O que é um programador sênior de verdade?

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Programador Sincero

45 min readFeb 27, 2016

Um dia desses eu ouvi falar de um cara que se vende como sênior com um pouco mais do que 3 anos de experiência na área. Ele trabalha em São Paulo. E seu salário está acima do que pagariam para mim, no caso mais de R$ 70,00 como PJ. Seria ele um novo Bill Gates? Um novo Dijkstra? Um novo Ramanujan? Estaria o mercado tão bom assim? Seria eu o único a não conseguir esta grana? Não. Não é o caso. Esse cara é só mais um zé buceta no lugar certo e na hora certa, produzindo lixo rapidamente. Claramente não é um sênior. Claramente é mais um picareta. Vou enumerar o que você precisa para ter moral na quebrada e ser respeitado como sênior em qualquer lugar que pisar, seja no Brasil ou nos maiores centros mundiais. E mais além! Vou tentar explicar o caminho ao profissionalismo pleno na área e quem sabe, na vida pessoal também.

Fatos iniciais

Nenhum dos fatos abaixo te fazem ser sênior:

Fazer telas rápido
Entregar tasks rápido
Fazer CRUDs rapidamente
Entregar bastante em pouco tempo
Entregar mais do que todo mundo
Automatizar trabalho maçante
Resolver todas as “buchas” do ambiente de produção
Ser um programador rápido
Ser referência do cliente
Tocar projetos sozinho
Conhecer bem o sistema

Estes pontos servem apenas para você ter moral na quebrada com o seu atual empregador. Não serve efetivamente para você ter moral em qualquer quebrada. O maior erro das pessoas é focar apenas em se dar bem no emprego atual. Todos os itens mencionados acima são muito importantes para a sobrevivência em um emprego como programador. Mas para ser um cara bom, um sênior de verdade, respeitado e experiente, sinceramente, é preciso muito mais.

Vamos aos pontos importantes para você ser sênior de verdade!

Você precisa ter uma formação decente

É difícil ler isso depois de adulto, mas o seu futuro profissional é definido desde o começo da sua vida. Tudo faz diferença. Quando você foi para a escola, aos 5, 6 ou 7 anos, é importante que você tenha tentado aproveitar ao máximo o que foi apresentado para você. E infelizmente, o ideal é você ter tido um ensino decente, preferencialmente, numa escola particular. O ensino público de hoje em dia não dá base suficiente para nada, como era antigamente.

Se você tem um filho hoje, por favor, coloque-o numa escola decente nos primeiros anos escolares. Uma escola decente e particular vai forçar os alunos a absorver o conhecimento como matemática e português. E você, pai, fique em cima das notas. Fique em cima do boletim. Vá para os encontros de pais e mestres. Vá para a porra das coreografias que as crianças fazem para os pais. Vá no dia do Índio. Vá no dia da Árvore. É foda sair do Facebook para isso, mas é importante! Faça seus filhos terem medo de reprovar. Demonstre interesse genuíno pelo aprendizado deles. Demonstre amor e atenção com seus filhos. Recompense suas vitórias escolares. Essa vontade de aprender introjetada na criança desde muito cedo define o futuro do seu filho ou filha. Estudar em escola pública padrão de hoje em dia é simplesmente acabar com o futuro da pessoa. Aprovação automática, professores em greve, salas de aula ruins e cheias de alunos, crianças com problemas familiares, contato com menores infratores, etc… evite isso a todo custo. Se você mora em bairros ou cidades decentes, é possível que a escola pública seja uma boa opção. Mas mesmo assim, participe e analise o tempo todo se a situação está ok.

Na verdade, se der para nunca colocar numa escola pública, melhor ainda. E claro, não coloque em qualquer escola particular. Nosso governo nunca investirá em educação a contento. Nunca pagará o professor decentemente. O estagiário de bandido vai continuar riscando o carro da professora, vai continuar pondo o dedo na cara de tudo mundo, vai continuar influenciando pessoas neutras para o mal e vai continuar deseducando seu filho. E o estagiário de playboy rico, em escolas particulares boas, também farão este trabalho usando o argumento de que estão pagando o salário do professor. É foda. Estamos num país de gente atrasada e sem a menor honra com quem nos ensina e nos forma como pessoas. Temos que tentar contornar este problema e mudar este cenário, que inicialmente se muda com uma educação mais rígida e próxima… em casa. Portanto, é preciso, para ser sênior, ser uma pessoa com altos níveis de ética, moral, civilidade, educação e respeito ao próximo. Um cara que se diz sênior e não tem respeito com quem está no começo da carreira, não tem respeito com o cliente e não tem ética na profissão ou na empresa, não merece o cargo, nem o título nem o respeito dos demais profissionais. E claro, para ser sênior é importante saber aprender e ter curiosidade para aprender sempre mais sobre tudo - capacidade esta que é costumeiramente desenvolvida em escolas decentes. E por último, respeite as necessidades e vontades do seu filho. Grande parte do caminho está na própria força de vontade dele para progredir na vida. Ele precisa ter vontade de ir bem na escola, precisa ter vontade de crescer na vida e precisa de uma dose de dificuldades na vida para ter braços fortes para enfrentar a vida. Mesmo que você dê a ele excelentes condições, nada impedirá que ele tenha um emprego de merda a vida toda. Mas e ele tiver aquela energia primordial no sangue, se ele for um determinado, focado e tiver domínio sobre a força de vontade, ele poderá chegar onde quiser. Veja só esta notícia que apareceu enquanto eu revisava o texto: http://educacao.uol.com.br/noticias/2016/02/26/aluna-de-escola-publica-aprovada-na-unifesp-no-cursinho-nao-sabia-tabuada.htm

Voltando ao ponto da formação, infelizmente, é preciso que você faça um curso com algum tipo de vestibular concorrido. Se você fizer Fatec, colégio técnico, tecnólogo ou mesmo uma faculdade particular concorrida, ok. Você não precisa começar logo de cara passando na USP ou na Unicamp. Mas você, para ter uma formação decente, não poderá simplesmente fazer uma faculdade qualquer (isto é, qualquer outra que não seja USP, Unicamp, ITA, Fatec, FGV, PUC, Mack) e etc e achar que é está tudo bem, mesmo tendo bolsa e mesmo tendo Prouni. Dificilmente um cara que faz apenas este tipo de faculdade será disputado pelos RHs das melhores empresas. Dificilmente um cara que faz faculdade de bairro será respeitado como um excelente programador. Você pode até contra-argumentar dizendo que também recebe várias vagas por semana no LinkedIn. Mas os níveis das vagas que você recebe não se comparam com os níveis das vagas que caras que saem da USP recebem. Nas escolas de ponta há uma romaria de empresas implorando para pegar estes caras, mesmo que não tenham grande experiência ainda. Na faculdade de bairro, colocam os anúncios para as vagas medianas que também precisam ser preenchidas — aguardando você preenchê-las!

Sim. Considere fazer uma faculdade decente mais pra frente. Passe num vestibular. Veja seu nome na lista. Coloque no seu CV que está com o curso em andamento. Mesmo que você não termine seu curso, o fato de você ser melhor que X caras por vaga já prova que você tem algo a mais. E pode ser qualquer curso! Não precisa passar em medicina! Pode ser física, matemática, estatística (esse dá grana hein!), e por aí vai! O que peço encarecidamente aqui e falo pessoalmente para meus amigos mais próximos é que, pelo amor de Deus, nunca se acomodem com a vaga aparentemente boa que vocês têm e com a formação que vocês atualmente possuem. Nunca se acomodem por conhecer o sistema e ter moral na quebrada após seus 4 anos de empresa. Nunca.

