O que é ansiedade, e o que eu (e você) tenho (temos) a ver com isso?

Christian Zambra
productmanagerslife
8 min readApr 4, 2021
Anxiety by Nick Youngson CC BY-SA 3.0 Alpha Stock Images The Blue Diamond Gallery

Ansiedade está relacionada ao futuro, a uma visão de futuro. Um futuro incerto, onde antecipamos em nossas mentes tais incertezas.

Em minhas pesquisas acadêmicas, minha carreira e mesmo na vida pessoal eu me deparei com isso, e gostaria de compartilhar aqui minhas experiências, na esperança de que possa ajudar alguém.

Detalhando um pouco mais minha relação com a ansiedade:

Como Pesquisador, estudei a relação entre ansiedade e inovação. Fiz isso para meu mestrado, através de teorias ligadas ao estudo do comportamento do consumidor, tomando por base conceitos de psicologia e da economia.

Como Product Manager, notei que a ansiedade afeta diretamente a liderança, e pode afetar o produto.

Sobre liderança, é importante identificar traços de ansiedade na equipe e fazer o possível para amenizar isso. Além do óbvio, de poder contribuir com o bem estar de quem está ao seu lado no trabalho, isso também impacta a missão do Product Manager. Produtos são feitos por pessoas, e as pessoas tem de estar bem para produzir.

E sobre produto, a ansiedade pode afetar as necessidades do cliente, e portanto a solução necessária naquele momento. Em especial quando trabalhei com mídia, isso se mostrava claro, e buscarei tratar disso abaixo.

Como pessoa, analisei a ansiedade em mim e em quem me cerca. Pensando em mim, notei que, por sorte, treinei desde a adolescência para controlar a ansiedade, e tentarei compartilhar coisas que me ajudaram aqui. Pensando em quem me cerca, em minha vida e carreira vi amigos, colegas de trabalho, de minha equipe ou de outras, lidando com a ansiedade e sempre busquei ajudar.

Vale ressaltar: Eu não sou psicólogo. Aqui vou expressar minhas experiências e opiniões, mas ressalto: Ansiedade em excesso é uma doença séria, chamada Transtorno de Ansiedade Generalizada, e precisa ser tratada por profissionais, necessitando por vezes até mesmo de intervenções com medicamentos. Se você está passando por isso, por favor, procure um psicólogo, ou um psiquiatra.

Então, vamos detalhar um pouco mais o que é ansiedade?

Ansiedade é o medo do futuro, um futuro que ainda não existe.

De uma maneira mais formal:

Segundo a psicologia, ansiedade é um estado emocional frente a um futuro incerto ou perigoso, no qual um indivíduo se sente impotente e indefeso. (1) Tal estado pode beneficiar o indivíduo, estimulando ações. Porém em excesso, pode ter o efeito contrário, impedindo reações (2). A ansiedade é constantemente relacionada ao medo. O medo é uma resposta a ameaças iminentes, reais ou percebidas, enquanto a ansiedade é a antecipação de uma ameaça futura. (3). Esses dois estados se sobrepõem, porém também divergem: O medo é comumente associado a surtos de estímulos autônomos necessários para lutar ou correr. Já a ansiedade é mais comumente associada a tensão muscular e vigilância em preparação para um perigo futuro e precauções ou comportamentos evasivos(3).

Esse medo do futuro não necessariamente é consciente.

De maneira mais científica:

A partir de estudos trazidos pela neurociência, sabemos que no caso do medo, as reações comportamentais e fisiológicas estão ligadas à amígdala. No caso da ansiedade, as reações comportamentais e fisiológicas estão ligadas ao Núcleo Leito da Estria Terminal.(4) Tais circuitos são distintos do circuito responsável pelo nosso raciocínio lógico, o Cortex, e é importante guardar essa informação.

Estudos neurocientíficos propõem “que as sensações subjetivas de medo ou ansiedade não são produtos de circuitos subcorticais subjacentes a respostas defensivas, mas ao invés disso dependem dos mesmos circuitos subjacentes a outras formas de experiências conscientes, como atenção em memória (ai sim, o Córtex).

