose. Eu já tinha aprendido alguma coisa na época do trabalho com o Horácio, então falava um tecniquês básico. Mas eles vinham falar comigo em tecniquês avançado e eu pedia “Pera aí, me explica isso em português claro. hahaha”

Aos poucos, ela foi se entendendo com o time:

- Eu até fiz um curso de lógica de programação para crianças (code.org), que me ajudou a entender melhor. Hoje, quando uma história é muito simples, eles até me zoam “Essa aí é tão fácil que até a Jéssica faz”.

Ah! Essa é a Jéssica! :)

No final, perguntei à Jéssica o que ela daria de conselho a quem estivesse nesse dilema de transição e carreira. Ela destacou os relacionamentos que cultivou no caminho, o que faz sentido passando por essas histórias. Você leu sobre momentos em que essa construção de relacionamentos ajudou a encontrar pessoas que entendessem mais de determinados assuntos e também sobre encontrar ajuda dentro da mesma empresa, não é mesmo?

- Não é ser interesseiro. É sobre criar relações de trocas, de confiança. É entender que as pessoas não têm bola de cristal e que você precisa falar.

No final, não se sinta mal se você gostar de produto, mas não entender direito do que se trata. É como essa frase, que norteou a Jéssica em algum momento dessa jornada:

- Eu quero fazer isso. Eu não sei direito o que é isso, mas é aqui que eu quero estar.

Quer conhecer outras histórias de pessoas que mudaram de outra carreira para produto? Acesse aqui.

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:: JABÁ: Cursos da Arena

Quer fazer essa transição para Produteiro(a) ou ainda se aperfeiçoar? Dá só uma olhada na lista dos cursos da Product Arena:

Métricas de Produto, com Horácio Soares (16, 17 e 18 de junho)
E mais uma turma em 6, 7, 8 e 9 de julho

UX Research, com Paola Sales (16, 17 e 18 de junho)
E mais uma turma em 14, 15 e 16 de julho

Product Discovery, comigo e com o Rafael Xavier (23, 24 e 25 de junho)

Design Cross-Device Online, com Guilhermo Reis (23, 25 e 29 de junho)

User Journey Mapping, com Paola Sales (30 de junho, 1 e 2 de julho)

Mobile Product Manager, com Arthur Castro (30 de junho, 1 e 2 de julho)

Módulo 1: Arquitetura de Informação e Usabilidade, com Guilhermo Reis (6, 7 e 9 de julho)

Detalhes e calendário completo nesse link.

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