Quando você sair de uma faculdade decente, seus esforços, noites sem dormir, fins-de-semana sem trepar, madrugadas tomando café e cachorro-quente… terão valido muito a pena. Seu suor, sangue, reprovações, lágrimas e ódios se converterão em boas vagas de emprego. Já nos seus estágios sua opinião será ouvida. No trabalho suas ações já serão valorizadas. Tudo muda. E isso facilitará muito o próximo passo de qual falarei no próximo ponto.

Por último, não tem jeito: você precisa ter um bom nível de inglês. Isto é: fazer entrevistas, calls e apresentações em inglês. Os grandes projetos que vêm para o Brasil são passados apenas para um grupo seleto de pessoas que conseguem atuar em equipes internacionais e têm “working proficiency” na língua. E para você estar neste grupo desde cedo é preciso ter contato com inglês. E isso custa caro. Seus pais precisariam ter investido nisso desde sempre. Se você não tem inglês e já está com seus vinte e poucos anos, você já está seriamente comprometido. Corra urgentemente atrás disso. Pratique. Veja filmes com legenda em inglês. Decore textos em inglês. Grave-se na frente do espelho falando o que decorou. Mexa-se.

Um dia falo só sobre certificações, pós-graduação e etc.

Você precisa programar muito bem

Não adianta. Você pode até ter um QI bem alto. Pode até ter um diploma do ITA nas mãos. Mas sem saber programar bem você não tem valor para o mercado. Ou seja, tenha atenção às malditas aulas de estrutura de dados que rolam no fim daquela sexta ou no começo da manhã. Entenda tudo o que se passa naquela lousa. Invista seu tempo ficando na aula até fim, não vá àquela festa da faculdade que tá cheia mulher (ok, vá sim! rs) e respeite o despertador às 7:00 da manhã. Não desperdice a sua única oportunidade de realmente aprender como escrever programas de computador. Se não conseguir compreender um tópico, pergunte nas aulas de reforço. Pergunte para os professores fora do horário. Vá para a biblioteca e busque conteúdo sobre isso. E claro, aproveite que hoje tem muita coisa na internet. Na minha época o acesso à informação de qualidade era bem mais limitado - tinha que usar o Cadê e o Altavista. Hoje em dia tem sites excelentes, cursos, MOOCs e muito mais. O mundo de hoje é maravilhoso para quem quer aprender.

Nos seus primeiros empregos, tente escrever um código que seja fácil de compreender não só para você, mas para os membros da sua equipe. Use nomes de variáveis muito claros. Seus professores irão falar merdas e merdas sobre colocar variáveis em cima do código, merdas em C, merdas em Java e merdas após merdas. Só pegue a parte das estruturas de dados e análise de algoritmos. De resto, escreva um código que pessoas normais queiram ler e possam entender. Use nomes de métodos bem maiores se for necessário. Crie métodos com poucas linhas (o método inteiro precisa saber na tela de um note, tipo umas 30 ou 40 linhas no máximo). Use LINQ, lambda expressions e lógica mais funcional quando der. Use uma ferramenta decente de refactoring de código para quebrar métodos grandes em outros menores. Antes de criar a funcionalidade, tente criar um caso de uso que passe dados e analise o retorno do método com asserções (ideia básica do TDD). Tente não criar métodos públicos que retornam void. Deixe claro o que você quer fazer. Se for muito complexo, descreva a funcionalidade na ferramenta de controle de tarefas, google docs, jira ou o quer que seja. E claro, coloque o link no código. Seja explícito. Leia bastante sobre código limpo, organização de código para outros consumirem e etc.

Construir um código que outros possam ler demonstra que você não é um micreiro mas sim, um profissional. Um profissional da área de software. E um profissional trabalha de forma profissional. Não faz cagadas básicas como perder código, colocar gambiarra em produção, pular etapas do processo de build ou coisas mais absurdas. É preciso ter muita seriedade ao se trabalhar com software, pois ele tem potencial para viver por anos e anos e principalmente, tem potencial para estragar ou alegrar o dia de muitas pessoas. E software pode influenciar diretamente o resultado operacional de quase todas as empresas.

Ah, de novo, leia bastante sobre como organizar o código, como desacoplar o seu código (se é que é possível isso! rs), como criar código legível, como explicitar as regras de negócio mais claramente… tudo isso é considerado parte da formação para um sênior ser realmente sênior no que faz. E admito: este passo é extremamente difícil e demanda dedicação contínua por anos. Eu, mesmo após anos programando, estou sempre vendo como diminuir a entropia do meu código (sim, a entropia sempre aumenta - até mesmo no código!). Não se esqueça de estudar os padrões clássicos de design, os padrões arquiteturais de hoje em dia e sempre fique antenado no que estiver saindo no InfoQ e em outros blogs.

Nunca pare de codificar na sua vida. Nunca. Sempre esteja atuando em algo que cedo ou tarde irá para produção.

Você precisa ter muita experiência relevante

Não adianta. Você pode até ter um QI bem alto. Pode até ter um diploma do ITA nas mãos. Mas sem experiência você não é ninguém. Os tempos de estágio servem para você descobrir quais áreas te interessam mais, quais tipos de projeto são mais a sua cara e provavelmente, os estágios definirão o rumo da sua vida profissional.

Ao atuar numa área, concentre-se em entregar os projetos. Mas além disso, concentre-se em entregar projetos que sejam relevantes para o seu crescimento. Quando analiso um currículo, geralmente observo a formação mas dou muito mais ênfase às experiências apresentadas. Observo as tecnologias e principalmente, qual o papel que o cara teve no projeto. Eu busco ver como é a evolução do cara ao longo tempo. Quero ver crescimento de relevância em seus projetos.

O seu primeiro ou segundo projeto realmente será um saco. Será uma porra chata cheia de cruds e telas para fazer a merda da validação. E terá o maldito gráfico e o relatório infernal que não cabe em uma página quando é exportado para PDF. Isso sem falar naquele deliciosos grid editável que varia conforme as permissões de quem tá logado. Todo mundo passa por este tipo de transtorno na vida, mas no longo prazo isso é bom porque você acaba ganhando um conhecimento prático das dificuldades do dia-a-dia que aparecem durante a construção de sistemas LOB (line of business), que geralmente empregam rios de gente. Com o passar do tempo, é importante você pegar projetos que te ajudem a crescer mais como profissional. Abaixo mostro os tipos de sistemas que ajudam ou não no seu currículo (na minha visão um pouco mais rigorosa):

Exemplos de projetos que não ajudam em merda nenhuma: Controle de aluguel de veículos da empresa, controle de uso da impressora, sistema de folha de ponto automático; sistema financeiro padrão, controle de propostas comerciais, etc.

Exemplos de projetos com alguma relevância: Nota fiscal eletrônica, SPED, controle de chamados, workflows mais complicados, e-commerces mais simples, back-office de sistemas administrativos em produção, ERPs customizados, sistemas mais complexos em geral.

Exemplos de projetos que alta relevância: Complex Event Processing, domínios mais complexos com DDD, TDD, etc, problemas que envolvam alta performance e escalabilidade (telecom, meios de pagamento), processamento digital de sinais ou imagens / visão computacional, machine learning, big data / analytics, business intelligence e por aí vai.