Minha interpretação, trocando em miúdos: Existe o medo e a ansiedade, sistemas que herdamos historicamente e que permitiram a nossa sobrevivência (fugir de uma onça na floresta, etc). Só que se um dia você vir uma onça na sua frente, antes de você raciocinar, vai sentir um calafrio e correr (amígdala). Agora a sensação de medo, ou a ansiedade… Tipo quando você está andando por uma rua deserta à noite com medo de fantasmas… isso talvez tenha mais a ver com seu córtex, a parte mais nova do cérebro, mais “racional”, que também trata de memória e decisões.

Por que é importante saber disso?

Porque estamos passando por uma epidemia de ansiedade.

Cientificamente:

Diversos estudos, de onde destaco os de Qiu et al., (2020) (7) e Wang et al., (2020) destacam o aumento dos níveis de ansiedade durante a pandemia resultante da Covid-19, causando alterações de comportamento significativas e duradouras. Assim, creio que a ansiedade afeta significativamente nosso mundo por um bom tempo.

Agora vou falar um pouco sobre as minhas experiências:

Ansiedade e Artes Marciais

Eu sempre gostei de artes marciais. Não significa que seja bom em alguma, mas sempre li bastante, e treinei um pouco. Agora pense num samurai em uma luta real: Ele precisa ver exatamente o que está na frente dele, ou pode pensar num futuro incerto? Não dá. Por isso os samurais adotaram uma prática budista para controlar a mente e “se livrar” de ansiedade, stress, etc. Se chama meditação.

Existe uma palavra muito citada em livros de artes marciais japonesas: Mushin. Mushin é o estado onde sua mente está vazia, livre das preocupações, e é com essa mente que você pratica as artes marciais. No início de cada treino, fazíamos uma meditação para esvaziar a mente e conseguirmos nos dedicar a tais práticas. Esse ritual ficou na minha mente. Esse ato de parar por alguns minutos, respirar controladamente, direcionar a energia do seu corpo e esvaziar a mente. E esse estado de mente vazia me foi extremamente útil em diversas situações, profissionais e pessoais. Esse era o meu segredo para controlar a ansiedade, voltar, ao menos em pensamento, para um lugar onde minha mente ficava vazia.

Ansiedade e as pessoas

Seja no ambiente profissional, seja no ambiente pessoal, me deparei com muitas pessoas em crise de ansiedade. E sempre busquei ajudar, seguindo mais ou menos essa sequência:

1 — Não ficar ansioso também. Se eu estou tentando salvar alguém que está se afogando, por exemplo, tenho que saber nadar, e não posso me desesperar, senão os dois se afogam. Ansiedade segue o mesmo princípio. Tem que tentar sair da espiral, e não entrar junto.

2 — Empatia. Tentar entender os motivos da ansiedade.

3 — Reduzir a incerteza. Ansiedade é o medo do futuro. Em certos casos, dá pra reduzir isso, traçando os cenários do futuro, e se planejando para ele. Em situações profissionais, podem existir estressores diretamente impactados pelo Product Manager, como pivotar muito a direção do Squad num curto período de tempo, sobrecarga de trabalho ou planejamento muito “aberto”, “incerto”, e é essencial que o PM leve em conta o bem estar da equipe ao tomar essas ações.

4 — Aconselhar ajuda médica. É importante saber o quanto você consegue ajudar, é o limite disso. Em casos graves, é possível que a melhor ajuda seja aconselhar a pessoa a procurar um médico. E obviamente, acolher a pessoa nessa decisão. Ansiedade pode ser uma doença, como bronquite é uma doença, ou como uma lesão, quebrar uma perna, um braço. Em todas essas situações, podemos aconselhar a pessoa a procurar um médico, e acolher ela durante o tratamento. Ninguém pediria para alguém que quebrou a perna subir pro escritório de escada né? Mesma coisa.

