Empresinha

Programador Sincero
Programador Sincero
6 min readOct 23, 2015

Se você trabalha em uma empresa que cabe em uma salinha, você está em uma empresinha.

Se a empresa depende exclusivamente de um cliente grande, você está em uma empresinha.

Se você faz parte de uma pequena equipe de desenvolvimento, você está em uma empresinha.

Se o seu gerente trabalha com escopo aberto e prazo fechado, você está em uma empresinha.

Se você trabalha com “scrã” e “agile” mas no fim tudo é um go-horse em meio a bugs de produção, você está em uma empresinha.

Se o seu gerente só conhece da área de negócio e não tem experiência na área de desenvolvimento, você está em uma empresinha.

Se o seu diretor nunca está na empresa e quando aparece é para reclamar, você está em uma empresinha.

Se a sua gerência vive prometendo coisas e não tem palavra, você está em uma empresinha.

Se você sofre com microgerenciamento de suas atividades, você está em uma empresinha ou você deu um azar do caralho em arrumar um micromanager na sua vida caso esteja em uma empresa maiorzinha.

Se você tem que fazer horas-extra sem parar e a empresa não está com vagas abertas, você está em uma empresinha.

Se você notar que as vendas aumentaram 20% mas o número de clientes ainda é o mesmo, você está em uma empresinha.

Se você notar que as vendas caíram 20% mas o número de clientes ainda é o mesmo e não há grandes mudanças na área de vendas, você está em uma empresinha (com chances reais de perder seu trampo).

Se você está programando e o cliente consegue influenciar seu fluxo de trabalho usando e-mails, ligações para teu celular, reclamações ou pressão, você está em uma empresinha.

Se você tem um gerente que não reconhece seu esforço com dinheiro, promoção ou mesmo e-mails decentes de agradecimento, você está em uma empresinha.

Se você não tem uma reunião de feedback periódica, você está em uma empresinha.

Se você não cria novos projetos com tecnologias atualizadas, você está em uma empresinha.

Se você está no mesmo projeto há mais de 2 ou 3 anos, você está em uma empresinha.

Se o gerente grita com a equipe, xinga, reclama ou baixa o nível de alguma forma desagradável, você está em uma empresinha.

Se a sua empresa está no mercado há muitos anos e ainda está numa salinha, você está em uma empresinha.

Se você trabalha com Visual Studio antigo, banco de dados antigo, Source Safe, desktop lento, monitor ruim, luz que não ilumina, ar condicionado que congela ou não distribui o ar corretamente, você está em uma empresinha.

Se você trabalha com gente fracassada e/ou depressiva, você está em uma empresinha.

Se você trabalha com gente que quer te foder a qualquer custo e só está a fim de roubar o emprego do chefe (tirando você do caminho), você está em uma empresinha.

Se você trabalha sem especificação do que precisa ser feito, você está em uma empresinha.

Se você trabalha sem controle de versão e integração contínua / testes automatizados, você está em uma empresinha.

Se a sua empresa não tem um plano de negócios claro e concreto dizendo aonde quer chegar em 1 e 2 anos, sinto muito, você está em uma empresinha.

Fuja de empresinhas! Nas entrevistas, pergunte tudo. Pergunte quantos clientes eles têm, quem são os clientes, qual o faturamento da empresa (se sentir que há espaço pra isso), converse com o seu chefe imediato, tente conhecer outros chefes e diretores e tente sentir a energia da empresa. Aperte a mão dele. O aperto de mão é um dos maiores filtros anti-filho-da-puta que existe. Não se esqueça de perguntar há quanto tempo o cara tá na empresa. Pergunte como são os projetos. Detalhadamente. Finja que você está em seu primeiro dia e pergunte o máximo de coisas, se você tiver interesse. Pode ser que o santo não bata e você só queira fugir da empresinha.

Se você puder escolher, escolha uma empresa que tenha mais departamentos, que já tenha um financeiro e RH organizado, que já empregue umas 50 a 100 pessoas. Fuja de salinha, empresinha, gerentinho, diretorzinho, programadorzinho invejoso-fracassado e analistazinho analfabeto.

Se você insistir em entrar na maldita empresinha (o medo de ficar pode significar muitas vezes a coragem para partir né! — vide o meu caso em https://medium.com/@programadorsincero/eu-espanei-71bd5979214b#.6nill2ygl) tome cuidado no seu primeiro dia. Provavelmente você entrará ganhando mais que todo mundo, porque você é um profissional sênior que merece o que está ganhando e não porque você está implorando por um aumento há cinco anos. Cuidado com a horda de fracassados e invejosos. Você terá que ser arisco e amigável com todos. Você terá que fazer seu trabalho muito bem. Você conseguirá tudo isso obviamente, e logo sentirá forças que tentarão colocar lastros de chumbo na sua carruagem. Vão te colocar pra resolver todas as picas, vão te fazer ficar alocado no cliente hostil, vão te fazer subir merdas em homologação de madrugada para que a homologação de fato aconteça dias ou semanas depois. Vão te colocar como o culpado das tretas. Vão sugar suas energias. Vão usar você até o fim. E não te darão nenhum tipo de recompensa emocional. O diretor continuará chegando com cara de bosta, reclamando e saindo numa merda de carro que vale mais que sua vida. E você ainda sentirá a energia ruim de programadores invejosos, que acham que manjam tudo. Você notará que eles sorrirão a cada derrota ou reunião com você. Você notará que o almoço será mais sozinho do que acompanhado com os caras. Você notará que os invejosos têm um grupo de whats e ficam o dia inteiro nele falando coisas exclusivas e te deixarão de fora das piadas. E você começará a ficar triste sem saber porque. Ficará desanimado. Pensará em deixar a peteca cair. Se sentirá inútil e odiado. E pensará em sair da empresa. Ou pegar férias. Ou gastar toda a energia que resta em um projeto pessoal impossível. E se sentirá cada vez mais gordo e cansado porque está comendo mais. E esse comer mais será a principal forma de compensação de sentimentos negativos.

Um dia você receberá uma proposta legal. Você irá começar o ciclo tudo de novo. Novos filhos da puta, novos “desafios”, novos problemas e novas pessoas no LinkedIn (gente de empresinha não recomenda ex-funcionário bom porque acha que é um grande “traíra” e tem raiva porque deixou tudo e todos na mão).

Precisa de tudo isso? Compensa o risco? Se for para entrar em empresa pequena, você tem que pegar uma startup com um modelo de negócio promissor, com gente que quer trabalhar e fazer algo bacana, com pessoas jovens e bem intencionadas e com energia para fazer as coisas darem certo. Pessoas unidas em prol de um objetivo nobre — deixar a sociedade cada vez melhor — produzem coisas fantásticas. Muitas vezes esse momento mágico pode acontecer em empresas grandes ou médias, mas o que realmente importa é chegar para trabalhar com a confiança de que todo mundo está dando o gás e que todo mundo está querendo o sucesso do projeto, da ideia e claro, da empresa em si.

Busque se desafiar! Mas combata apenas quando a luta valer a pena. Chega de lutar por causas perdidas! Chega de ser um salvador de projetos sem salvação! Chega de ser um cavalo puro-sangue a puxar uma maldita carroça sozinho. E, caso você esteja nesta situação incômoda, não deixe de focar em sua empregabilidade e tente entrar em empresa boas onde seus amigos já estejam atuando. Começar em um ambiente não-hostil é magnífico. Como a Lua nascendo no horizonte. Sempre há uma Lua e um Sol atrás das nuvens.

Um grande salve pra todos!

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