Gabriel Queiroz
Produtos Take.net
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4 min readMay 6, 2016

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Ciclo da Invenção

Quando converso com as pessoas sobre a criação de novos produtos, de novas soluções ou de novas empresas, uma constante normalmente aparece: as pessoas não se veem como inovadores e, por isso, nem tentam inovar. Somado isso a nossa cultura do fracasso, criamos um ambiente que impede que milhões de ideias sensacionais venham a superfície.

Isso vem desde o primário. As escolas deveriam repensar seus modelos educacionais de memorizar matéria e fazer provas para provar que você “aprendeu”. Quantas vezes já ouvi professores falando para alunos que “ele começou o ano com 100 pontos e os perdeu quando errou aquelas questões na prova…”. Essa bobagem passa uma mensagem clara: Não erre, não arrisque. Se você errar você é ruim. E a culpa é sua, afinal você tinha 100 pontos e os perdeu. Empreendedorismo e inovação deveriam ser ensinados na escola desde a 1 série, porém muitos as veem como características inatas, que não podem ser ensinadas. Deveríamos aprender desde cedo a ter a coragem de arriscar, sem medo dos erros. Aprender com eles, melhorando nossas ideias constantemente.

Mas de fato, não é fácil quebrar esse paradigma e muito menos ensinar as habilidades necessárias e é aí que entra o trabalho da doutora Tina Seelig, diretora do Centro de Empreendedorismo em Stanford (Stanford Technology Ventures Program — STVP). Em seus estudos ela percebeu que um conjunto de habilidades estão atrelados uns aos outros e que falta um framework claro para ensiná-los. As habilidades são (em ordem hierárquica):

Imaginação, que leva a criatividade;

Criatividade, que leva a inovação;

Inovação, que leva ao empreendedorismo;

Todo processo de invenção e inovação começa da imaginação! E por definição, imaginação é enxergar coisas que não existem. Imaginar exige muita curiosidade, engajamento e a habilidade de criar ideais malucas em nossa mente.

Criatividade é aplicar a imaginação para resolver um desafio. Ideias criativas preenchem uma necessidade específica e são um manifesto para o mundo. São novas ideias para você, mas não necessariamente para o mundo. É importante distinguir imaginação e criatividade. Imaginação é pensar nas belas montanhas de Minas Gerais, criatividade é aplicar essa imaginação e fazer um desenho desse cenário imaginado.

Inovação é aplicar a criatividade para criar soluções únicas. Diferentemente da criatividade, ideias inovadoras são novas também para o mundo. Para isso é necessário enxergar o mundo com a mente aberta, desafiar suposições e conectar ideias de diferentes disciplinas (como um engenheiro resolveria esse problema de gestão de pessoas ou como um designer tentaria simplificar esse problema?). Os resultados dessas descobertas revelam oportunidades únicas e desafios que ainda não foram abordados da mesma maneira anteriormente.

Empreendedorismo é aplicar inovação para fazer com que as ideias inovadoras sejam realizadas. O empreendedorismo é absolutamente necessário em negócios pensados para resolver problemas através da inovação. Médicos empreendedores desenvolvem/otimizam a melhor maneira de conduzir procedimentos que salvam vidas. Professores empreendedores desenvolvem/otimizam as melhores maneiras de ensinar. Políticos empreendedores desenvolvem/otimizam leis que podem, efetivamente mudar a vida das pessoas.

E é aí que entra o ciclo da invenção:

Você deve ter percebido que, naturalmente, tem-se um ciclo vicioso. Quando um empreendedor executa sua ideia, ele é capaz de inspirar a imaginação de outras pessoas. Esse framework nos permite criar um processo para inovar. Agora que sabemos quais são as etapas, podemos identificar atitudes e ações necessárias para ensinar e aprender essas habilidades.

· Imaginação exige engajamento e a habilidade de visionar.

· Criatividade exige motivação e experimentação para resolver um desafio

· Inovação exige foco e exige repensar constantemente a solução para que ela seja única

· Empreendedorismo exige persistência e a habilidade de inspirar pessoas

Se lembra do modelo educacional do começo do texto? Percebe como ele trava o ciclo da invenção? Boa parte das empresas seguem a mesma linha de raciocínio e não se permitem errar. Podam a criatividade de seus funcionários e perdem a capacidade de inovar. Em pouco tempo, tendem a ser engolidas por empresas ágeis e corajosas, capazes de pensar e repensar melhores produtos e soluções. Essas empresas oferecem um ambiente que proporciona imaginação, dão liberdade para que seus funcionários sejam criativos e tentem inovar, sem medo de errar, instigando as habilidades corretas a todo momento para criar um processo criativo de verdade.

Uma equipe de produto deve funcionar dessa maneira, com liberdade para imaginar, espaço para ser criativo e liberdade para prototipar e aprender rápido. Toda experiência se transforma em aprendizado e assim, fatalmente, os melhores produtos serão criados. O desafio é grande, mas vale a pena!



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