Experiência é muito mais do que participar de dois ou três projetos que tenham tido sucesso. É atuar, com projetos novos e relevantes por pelo menos 6 anos (10 mil horas). Não interessam pessoas “experientes” que tenham vivido apenas repetições de um mesmo ano. Portanto meu caro, se você manda muito bem no seu produtinho, no seu sisteminha, se o cliente te ama, se você tem uma equipe com várias pessoas abaixo de você mas seu business é trivial, sinceramente, nem vou te chamar para conversar. Você simplesmente não terá background suficiente para inovar, criar, inventar e transformar meu business. É doloroso ouvir isso, mas é um alerta. Desafie-se. Corra riscos. Corra o mundo. Corra perigo. Queira dar um fora.

Mude de empresa. Mude várias vezes de empresa. Comece sua carreira em consultorias que tenham vários clientes. Conheça pessoas. Conheça clientes. Conheça domínios diversos. Tenha uma formação pluralista. Atue em vários projetos. Fuja de sustentação comodista. Atue com vários tipos de programadores e vários tipos de projetos. Não se acomode, principalmente, se você estiver com pouca idade e muitas possibilidades. Quando vejo que um cara ficou em uma única empresa por muito tempo, com um único produto, com um único desafio (que é somente colocar o produto em vários clientes diferentes), eu desanimo e dificilmente chamo para entrevistar. Não importa o diploma. O que realmente importa é experiência. É trabalhar com um cara que já fez todos os tipos de cagada e tem muito a ensinar.

Um cara que atuou em vários projetos e empresas e tem pelo menos 10 anos de experiência provavelmente é um sênior com alto nível de qualidade e experiência. E este tipo de cara geralmente está muito bem empregado é uma grande sorte conseguir contratar este tipo de cara. Talvez seja mais fácil encontrar um unicórnio alado do que encontrar um desenvolvedor sênior de alto nível desempregado. Seja na tecnologia que for. Você sentirá isso na pele quando precisar de programadores de alto nível para seu projeto arrojado. Entrevistará uma muita gente que encontrar pelo LinkedIn. Fará perguntas técnicas para caras que cobram 10k CLT Full. Se decepcionará a cada ligação. Lembrará a cada frustração que há muito mais seniorzinho de empresa do que sênior de verdade. E ficará puto com o mercado a cada novo dia. É foda. Não queira imaginar o stress que é para achar um cara que seja sênior e tenha um inglês decente e queira correr o risco de mudar para a sua empresa.

Por fim, para você ser realmente um sênior, você precisa ter liderado algumas equipes e ter tocado projetos. Você precisa ter dado “File->New Solution” em pelo menos 3 projetos relevantes, grandes e/ou complexos. Não tem como falar em senioridade sem ter liderado equipes, interfaceado com clientes, distribuído requisitos para o time e mesmo, sem ter tido experiência com liderança de pessoas. É imprescindível ter alguns soft skills como liderança, comunicação, gerenciamento do tempo, comportamento exemplar e empatia com o time. E claro, é preciso ser um programador de qualidade. Atuar em 10 projetos como um liderado demonstra que você não progrediu como profissional e provavelmente não é o sênior que precisamos. Atuar em alguns projetos sendo o líder faz toda a diferença.

Não importa muito quais tecnologias um sênior de verdade conhece ou não conhece, contanto que ele esteja relativamente atualizado com as coisas que vêm saindo em sua área e não pare no tempo. E uma programador bom de verdade consegue aprender rapidamente uma tecnologia para um projeto, coisa que muitas vezes um programador me(r)diano que conhece tudo sobre Angular não consiga.

Você precisa estudar muito (até mesmo para se defender)

Provavelmente você já sabe que precisará se atualizar para sempre nesta área. Diferentemente de Engenharia, Medicina, Direito, Arquitetura ou Artes, é preciso estudar o que está acontecendo com uma velocidade incrível. A cada maldito dia sai uma biblioteca fantástica em Javascript. A cada dia o hype cycle muda para alguma tecnologia interessante.

Você precisa, antes de se atentar às mais diversas tecnologias, entender quais são os fundamentos de todas as tecnologias. É preciso ter bastante cultura geral. É preciso entender e já ter sentido os problemas que um determinado framework resolve. E isso leva tempo. Muito tempo. Estamos falando de estudar ao menos uma hora por dia. Seja por vídeos, seja por livros. Não tem jeito. Infelizmente. Procure entender como funciona o MVC, o MVVM, o MVP, onion architecture, ports and adapters, SOLID antes de tudo. Depois de ter isso claro (isso leva pelo menos 1 ano de estudos), aí sim, você pode procurar sobre como cada framework resolve qual problema. Na verdade, entender quais problemas eles resolvem vale tanto a pena quanto entender como o framework funciona. Por exemplo, teoricamente o AngularJS é uma forma de se organizar o código de uma tela. Mas tente entender por que eles inventaram este framework. Tente entender quais são as forças que definiram o design do projeto deles. E mais importante: tente entender quais os motivos que levaram à recriação do AngularJS na versão 2. Aprender frameworks é legal, mas aprender com as dificuldades dos outros é uma bênção. Quando se vai a eventos técnicos, basicamente, queremos aprender com erros e acertos de outros times. Isso vale muito mais do que aprender um framework X.

Para estudar é muito importante praticar em casa. Crie alguma coisa básica em casa, para testar arquiteturas, tecnologias, frameworks, etc. O mais interessante ainda é ter um projeto pessoal onde você possa brincar à vontade, sem pressão do prazo, sem pressão da tecnologia usada, mas que se der certo pode render uma grana extra. Um programador deve sempre buscar colocar o que está fazendo no ar. Se a sua empresa não usa DDD, não tem problema. Treine o seu projeto. Se a sua empresa não quer usar Java 8, treine em casa. Scala? Laravel? MongoDB? Mesma coisa. Tenha um note decente, monte ambientes com Docker e seja feliz. Teste. Erre. Acerte. Cada vez mais.

Com novos conhecimentos no seu bolso, você irá para a parte mais difícil, que é convencer o time a buscar uma forma melhor de fazer as coisas. E ninguém tá afim de evoluir, buscar aprender novas formas de trabalhar, ou sequer, conhecer direito a própria ferramenta de trabalho. Tem cara que passa uma vida sem saber o que faz o “yield” no C#. Tem cara que passa a vida inteira sem entender como funcionam as funções “map” e “reduce” no javascript. Aliás, tem cara que passa anos e anos com medo de migrar a solução do .net 2.0 para 3.5. Tem gerente que colabora desestimulando a migração com o argumento de que “vai precisar retestar o sistema inteiro - você coloca isso na sua conta?”. Quando chega um cara querendo usar técnicas mais corretas… dá merda. É possível que você até seja mandado embora por fazer o correto e acabar “fodendo o sistema”. Para que isso não aconteça, você precisa estudar bastante. Você precisará se defender caso a equipe compre a sua proposta e você assuma o ônus de provocar a evolução na equipe.

O fato de não estudar é o principal fator para que os profissionais do mercado não inovem. Esta falta de conhecimento acaba virando arma para os incompetentes que estão no cargo de gestão, que vivem com medo de mudar o mundo, vivem com medo de ver o sistema parando, vivem com medo de perder caras acostumados a mexer no sistema… e claro, vivem com medo de se foder com as metas e a PLR. Uma merda completa e infinita que inclusive afeta diretamente o crescimento do Brasil no mercado internacional de software. O Gerente Tradicional Brasileiro é o típico filho da puta que não serve para nada a não ser controlar a linha de produção, a fila de bugs, o andamento das tasks e etc. É um cara facilmente descartável, que vai pra reuniões, cria planos de ação, faz calls e mantém a tudo funcionando na santa paz do Senhor. O GTB não quer correr riscos. Não é capaz de defender uma melhoria no status quo sem que seja absolutamente necessário ou sem que tenha algum ganho como melhoria de sua visibilidade na empresa. Não é capaz de estimular a equipe a evoluir tecnicamente. Não estimula qualquer tipo de mudança ou inovação, até mesmo porque, gerencia o que não conhece profundamente e as pessoas que codificam também não conhecem a fundo o próprio trabalho. E este círculo vicioso (falta de conhecimento -> falta de motivação para mudar -> estagnação -> falta de conhecimento….) perdura eternamente neste país.