Ansiedade e Produto

Trabalhando com produtos de mídia durante a pandemia, notei uma alteração no comportamento do consumidor. Produtos onde você trás uma experiência mais informativa (inbound marketing) performam melhor. Existe uma explicação econômica para isso. Como vimos, por conta da pandemia boa parte da população tende a sofrer de ansiedade. E segundo estudos econômicos comportamentais, quando ansiosas as pessoas tendem a ser mais conservadoras em suas decisões. Exagerar riscos. (5). Em um formato mais informativo, você dá mais tempo e argumentos para sustentar a decisão do cliente, e é provável que o inbound marketing se aplique bem a essas situações por isso. Generalizando, creio que é importante a todo Product Manager estar sempre atento ao cliente, ao que se passa na mente do cliente, às mudanças de necessidades e de percepção das soluções. Por vezes, uma barreira de comunicação pode impedir o sucesso do produto, e é importante conseguir identificar isso.

Em resumo:

Ansiedade é o medo de algo que ainda não existe, de uma incerteza.

É também uma doença, que foi impulsionada pela pandemia.

A ansiedade nos motiva a tomar atitudes, nos move pra frente. Ela pode ser boa. Porém em excesso, a ansiedade pode nos paralisar.

Temos que estar conscientes disso, e se precisarmos buscar ajuda.

E se estamos bem, podemos e devemos ajudar quem está à nossa volta, seja como líderes, como profissionais, como colegas… mas acima de tudo, como humanos.

Minhas dicas para ajudar:

1 — Não fique ansioso. Se estiver, não tente ajudar, pode piorar. Um afogado não salva o outro.

2 — Empatia. A ansiedade é real. O perigo pode não existir, mas a doença sim. Entenda os motivos, e a dor da pessoa que está passando por isso.

3 — Reduzir a incerteza. Se for possível, ajude a entender se o perigo é real ou não, elimine os gatilhos, ajude a acabar com a incerteza que causa medo.

4 — Se não conseguir ajudar, não atrapalhe. Acolha a pessoa, aconselhe a procurar ajuda especializada (psicólogo, psiquiatra), e acolha. Ninguém mandaria alguém que quebrou o pé subir pro escritório de escada. É a mesma coisa. Entenda o problema, trate com respeito, solidariedade e acolhimento, e acredite que tudo vai dar certo. Pensamento positivo super conta :)

Bibliografia

(1) Dicionário Michaelis — http://michaelis.uol.com.br/busca?id=vKKM — Acessado em 23/01/2021 14h28min.

(2) Ministério da Saúde — https://bvsms.saude.gov.br/dicas-em-saude/470-ansiedade — Accessado em 23/01/2021 14h28min.

(3) (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders 5th Edition (P-189) Washington, DC: American Psychiatric Association.

(4) LeDoux, J. E., & Pine, D. S. (2016). Using neuroscience to help understand fear and anxiety: a two-system framework. American journal of psychiatry. https://ajp.psychiatryonline.org/doi/pdf/10.1176/appi.ajp.2016.16030353

(5) Hartley, C. A., & Phelps, E. A. (2012). Anxiety and decision-making. Biological psychiatry, 72(2), 113–118. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3864559/

(6) Dillen, N., Ilievski, M., Law, E., Nacke, L. E., Czarnecki, K., & Schneider, O. (2020, April). Keep calm and ride along: passenger comfort and anxiety as physiological responses to autonomous driving styles. In Proceedings of the 2020 CHI Conference on Human Factors in Computing Systems (pp. 1–13).

(7) Qiu, J., Shen, B., Zhao, M., Wang, Z., Xie, B., & Xu, Y. (2020). A nationwide survey of psychological distress among Chinese people in the COVID-19 epidemic: implications and policy recommendations. General Psychiatry, 33(2), e100213.

(8) Wang, C., Pan, R., Wan, X., Tan, Y., Xu, L., McIntyre, R. S., Choo, F. N., Tran, B., Ho, R., Sharma, V. K., & Ho, C. (2020). A longitudinal study on the mental health of general population during the COVID-19 epidemic in China. In Brain, Behavior, and Immunity (Vol. 87, pp. 40–48). https://doi.org/10.1016/j.bbi.2020.04.028

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Christian Zambra
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Passionate to learn; believes that new products are made to change people’s life for better; Fuzzy AND Techie :) B. Engineering & Advertising. Alma Matter: USP