Oq FaLAr De HoLlyWoOD, qUe Mal coNhEçO e JA CoNsiDerO pkas?! ;D

Henrique Nascimento
programação
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4 min readMay 9, 2020
pôster de divulgação de Hollywood (Divulgação/Netflix)

provavelmente eu sou uma das pessoas que mais odeia o Ryan Murphy e não é um ódio gratuito: comecei nesse universo das séries por The O.C. e Smallville, como qualquer jovem brasileiro sem acesso a uma TV a cabo, e logo depois eu descobri que, além das séries nas manhãs de domingo, o SBT também exibia séries tarde da noite e uma delas era Nip/Tuck (ou Estética, como havia sido traduzida).

nos primeiros episódios que vi, um dos protagonistas quase arrancava metade do pau tentando fazer uma circuncisão em si mesmo e, pouco tempo antes ou depois, não me lembro da cronologia, fazia um ménage à trois com Kate Mara e Sophia Bush, o que foi mais do que suficiente pra eu ter uma nova série favorita. porém, quem estava por trás de Nip/Tuck? isso mesmo, Ryan Murphy. e, como descobri com o tempo, ele acabaria arruinando tudo.

e daí em diante isso virou um padrão dele: ele fez Glee, que é superempolgante e viciante no começo, e depois vai definhando, com alguns altos e muitos baixos. aí ele colocou American Horror Story pra jogo e, apesar de apostar em um novo formato, com uma história por temporada, algo que poderia salvá-lo já que uma história dividida em várias temporadas claramente não funcionava para ele, conseguiu cagar também. Ryan Murphy não consegue colocar um fim nas coisas, o que é terrível.

Ainda assim, às vezes ele consegue fazer algumas coisas que nem parecem que foram feitas por ele. The Normal Heart, filme de 2014 sobre as primeiras manifestações da AIDS e o preconceito sofrido por homens gays, considerados os transmissores da doença, é incrível (e só de lembrar eu já começo a chorar).

ele também fez Pose, inspirada na cultura ballroom que perpetuou nas décadas de 1980 e 1990 em meio à epidemia da AIDS e construiu espaços onde pessoas LGBTQIA+, ainda bem longes das formalidades da sigla, mas existindo e resistindo no plano real, poderiam ser quem realmente eram; e acertou mais uma vez, de muitas formas. não dá para negar que quando Ryan Murphy trabalha algo que o atravessa pessoalmente, ele tem um cuidado muito grande.

cena de Hollywood (Divulgação/Netflix)

e em Hollywood, segunda série original criada por ele para a Netflix, ele fez mais uma vez. na produção, pós-Segunda Guerra Mundial, jovens atores tentam ganhar a vida na cidade e alcançar a tão sonhada fama e o prestígio que vem com ela. parece simples de cara, mas é justamente essa simplicidade que deixa as coisas mais interessantes quando o espectador começa a se dar conta deque Murphy usou a fórmula mágica que tem atraído o seu público por tantos anos para jogar na cara das pessoas exatamente do que falamos quando falamos de representatividade. “não entendeu? quer que eu desenhe?” e Ryan Murphy desenhou.

a série é piegas e, em muitos sentidos, parece um conto de fadas. se assistíssemos a um episódio por semana, certamente ficaríamos ansiosos pelo próximo, desesperados até, só para saber que, no final, o bem venceu e está tudo bem no mundo. Ryan Murphy pega alguns elementos reais, como a atriz Anna May Wong, primeira atriz norte-americana de ascendência asiática a se dar bem em Hollywood; Rock Hudson, um galã nas décadas de 1950 e 1960, que morreu de AIDS e com a suspeita de ter vivido uma vida no armário como um homem gay; e Hattie McDaniel, primeira atriz negra a ganhar um Oscar, mas que não pôde participar da premiação; mistura tudo, muda as coisas e cria uma Hollywood ideal, algo que engana e faz parecer que tudo era muito bonito naquela época.

cena de Hollywood (Divulgação/Netflix)

a chamada da série pergunta: “e se pudéssemos reescrever a história?” e, felizmente, foi o que o Ryan Murphy fez. e, ao fazer isso, entregou uma de suas melhores produções até agora. mais uma vez vou ter que dar o braço a torcer e dizer que, às vezes, ele até faz algo que preste. e pronto, parou aí, não vou mandar mais elogios. a ideia é manter a autoestima do Ryan Murphy baixa para que ele continue fazendo coisa boa.

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Henrique Nascimento
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Falo de cinema, de séries, de memes, da vida e, às vezes, falo um pouco sério.