Estude. Faça a sua parte. Nem que seja para fazer algo empreendendo. No teu produto. Na tua empresa. Conhecimento, informação e saber concreto são as principais armas de um sênior de verdade. Ele sempre será questionado das mais diversas formas (respeitosas ou não) e precisará ter as respostas mais convincentes possíveis. Estude. Faça a sua parte. E nunca, nunca esteja em uma empresa onde sua opinião devidamente qualificada e endossada por evidências não seja ouvida.

Saia do seu casulo. Exponha-se.

A primeira fase da brincadeira acabará quando você chegar a um nível de maturidade suficiente para conversar com outros programadores de outras empresas em comunidades do Facebook, listas de e-mail e etc. Este tipo de troca de informações é fundamental para o crescimento pessoal e mesmo que você fique no read-only das comunidades corretas, você estará aprendendo muito com o erro dos outros. Mas haverá um salto de qualidade substancial quando você tiver condições de efetivamente comentar ou ajudar outras pessoas do grupo ou da lista. Neste ponto você começará a ter um nome no mercado. Você deixará de ser um programador .NET/Java/C++ Sênior com X anos de experiência para ter um nome: você será o Carlos que é um cara bom de WPF; será o Moacir que é manja tudo de sistemas distribuídos; será o Marcelo que domina bem machine learning e está na startup XXX. Sacou? Ao se expor e aceitar todos os riscos inerentes à exposição, você acaba tendo ótimos ganhos. As pessoas passam a saber quem você, onde você trabalha, quais tipos de projeto mais te agradam. Ter um nome na comunidade pode ser um extremo facilitador em processos seletivos de vagas mais altas. Um sênior de qualidade indiscutível dificilmente se arriscará indo para empresas desconhecidas com pessoas desconhecidas. Ter um nome respeitado na comunidade é uma enorme vantagem.

Escreva blogs. Coloque alguma bosta no Github. Ajude alguém. Faça a sua parte. Exponha-se. Se não quiser ter um blog, escreva um artigo técnico no Medium que já resolve. Divulgue seu conteúdo. Venda-se. Tenha um LinkedIn bem atrativo. Tenha histórias pra contar. Vá a meetups (www.meetup.com), vá a eventos e congressos da área. Exponha-se. Tenha um cartão de visitas para poder trocar nestes eventos. E claro, tenha algo interessante para compartilhar. Nem que seja um sorriso. Nem que seja uma história para contar.

Grande parte das excelentes oportunidades de emprego surgem dos chamados “vínculos fracos”, que são aquelas pessoas com quem você teve uma relação de curta duração e que não são amigas a ponto de ir para sua casa e tal - talvez você nem as tenha no seu celular. Mas pode acontecer de você ser lembrado por um post no LinkedIn por uma delas! Às vezes uma entrevista bacana em que você deixou uma boa impressão, uma conversa numa conferência, um comportamento amistoso na lista de e-mail… tudo isso pode te ajudar na próxima entrevista de emprego top.

Todas as contratações envolvem uma enorme dose de risco. É preciso ter muita coragem para pagar 10 mil reais CLT + benefícios para uma pessoa completamente desconhecida, que não tenha LinkedIn, que não seja endossada por ninguém em lugar nenhum. Este risco pode ser parcialmente diminuído com aplicação de testes, entrevistas em grupo e o caralho. Mas sinceramente, ter uma imagem pública ajuda muito ao decidir quem contratar. Pense nisso.

Relacionamentos são importantes. Mesmo.

Este pedaço do texto é redundante. Mas sempre é bom relembrar que:

Um sênior é um profissional que além de tudo é de “confiança”. Ou seja: você, como sênior, será consultado em questões como performance do seu time, contratação de novos integrantes, demissão de colaboradores (seja por cortes, seja por baixo rendimento, seja por padrões comportamentais), feedbacks diversos… Logo, observe tudo o que ocorre à sua volta. Não cometa o erro de apenas programar bem e/ou melhor do que tudo mundo da sua equipe.
Você precisará se reportar a vários gestores. Provavelmente, como o sênior e líder da sua equipe, você será chamado para dar uma opinião importante em vários problemas e decisões.
Você terá que almoçar, jantar, beber e sair com as pessoas de todos os níveis da sua empresa. Isso envolve também visitas a clientes, conversas adequadas (mais sobre isso abaixo) e principalmente, postura adequada. Não faça merda em churrascos ou festas de fim de ano. Não beba demais a ponto de perder o controle de si. Mantenha-se sob pleno controle e deixe os outros beberem (assim você saberá quem são seus amigos e inimigos de verdade!). Nunca deixe de ir a eventos que todos forem. Sempre fique um pouco mais tarde — as grandes coisas acontecem quando a maioria do pessoal vai embora e certas conversas acontecem espontaneamente. E sim, você terá um custo extra com amigo secreto, almoços mais caros, festas e afins. Vá em tudo.
Você precisará ter a confiança da sua equipe. Logo, você precisará ter uma relação bacana com seus subordinados e também precisará defender sua equipe quando for necessário. Se o cliente é um filho da puta (quase sempre é!), você não precisa ser outro. Apresente feedback direcionado, com argumentos sólidos e que realmente busque melhorar a performance do seu liderado.

A forma como o sênior é visto na empresa vai muito além de questões técnicas. O cara que quer ser visto como uma pessoa valorosa para qualquer empresa precisa entender que grande parte do perfil sênior está na forma como ele é visto ao se relacionar e se posicionar. Isso é muito difícil de aprender e mesmo aceitar para quem tem um perfil mais técnico e mais introspectivo, mas é a realidade. Aceite que dói menos.

Se você tiver ótimos relacionamentos, sempre aparecerão indicações de amigos que estão em outras empresas e queiram te puxar. Todo mundo vai querer chamar o Carlão para trabalhar se ele for brother. E os gerentes vão adorar ter o Carlão na equipe se ele for um cara que faz o que a gerência pede e ao mesmo tempo, comunica à gerência tudo o que acontece na equipe. Sim, um cara de “relacionamentos” precisa ser um maldito leva-e-traz sem ser cusão, filho da puta ou antiético - uma linha extremamente sutil! Se você não concorda, pense do lado oposto: se você tivesse uma empresa e ela tivesse um tamanho considerável (mais de 100 pessoas)? Como você faria para gerenciá-la? Como você faria para saber tudo o que está acontecendo? Como você faria para saber o que toca na rádio-peão? Pois é, você entendeu.

Passos para se tornar um cavaleiro de ouro

A partir deste momento, cumprindo os requisitos acima, sinceramente, você apenas começou a sua jornada para a excelência. Este caminho é muito longo, talvez infinito, mas quem tem realmente vontade de evoluir não consegue fugir do caminho que explicarei aqui.

Sobreviver em empresas, até mesmo ter uma carreira e um planejamento plurianual em algum lugar exige as coisas que mencionei acima ou até mais (daria para escrever um livro sobre isso). Para a vasta maioria das pessoas comuns - sêniores de mercado que vemos aí - está legal. Um emprego bom, salário bom, relacionamentos bons, moral na quebrada - tudo o que queremos para ter aquela deliciosa(?) estabilidade e previsibilidade. Nada como ter um emprego onde você possa ter paz para construir sua casa ou pagar seu financiamento sem tirar os seus filhos da escolinha da Tia Odília que eles tanto amam.

