Entrevista de Merda 02

Programador Sincero
Programador Sincero
3 min readAug 6, 2016

Essa história aconteceu comigo. Eu estava de boa, no meu canto, no meu lugar, falando sim-senhor algum gerente de projetos e estava curtindo aquela região de São Paulo. Não tinha muito do que me queixar. Até que certo dia me ligaram para uma entrevista. Aí eu não tava fazendo nada, o lugar era no Itaim, o acesso era fácil e eu resolvi ir.

A vaga era para programador .net sênior. Na época eu sabia que não era tão sênior como eu desejava, mas para o mercado estava mais do que bom. E nisso, ao aceitar ir para a entrevista, cometi o primeiro erro: não perguntei quanto era o salário. Eu usava a estratégia de conhecer o máximo de empresas e pessoas possíveis porque eu confiava muito em mim mesmo, erro este que é um grande erro também. Nunca confie 100% em si mesmo. Pode ser que ainda haja espaço para erros, humildade e aprendizados novos.

Quando cheguei no lugar, novamente, um chá de cadeira. Entrei, registrei-me no prédio, peguei o elevador e de cara já não gostei do prédio, do cheiro, do ambiente e das pessoas. É incrível, mas parece que quando a vaga não é sua, tudo parece te avisar antes. Eu pensei em desistir, mas como eu tenho palavra, continuei.

Depois de aguardar quase 30 minutos, apareceu um cara qualquer. Ele era por acaso o gerentão da área. Claramente não havia lido meu CV e de cara já tinha me odiado. No primeiro trocar de olhares e na forma de cumprimentar, vi que não ia rolar e que eu já tinha perdido muito tempo. Ele perguntou o que fazia e perguntou quanto eu queria. Eu falei o valor, acho que na época, era uns 60 reais a hora. Aí ele disse: “Mas por que você quer 60/hora só para programar? Sabe Sharepoint? Sabe Nintex? Sabe WWF? Sabe alguma coisa disso?”. Respondi, com ódio: “Essa miséria que tô pedindo é o padrão que tão pagando por aí. Nada acima do normal.”. Ele contra-argumentou: “É que aqui temos uma política de performance que avalia de forma justa os conhecimentos, as experiências, o tempo de casa e a fluência nas tecnologias que usamos”. Eu respondi: “Nossa, que legal!”. Ele continuou: “Mais alguma dúvida ou algo que queira falar?”. Terminei dizendo: “Não. Obrigado.”.

Saí da sala com aquela sensação maldita de perda de tempo e ódio extremo. Peguei um ônibus, andei mais um pouco e peguei outro ônibus para casa. O ônibus estava lotado, cheio de gente com cara de bosta, um calor infernal e eu, com extremo ódio, fui cusão e passei empurrando todo mundo no busão. Coloquei meus fones de ouvido do celular, vi alguns e-mails e até tentei sorrir ao imaginar se eu tivesse conseguido a vaga.

Desde então, eu evito ao máximo investir meu tempo e dinheiro em entrevistas para vagas que não informem o valor esperado e não informem claramente quais serão as atividades. Depois de vários anos no ramo, é possível filtrar empresas boas e ruins já pelo anúncio da vaga. E, para quem quer mais detalhes sobre o salário e ambiente da empresa, sugiro fortemente visitar os sites lovemondays.com e glassdoor.com. Ambos os sites informam muitos detalhes que antigamente eram muito difíceis de conseguir. E quando a empresa é duvidosa, eu investigo no LinkedIn e no registro.br para saber mais sobre quem são os sócios, quantas pessoas trabalham e tudo mais. Hoje em dia, após muito me dar mal, só vou para entrevistas onde há muitas chances de contratação.

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