Parei, olhei, e quase não acreditei

José Carlos Antonio
Prof. JC
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2 min readMay 24, 2018

Manhã fria de maio. O sol nascendo friorento, crescendo preguiçoso entre a névoa pouca e refletindo no vidro do pára-brisas, queimava o fundo dos olhos como a querer me obrigar a fechá-los, a devolver-me o sonho mal dormido e abortado pouco antes em nome da rotina nauseante das sextas-feiras.

Chego na esquina da quadra do campo de futebol, onde nunca joguei, e diminuo a velocidade ao ver logo à frente o pedestre que ameaça atravessar a rua. Hábito estranho em uma terra onde os motoristas se imaginam donos das ruas e mesmo das calçadas.

Com um pé fora da calçada ele me olha, tentando prever se vou realmente parar ou acelerar ainda mais para mostrar quem manda ali, quem está dentro do automóvel, quem tem o poder de passar por cima e ainda reclamar dos que atrapalham o trânsito e não veem a premência de quem corre para o trabalho.

Paro, é claro. Adquiri esse hábito há muitos anos e isso se tornou tão natural quanto colocar o cinto de segurança ou me manter dentro dos limites de velocidade indicados nas vias.

Pago um preço alto por isso. Por vezes me ultrapassam olhando como que para alguém que não sabe dirigir, ou que não tem o que fazer na vida e por isso não tem pressa. Já fui até xingado por deixar o pedestre atravessar na faixa. Mas não ligo. Hábitos são hábitos.

Naquela sexta-feira eu parei o carro como sempre faço e somente pouco depois, quando já saia com o automóvel novamente, foi que me dei conta de que eu havia parado para que um cachorro atravessasse a rua.

Atravessando na faixa de pedestres

Por um momento me senti incrível. Eu havia parado para que um cão atravessasse a rua! Quase dei um “bom dia” para ele, mas ele já estava seguindo adiante e talvez nem me ouvisse. E provavelmente não me respondesse também.

Foi só então que me dei conta de que realmente não havia feito nada espetacular. Fiz o que sempre faço quando alguém, e agora também quando “algo”, atravessa na faixa de pedestres. É o que todos deveríamos fazer, não?

Só fiquei meio chateado por não ter dado bom dia para o cãozinho.

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José Carlos Antonio
Prof. JC
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Físico, professor, pesquisador, autor, formador de professores, especialista no uso pedagógico de TDIC, EAD e AVAs. Cronista por engano nas horas vagas.