Porém, para certos caras especiais e diferenciados tudo isso é muito pouco. A paz é sinônimo de morte em vida. Este conformismo, esta previsibilidade, esta certeza de que tudo dará certo é muito depressiva e tediosa! Há certas pessoa que querem muito mais. Elas querem algo que talvez nenhuma empresa possa dar sozinha. Elas querem algo que talvez nunca poderão ter de formas convencionais.

Para estes poucos que possuem este “problema”, este “vírus”, o “espírito fundamental da criação”, há certas características que quando dominadas tornam este sênior um profissional e pessoa muito acima da média. Este tipo de cara fica pronto para trabalhar em qualquer empresa, em qualquer área, em qualquer produto e em qualquer projeto dominando estas habilidades. Ele se torna um cavaleiro de ouro. Um cara que quando sai de qualquer empresa se torna inesquecível e raramente consegue ser substituído a altura. Vamos a estas características, que eu vi em pelo menos 3 caras durante a minha vida e que eu, do fundo do coração, desejo desenvolver para quem sabe um dia, ter o respeito deles:

Fome de aprendizado

De certa forma, todo o cara que está em TI precisa estudar para se dar bem, para manter o emprego ou principalmente, achar um emprego melhor. É preciso estudar uma caralhada de coisas. É realmente um saco ter que entender quais são as diferenças do React x Angular, quais são as manhas pra fazer queries no Cassandra ou no MongoDB, como funcionam os malditos promisses no Javascript e por aí vai.

Entretanto, há uma clara diferença de perfil quando o cara busca ser um excelente sênior: ele estuda as coisas da área por prazer, porque gosta, porque sente vontade de evoluir e sente um brilho nos olhos ao fazer isso. Ele vai atrás, testa, vê vídeos sobre o assunto, se informa, faz paralelos com o seu ambiente de trabalho e dissemina as informações para a sua equipe mesmo que seja de forma totalmente informal, no café.

Este tipo de profissional realmente sente tesão pelo que faz e busca sempre fazer as coisas da melhor maneira possível. Esta postura é admirável/invejável/inspiradora é o divisor de águas entre o cara que ficará para sempre no conforto da mediocridade e o cara que ascenderá na carreira ou no empreendedorismo.

Um zé-empresa/zé-carreira sempre vai contra-argumentar dizendo que não é pago pra estudar fora do horário comercial, que ela precisa ter projetos legais para ele aprender a tecnologia nova, que nunca cai nos projetos legais da empresa e blá blá blá. Mas eu respondo que o responsável pelo nosso crescimento somos nós mesmos. Não se limite ao que a empresa oferece. Se tiver prazer em fazer algo na área, não deixe de fazer só porque não dá dinheiro ou porque alguém já fez, a empresa não vai usar ou qualquer outro motivo. Apenas mexa-se, faça o que tiver vontade e deixe fluir. Às vezes o tesão aparece neste tipo de atividade, o que pode levar você a ser um grande sênior no futuro. A fome de aprender é combustível de pessoas criadoras e construtoras deste mundo.

Resiliência

Embora este assunto seja tratado diariamente no LinkedIn, sinto que pouquíssima gente realmente saca este conceito. Se você não sabe o que é, resiliência é aquela força interna para insistir e resistir quando tudo dá merda, quando tudo sai do controle e quando parece que você vai se foder mesmo.

A resiliência me parece ser um dos níveis mais altos de evolução profissional. Os profissionais que possuem esta características são extremamente bem quistos no mercado. São vistos como salvadores, dedicados, fortes e pau-pra-toda-obra.

Se você sonha em ter cargos de liderança, cargos de chefia, sua própria empresa ou coisas assim, antes de sair de casa, assegure-se que você é resiliente. Busque força interna sempre. Quando aparece um bug crítico. Quando o cliente xinga e põe o dedo da sua cara. Quando a gerência se movimenta para abandonar o projeto. Quando a sua equipe é parcialmente desmobilizada e demitida. Quando a equipe te odeia. Quando todas as merdas começam a acontecer ao mesmo tempo. Quando ocorre brigas dentro da equipe. Quando o projeto é uma merda. Quando você está numa empresinha e tem condições de apitar.

Todas estas situações são testes, como ventos e ondas para testar se o barco vira e afunda. A grande verdade é que a maioria das pessoas é fraca e já quer desistir diante das dificuldades maiores ou crises. Mas o sênior resiliente sabe que tudo dará certo, que tudo passará, que as dificuldades acalmarão e tem a devida paciência para dar tempo ao tempo. Consegue dominar as emoções e consegue inspirar a equipe a continuar.

Muitas vezes, um sênior resiliente acaba se tornando peça-chave da média gerência porque consegue colocar para o time o que precisa ser feito para continuar o projeto com sucesso. Em épocas de crise, os laços entre as pessoas aumentam, a integração entre os níveis gerenciais e não gerenciais aumenta, aumenta a união da equipe e uma crise superada acaba gerando um ganho muito maior do que a preservação do projeto: a empresa passa a ter realmente um time e não, um amontoado de pessoas dividindo o mesmo ambiente.

Passar confiança, serenidade, otimismo e planos concretos para resolver a crise ou problema crônico: não é uma obrigação do sênior, mas é uma característica fantástica de um sênior com um grande futuro nas mãos. Quando você for gestor e encontrar este tipo de cara, nunca deixe-o sair da empresa. A perda pode ser irreparável.

Se você é um cara resiliente, parabéns! Mesmo! Neste nível você será chamado para muitos projetos interessantes em vários tipos de empresa. Nunca te faltará trabalho. Nunca te faltará emprego bom. E sim, você já tem um enorme respeito meu.

Comunicação

Para um cara ser visto com um sênior…. ele precisa ser visto com um sênior. Percebido como um sênior. Pensa bem: se o cara escrever tudo errado, se fala “pra mim fazer”, se fala “menas coisas pra testar”…….. temos um problema. Sério. Não dominar a língua pátria demonstra que o cara não leu livros suficientemente, não escreveu bastante na escola, não teve uma formação adequada e não buscou melhorar com o tempo. Não “seje” esse cara. Não passe vergonha ao escrever um e-mail. Não envergonhe seu chefe. Não se queime. Releia seus e-mails antes de enviar. Concentre-se no que está fazendo. Não cometa erros crassos. Uma comunicação escrita adequada abre muitas portas. Uma comunicação objetiva (e-mails de 3 parágrafos em 95% dos casos) ajuda muito também.

Pessoas que escrevem bem geralmente possuem um raciocínio mais claro e um grau de ordem mental melhorzinho — exatamente as mesmas características necessárias…. para programar bem! Então, vamos combinar uma coisa hoje: quando for contratar um programador, escolha o que tiver o melhor nível de redação (https://gettingreal.37signals.com/ch08_Wordsmiths.php). Aliás, sempre aplique uma redação no seu processo seletivo quando der. E outra: se estiver em IM, mantenha sempre um grau decente de formalidade até vocês virarem amigos e começarem a se xingar.

Um sênior de alto nível precisa se comunicar bem também de forma falada. Isso é muito mais difícil e chega a ser uma arte. Evite falar rapidamente, varie o seu tom de voz para não ser monótono, tente falar devagar e com objetividade durante ligações telefônicas. Evite gírias.

