O mundo pós-pandêmico exige pessoas generalistas: muito prazer, somos pessoas de produto :)

Isac Andrade
Product Solfácil
Published in
6 min readDec 9, 2022
Photo by engin akyurt on Unsplash

O mundo de produto é complexo e divide opiniões sobre como podemos explicar a atuação de uma pessoa nessa área. É comum na literatura digital termos a pessoa de produtos como o elo entre negócios, tecnologia e design.

O Brasil, no contexto de produto, tem um espaço vasto para desenvolver empresas tendo senso de produto como premissa de suas estratégias.

Falar de empresas no mundo globalizado, nos aproxima sobre uma visão de negócios plural e com dependências. Isso quando pensamos de forma tradicional, o que não faz mais sentido em um mundo pós-pandêmico onde os problemas antes velados foram escancarados a nível global.

Problemas como a digitalização tardia de serviços, processos e estruturas que não se sustentam caso haja uma alta demanda, o quanto a vida contemporânea está degradando a ecologia mundial entre outros fatores.

Como sociedade, fomos obrigados a colocar uma lupa sobre esses contextos. Estudiosos trouxeram duas classificações para propor características predominantes e facilitar uma visão crítica sobre o mundo.

O contexto do mundo V.U.C.A

Presente no mundo dos negócios desde os anos 2000, a visão do mundo V.U.C.A tem origem militar norte-americana para um mundo pós-Guerra Fria. O acrônimo tem por referência as palavras:

  • Volality | Volatilidade: mudanças rápidas com pouco tempo para adaptação
  • Uncertainty | Incerteza: compreensão dispersa sobre o que está acontecendo, sem previsão
  • Complexity | Complexidade: diversos fatores para análise, variedade de informações para tomada da de decisões
  • Ambiguity | Ambiguidade: informações não claras e/ou incompletas sem confiança para conclusão.
Photo by Tim Gouw on Unsplash

O contexto do mundo B.A.N.I

Apresentado por Jamais Cascio, antropólogo e futurista, durante um evento do Instituto do Futuro (IFTF — Institute of The Future), o conceito do mundo B.A.N.I vem para traduzir as necessidades atuais sobre um mundo em completo caos.

Consegue relacionar com o dia a dia de uma pessoa de produto ? :P

  • Brittle | Frágil: estamos expostos a avalanches de mudanças, tudo que tiver uma base frágil não se sustentará
  • Anxious | Ansioso: características mais presente na atualidade, o sentimento de que tudo é pra ontem gera um constante alerta
  • Nonlinear | Não-linear: a dinâmica do mundo é outra, planejamentos tradicionais não fazem sentido
  • Incomprehensible | Incompreensível: temos mais perguntas do que respostas, e se temos respostas essas são temporárias, não conseguimos ter controle sobre todos os eventos.
Photo by Taylor Deas-Melesh on Unsplash

Em Abril de 2020 Jamais Cascio trouxe um artigo sobre a Era do Caos onde explicita a relação entre V.U.C.A e B.A.N.I.

Os generalistas são pessoas de produtos ?

Com essa nova visão do mundo de negócios, podemos chegar em algumas habilidades necessárias para conduzir as estratégias e impactos que as empresas anseiam em ter.

Sobre essas habilidades é onde podemos colocar uma pessoa de produto.

Relacionar design, tecnologia, visão estratégica e gerenciamento ágil é uma forma direta de se pensar produto, mas para além disso, uma pessoa de produto não é apenas uma gerente, ou Product Manager, uma pessoa de produto é toda e qualquer personagem que tem como guia o senso de produto.

Antes de nos aprofundarmos sobre o senso de produto, é interessante trazermos algumas perspectivas sobre a especialização e o generalismo.

No livro “Por que os generalistas vencem um mundo de especialistas”, David Epstein articula em seu primeiro capítulo “O culto da vantagem inicial” sobre a visão ampla de mundo sobrepõe habilidades altamente especializadas.

Um contraponto ao que naturalmente entendemos, visto que o meio acadêmico traz desde o ensino médio a ideia de que é importante ter uma carreira definida para prestar o vestibular, de que a especialização é parte do progresso profissional e de que quanto mais se especializar melhor.

Epstein traz a teoria das 10.000 horas do neurologista Daniel Levitin para discussão com outros estudos sobre atletas de elites e seu tempo de treino dedicado.

A teoria das 10.000 horas pode ser resumida com a seguinte frase:

“Quanto mais cedo você começar a fazer uma atividade melhor, quanto mais tempo dedicar a tal atividade melhor”

Para Epstein ser generalista coopera para um crescimento pessoal e profissional, desde que se dedique ao processo de experimentação.

A discussão no primeiro capítulo chega à conclusão de que futuros atletas de elite costumam dedicar menos tempo desde cedo à prática na qual se tornarão especialistas.

A teoria das 10.000 horas se enquadra perfeitamente a eventos, atividades e práticas que têm um procedimento muito bem definido, padrão, onde se é possível ter previsibilidade.

Atividades complexas que necessitam de uma análise crítica requerem um conhecimento mais amplo, o que ser especializado e manter-se nesse espaço não coopera muito.

O clichê sobre a “visão do todo” é constante no mundo de produto e com as perspectivas de

Epstein e os conceitos de Cascio, chegamos a um ponto em comum:

“A diversidade em experimentação ajuda a tomar a melhor decisão possível, e o dia a dia de uma pessoa de produto é baseado em decisões”

Photo by airfocus on Unsplash

Vamos juntos crescer em diversidade

Decidir qual radiobutton utilizar observando o Design System da empresa, decidir qual mudança sistêmica que pode mudar o ponteiro do KPI ou OKR, decidir qual arquitetura de sistema tornará o produto mais escalável e sem futuros incidentes e outras várias decisões são cotidianas de uma pessoa de produto (seja o time de gerentes de produto, seja o time de design ou o time de tecnologia).

A diversidade no pensar pode ser exemplificada no processo de discovery (descobrimento) por exemplo.

O alinhamento para construção estratégica do produto é constante, afinal estamos em um contexto não-linear e que para não trazer tanta ansiedade demanda uma pesquisa, fase em que se coleta as informações para compreender se existe um problema real para o usuário.

Com isso a pessoa de produto e seus pares iniciam um processo de geração de ideia para entender e definir o que deve ser prototipado.

A execução e validação são processos onde se enxergam os impactos.

Nesse momento é que fica mais claro as variáveis que cooperam para o sucesso de produto:

  • alinhamentos entre stakeholder e áreas da empresa
  • comunicação clara e objetiva para os usuários e pessoas que tem contato direto com os usuários

Nem sempre a pesquisa (discovery) alcança clareza desses impactos.

Produto não é só discovery, mas execução e validação.

Para a empresa o processo mais importante é o refinamento onde temos a transição para a entrega final do produto e que, mesmo no caos, as pessoas de produto dedicam esforços para ter uma previsibilidade (frágil) sobre datas de entregas.

Produto é uma área diversa, em habilidade, pensamentos e visões, precisamos de forças para implementarmos pessoas diversas nesse contexto.

Para além do generalismo, precisamos de pessoas com vivências diferentes para construção de produtos eficazes e eficientes para o mundo caótico no qual vivemos.

Referências

--

--

Isac Andrade
Product Solfácil

Head of Product | Electrical engineer | (try) Writer 📚 Passionate about knowledge sharing and personal growth 🔍 Specializing in renewable energy sector