Quando for apresentar algum trabalho, prepare-se para a apresentação. Treine na frente do espelho. Se tiver coragem, grave-se por 5 minutos. Tente corrigir seus erros. Busque a melhoria contínua. Espelhe-se em talks da TED. Veja como eles interagem com o público. Lembre-se que você está sempre vendendo sua imagem de sênior, de líder, de representante do time, de representante da empresa. Aproveite as chances que tiver para falar em público para se vender. Uma comunicação clara e cativante abre muitas portas. E aumenta muito o respeito do cliente por você, sênior de verdade que está chegando para ter moral na quebrada com tudo.

Evite usar palavrões nos primeiros contatos. Quando aumentar as interações e a frequência das conversas, não deixe de usar palavrões. Quem tem um bom humor e usa palavrões passa muito mais confiança nas relações. Em geral, quase todo mundo tem medo de pessoas que mascaram seus reais sentimentos. Aliás, usar palavrões é bem bacana para aumentar a intimidade com a equipe e ajudar a quebrar barreiras. Mas lembre-se: sempre mantenha a formalidade em comunicação por e-mail e eventualmente, em IM/celular/etc, seja bem objetivo e modere na informalidade. E nunca, nunca escreva errado em qualquer meio de comunicação.

Outro aspecto da comunicação é saber se integrar bem com outros times. Você como sênior precisa saber o que está acontecendo em outras equipes. Comunique-se. Venda internamente o que sua equipe faz. Saiba o que as outras equipes fazem. Sente na sala com eles quando der. Pergunte sobre tudo e demonstre interesse genuíno no trabalho dos seus colegas de outras equipes. Um sênior de verdade é um eterno curioso, e ele quer saber sobre absolutamente tudo o que acontece no software que no fim do dia ele ajuda a entregar para o cliente. A curiosidade é um dos drivers da comunicação entre pessoas. Um cara só inicia uma conversa com outra pessoa porque tem necessidade de obter algum tipo de informação em geral. Seja curioso. Saia da porra da sua cadeira. Tire o fone de ouvido. Tome café com o pessoal. Almoce com pessoas diferentes. Quando for para o cliente, dê detalhes do seu projeto mesmo que não perguntem naquele café inocente. Às vezes é uma boa porta de entrada para você saber mais sobre outros projetos deste cliente, movimentos corporativos, rádio-peão, e etc. E claro, é uma boa oportunidade de outros saberem o que você faz e como você faz.

Por fim, um sênior que quer vestir a armadura de ouro precisa fazer o que poucas pessoas conseguem fazer. É muito importante sentir as coisas. A intuição é uma forma indireta de comunicação do seu subconsciente/inconsciente/sei-lá-o-quê com a sua mente consciente (há outras explicações mais exatas, mas se eu pontuá-las aqui vão descobrir quem sou na vida real!!!). Sinta como está a sua equipe. Sinta como está aquele cara do projeto. Sinta quando o chefe não tá feliz com você. Sinta quando o cliente está para te foder. Um sênior de verdade nunca é pego de surpresa. Em hipótese nenhuma. Já sabe quais serão seus erros, seus pontos elogiosos, quando será promovido, quando será demitido, quando mudará de projeto. Um sênior sente as coisas, fica curioso e vai para confirmar o que pensa, comunicando-se adequadamente com as pessoas certas.

Aliás, cabe um parênteses aqui: um sênior de verdade sabe com quais pessoas deve se relacionar. Infelizmente, há pessoas que não merecem um emprego e estão roubando a oportunidade de outras pessoas. E estas pessoas muitas vezes são vampiras, buscando se alimentar de sentimentos que as pessoas emanam através do medo, angústia, depressão e coisas assim. Logo, o sênior que tem inteligência emocional conversa com estas pessoas, mas não entra em sintonia com discurso depressivo, perdedor, invejoso, falacioso, fofoqueiro e maledicente. Mesmo que você não tenha planos de ser um sênior de verdade, esta dica ainda é importante. Não se relacione com perdedores, fracassados, depressivos, cusões, filhos da puta ou qualquer tipo de pessoa que não te fará bem. O mundo já está cheio de gente assim. O seu mundo particular precisa ser assim também?

Postura e Aparência

Este tópico é altamente controverso. Mas infelizmente, o ser humano compra o que vê. Ninguém paga por uma lata amassada ou produto com embalagem feia. Ou seja, você é julgado o tempo todo. A forma que você se comunica é um pedaço deste julgamento. Mas você é julgado por tudo. Suas roupas, suas postura corporal, sua forma física, barba, cabelos, sapatos, marca de celular, marca do notebook, seu carro, seu cartão de crédito ao pagar a conta… Tudo.

Um sênior de verdade nunca se esquece de que está se vendendo e sendo julgado o tempo todo. Portanto, ele sempre vai trabalhar com roupas decentes, bem passadas e calças ajustadas - nunca ande com calças muito largas e caídas. Um sênior de verdade sempre anda com a postura ereta e expressão de ânimo no rosto. A roupa, em especial é importantíssima para ajudar no seu julgamento diário. Se a sua empresa permite que se vá com roupas casuais, vá com roupas decentes, bonitas, bem ajustadas ao corpo. Faça a barba direito. Corte o cabelo direito ou deixe-o crescer direito. Cuide dos seus dentes. Cuide do seu hálito. Cuide do seu suor excessivo. Troque de camisa ou camiseta sempre. Troque de jeans a cada 2 dias. Se puder ir de bermuda, vá com uma bermuda bonita. Vá com um tênis decente e bonito. Ou vá com um sapato decente. Nunca use um sapato preto com meias brancas. Na verdade, nunca use meias brancas. Nunca use cuecas rosas que possam aparecer e te dar motivos para ser zoado pela equipe! Se você for mulher a ler este post, não sei muito bem como indicar roupas de forma imparcial, mas recomendo não abandonar sua feminilidade - evite usar roupas masculinizadas demais. Eu particularmente acho muito feio ver uma mulher de camiseta e jeans trabalhando como se fosse um moleque. E acho inadequado uma mulher ir com uma saia extremamente pequena e decote excessivo (na verdade não acho! rs). Ao se vestir, comunique profissionalismo e tente comunicar que você, tanto homem como mulher, possui seriedade no que está fazendo.

Sobre carros: infelizmente também, precisamos ter um carro decente. Não tem como. Só conseguimos comunicar progresso muitas vezes com a aquisição de bens materiais. E isso é foda. Muitas vezes, pra ter moral na quebrada e ser respeitado, compensa comprar um bom carro. Isso funciona mesmo. Um sênior que leva seu cliente ou sua equipe num Civic para almoçar tem muito mais moral na quebrada do que um cara igualmente competente que vai trabalhar de celtinha, gol quadrado ou o que qualquer carro que tenha o nome do diminutivo (já reparou que todo carro *inho ou *inha é uma bosta? rs). É caros amigos. Um carro para um cara sênior muitas vezes faz parte do jogo e esse custo, embora seja muito alto no Brasil, faz sentido e realmente, tem potencial para alavancar carreiras ou relacionamentos. Infelizmente vivemos em um atraso intelectual no Brasil e as pessoas valorizam o externo e não o interno. Eu pessoalmente não tenho vontade de gastar num carrão, embora saiba que terei que fazer isso cedo ou tarde - precisarei comunicar meu progresso com o passar do tempo. Muitas vezes eu me surpreendo quando vejo um cara com nível mais alto na empresa tem um carro pior do que o meu.

Sobre as outras coisas, como cartão Personnalité (googlei como se escreve), iPhone 8, etc: ajudam, mas estas características acabam sendo mais significativas para quem já está num cargo de gerência. Grande parte dos caras de média gerência tentam comunicar o sucesso de suas carreiras usando estes meios. Ter estas coisas nunca irão te atrapalhar. E você nunca será visto como um fracassado estando com uma camisa decente (sim, de marca boa), com um cartão de banco decente, um celular que funciona e é bonito, um coasting que cai bem, um sapato excelente, relógio top e um carro legal. É difícil admitir, mas se puder, evolua na qualidade de tudo o que você possuir. Use camisas melhores, sapatos melhores, relógios de qualidade, perfumes decentes, bicicletas com câmbio bacana — exercite o bom gosto por bens materiais e consuma com mais qualidade. Quando acompanhar o cliente, aprecie um bom vinho com ele, proponha refeições em locais diferentes (thai food?), conheça o caminho para bares legais, jante em restaurantes com comida de ótima qualidade. Tenha opinião formada sobre tipos de cerveja e vinhos, tipos de culinária, esportes não convencionais, bares e restaurantes famosos e por aí vai. O crescimento de nível social dói muito mas vale a pena no final. Não seja mais um otário a buscar crescimento sem progresso.

Progresso chama progresso. Dinheiro chama dinheiro. Crescimento chama crescimento. Pense nisso. Seja sênior. Em tudo. Seja da elite. Veja-se como um vencedor. Um cara que ralou, lutou, venceu, estudou, trabalhou, colocou projetos ar, resistiu ao fracasso e claro, atuou de forma honrada e ética. Porra! Você é o cara! Não acha merece esta parte boa da vida, que é curtir bons restaurantes e ter acesso a bens materiais de qualidade também? Bom gosto também é parte da senioridade e isto se reflete em todas as áreas da vida.

Capacidade de liderança

Não sou ninguém pra falar de liderança. Mas quem realmente é? Eu, como um cara que já trabalhou em muitos lugares, já abriu vagas em diversos processos seletivos, já conversou com muitos gerentes e subordinados, posso dar alguns pitacos sobre o que acontece na vida real (isso na verdade merece outro post!) (desculpa a carteirada para tentar dar credibilidade ao que escrevo!). Vou passar pelos pontos mais importantes:

Tomada de decisões em cenários nebulosos: É meu amigo. As pessoas passarão a confiar cada vez no seu feeling sobre os problemas. Cada vez mais vão te pedir opiniões com grau crescente de abrangência e impacto - e claro - vão colocar na sua bunda caso dê merda. Você será consultado por tudo: como organizar os bounded contexts da sua aplicação, como modelar parte do sistema, como interpretar um determinado requisito, como colocar isso de uma forma agradável ao usuário… a cada dia você se sentirá mais e mais ouvido, solicitado, requisitado e provavelmente será envolvido em muitas reuniões até mais estratégicas, como por exemplo, como evoluir o produto, como aumentar o market share do produto X, como atacar certos mercados, etc. E é justamente isso que faz com que o sênior de verdade seja reconhecido e seja uma pessoa diferenciada - ele, de novo, sente o que precisa ser feito, se comunica bastante, estuda bastante e por isso, tem maior chance de acertar.

Liderança pelo exemplo: O sênior de verdade é uma aula de postura, ética e excelência técnica. Logo, ele é uma fonte de inspiração para o pleno ou júnior que quer crescer na carreira e acaba, indiretamente, afetando positivamente a vida de muitas pessoas que lidera ou não. Estimule as pessoas a codificar direito, sente com elas e dê dicas, use seu tempo para formar pessoas e principalmente, siga o seu discurso. Se você pede X, seu código precisa ser X também. É muito fácil mandar os outros parar de fazer coisas erradas, não é? Além disso, tente inspirar sua equipe a estudar e a buscar coisas técnicas interessantes! Mostre artigos, poste na lista de e-mail, converse no almoço… mostre tesão pelo que faz. Essa é uma grande marca de uma pessoa que está onde está porque merece.

Seja brother: Ao se relacionar com níveis hierárquicos mais baixos, sempre tenha humildade, respeito, bondade, bom humor e sempre tente passar uma mensagem positiva para sua equipe. Não vá trabalhar com uma cara de bosta. Se precisar fique em outra sala naqueles dias de merda. Não tome decisões de cabeça quente. Não foda ninguém com a cabeça quente. Não faça nada quando estiver feliz demais também. Quando for cobrar alguém, faça de forma individual, humana e rigorosa. Não seja o líder amigão, que tenta ser legal com todo mundo e acaba perdendo a autoridade. As pessoas precisam de certas restrições para crescerem e fazer pessoas crescerem de forma sadia é papel do líder da equipe. E elas precisam de elogios e reconhecimento quando crescem e evoluem. Portanto, elogie sinceramente quando alguém da sua equipe mandar bem. E outra: só elogie realmente quando o elogio for pertinente. Se o cara não fizer nada demais o ano todo mas continuar te dando lucro, agradeça também, buscando olhar os números efetivos das contribuições dele durante o ano ou semestre. Influencie positivamente na avaliação da sua equipe quando der. E claro, dê feedbacks construtivos para que isso ocorra. Um sênior de verdade busca construir a melhor equipe da empresa e busca estar com gente que o defenda também.

Reportologia: Já falei acima sobre isso, mas nunca se esqueça de comunicar à sua gerência/pares o que você está fazendo! Às vezes você pode estar muito ocupado com algum projeto e pode não ter tempo de informar como as coisas estão indo e quanto já foi consumido do backlog. Isso é muito importante de se fazer. Os gerentes são pessoas que não geram riqueza e precisam mostrar serviço o tempo todo. Quando o cliente não está gritando e o projeto está em velocidade de cruzeiro, entre uma reunião ou outra o gerente acaba mirando o canhão para o andamento da empresa internamente. Um sênior de verdade nunca é pego de surpresa. Esteja sempre pronto para apresentar reports, burndowns, taxas de abertura de bugs, métrica e blá blá blá. Com um sênior de verdade, você nem espera ser cobrado por isso — já corre atrás da informação para que o gerente já as tenha em mãos sempre que precisar mostrar serviço para outro burocrata. Por mais que você seja um cara bom no que faz, nunca esqueça que você está sempre sendo avaliado e está sempre se vendendo.

A bola nem sempre chega no pé: Liderança em teoria é bem gostoso. Basta ser aquela pessoa bacana com boas intenções, basta ter uma boa equipe, basta ter um situação organizacional legal e já era. É só usar aqueles conselhos de LinkedIn para tocar o projeto e esperar a PLR — é só driblar uns 5 caras, triangular a jogada e chutar pro gol que você ganha a partida — basta arremessar a bola direito que ela cai na cesta certinho. Gostoso não é? #sqn. É, nem preciso falar que a vida real é bem mais tensa. Quando você chega em uma nova empresa e nova equipe, precisa ler quem são as pessoas que podem querer te ajudar, quem são os gerentes filhos da puta, quem são seus concorrentes internos. Mas isso é só o começo. Quando você efetivamente entrar na equipe, terá que lidar com vários tipos de sentimentos negativos. Por exemplo, o cara é CLT há 6 anos e está na fila para ser promovido a sênior; o cara está na fila para ganhar sua grana; o cara deu a bunda no passado para tirar 1000 a menos que você; há duas laranjas podres na sua equipe que são invejosos e contaminam as pessoas neutras; o gerente da empresa é um cara cusão pra caralho; o sistema é muito complexo e você é refém de quem conhece o sistema e ganha muito menos do que você. Infelizmente cara, estas situações vão acontecer mesmo. Não há como você mudar de empresa e chegar num lugar onde todos vão te amar e espontaneamente irão te ajudar a fazer um excelente trabalho. A bola nunca chega no pé. Você terá que se adaptar, ser flexível, ganhar com o tempo a confiança de todos, terá que estudar o sistema da empresa em casa, terá que comer o pão que o diabo amassou no começo. Terá que mostrar serviço até mesmo trabalhando de graça em casa. Conquistar a liderança de uma equipe é bem difícil, mesmo que de certa forma haja uma hierarquia forçada nas empresas. Dê tempo ao tempo, tente fazer sua parte, ganhe a confiança dos seus pares e gerentes e tente quebrar o gelo com bom humor, energia, otimismo e sendo brother. Se o caras não te enxergarem como um inimigo no começo já ajuda. Nunca se esqueça que irão falar mal de você pelas costas, que tentarão te queimar, que atuarão nas suas fragilidades. Pode até ser que você descubra quem te queima pelas costas. Mas cedo ou tarde, você acabará por bem ou por mal assumindo uma posição na hierarquia antes das pessoas que te odeiam — se as pessoas que falam mal pelas costas fossem tão boas assim, estariam liderando. E aí não tem jeito: ou joga direito no seu time ou tá na rua.

Demonstre comando e força: Em geral, o ser humano médio não respeita quem não o intimida de alguma forma. Se você pedir algo e não for obedecido, se não for ouvido, se não tiver uma relação de respeito na sua equipe, use seu poder para foder a vida do colaborador-laranja-podre na empresa. Faça reuniões para cobrar ele com mais frequência, cobre de forma mais enérgica, afaste-o de sua equipe e se precisar, deixe a gerência a par do problema. Por fim, demita-o sem dó. Não tenha pena de demitir quem merece ser demitido. Não importa o tempo de casa. Não importa se tem família. Não importa se tem problemas em casa. Uma empresa não é instituição de caridade. Se este colaborador-laranja-podre puder te mandar embora para segurar o emprego dele, ele o fará sem dó também. Além de demonstrar força, você tem que demonstrar que está comandando a equipe com um objetivo correto. Se você pede para fazer a validação de uma forma Y, convença sua equipe da motivação; se você pedir para criar uma tabela nova ao invés de reaproveitar uma existente, defina a solução e justifique para o time. Seja como um irmão mais velho do time. Decida. Diga qual é o caminho a ser seguido. Distribua responsabilidades para todos da equipe. Mas garanta que a equipe esteja caminhando junto e de forma harmônica. E me ensine como fez :)

Seja empático e um excelente ouvinte: O mundo corporativo possui muitos psicopatas. Na verdade, 1 a cada 25 pessoas possui algum nível de psicopatia, que pode ser resumida como um misto de egoísmo, falta de empatia e maldade. Se você não for este cara, pode começar a desenvolver cada vez mais a capacidade de ouvir seus colegas, seus chefes, seus subordinados… A capacidade de se imaginar no lugar da pessoa e ouvir o que esta pessoa tem a dizer aumenta rapidamente o apreço da equipe pelo líder. O ser humano comum busca a todo momento ter atenção e ver que o líder está se importando é muito legal. Se você quiser ir além, pode começar a guardar fatos da vida de cada pessoa com quem conversa. E, espontaneamente, puxe assuntos usando estas informações. As pessoas vão se sentir ouvidas e sentirão satisfação em conversar com você. Isso vale para tudo na vida — faça muitos amigos ouvindo mais do que falando. Pessoas que falam muito ou se calam apenas para esperar a vez de falar são muito odiadas, mesmo sem saberem. Não seja esse cara. Fale menos. Fale com qualidade. Ouça muito mais. E ouça com qualidade também, isto é, perguntando mais coisas, pedindo mais detalhes e assegurando que está compreendendo o assunto.

Não existe amor em SP: A regra é clara. Se você é o líder e o time não rende, você roda. Se você é o líder e o time não trabalha por não concordar com suas decisões, você roda. Se você é um excelente programador, líder de equipe e etc mas o cliente não gosta de você, você roda. Como diria Zé Geraldo, “quanto mais alto voam maior o tombo” (https://www.letras.mus.br/ze-geraldo/299869/). Estando em evidência, você é o salvador da pátria ou o mais cusão de todos. Na verdade, você é sempre o cusão até que se prove o contrário. Fique esperto. Não seja pego de surpresa. Sempre tente ler o campo de batalha. Não existe amor em SP. Ninguém gosta de você de verdade. Ninguém tá nem aí com a sua vida, sua carreira, seus planos e suas vontades pessoais. Não faça cagadas sérias - use as melhores práticas de engenharia de software sempre que possível. Saiba tudo o que o seu sistema faz. Saiba todos os motivos de erro. Invista em instrumentação e monitoramento. Dê respostas corretas e seguras nos momentos de crise. Não seja o otário da mesa de poker. Estar em uma posição de liderança exige uma grande dose de malandragem, estratégia, visão analítica, senso de causa-e-efeito, senso de urgência e diminuição de riscos. Fica de olho nesse teu cu.

Gestão de Energia

O que realmente define se um cara irá para a gestão ou não de uma empresa é a quantidade de energia que aparenta ter. Dificilmente você verá nas empresas mais modernas e mais profissionais, gerentes que não levantam da cadeira, que não tocam reuniões, que deixam as coisas fluírem ou coisa do tipo. O mercado de hoje em dia é dinâmico e extremamente aguerrido. E isso será assim para sempre. O mundo de hoje é baseado no imediatismo, na pressa, na busca pelos resultados infinitos e para tanto, é preciso ter uma equipe com vontade, com gana, com energia para dar e vender em troca de alguns milhares de reais por mês.

Por outro lado, a quantidade diária de energia que temos é finita. Não dá para correr uma maratona com a velocidade de um atleta de 100 metros rasos. É preciso ter algo como uma “inteligência energética” para saber como e quando usar a energia. E claro, com o passar dos anos vamos tendo uma quantidade menor de energia disponível e uma demanda incrivelmente maior de energia.

A energia que você gasta com brigas, disputas, redes sociais, televisão, ódio, inveja e pecados em geral acaba sendo subtraída da sua cota diária de energia. Pensamentos negativos, depressivos e desanimadores acabam diminuindo a capacidade de recarregar as energias para o dia seguinte. Além disso, o ambiente pode acabar influenciando negativamente as pessoas, seja por causa do stress com cliente, pressão pelas entregas ou outros motivos. Logo, é preciso desenvolver alguma forma de se proteger de ambientes tóxicos e pessoas tóxicas. Me diga como fazer se conseguir :) . O mesmo vale para o lugar onde você mora, pessoas com quem mora, vizinhos, busão que você pega, etc. Tente morar em lugares com menor concentração de pessoas. Tente buscar com o tempo um bairro com pessoas mais evoluídas. É incrível como o ato de escolher bem onde se mora influencia diretamente nos resultados.

Use sua energia com sabedoria. Escolha os projetos certos. Escolha as batalhas que valem a pena ser lutadas. Pense nessas frases (http://pensador.uol.com.br/frases_de_batalha/). Escolha a equipe certa. Discuta com o cliente só quando realmente precisar. Responda aos e-mails que forem de estrito interesse do seu trabalho. Use sua energia com a intenção de receber mais energia em troca (com interações positivas) ou então, com a intenção de ter o máximo de ganho. Seja esperto. Não gaste energia fazendo trabalhos que pouca gente irá valorizar. Não gaste energia com projetos idiotas, como automações imbecis e invisíveis ou com clientes que pagam pouco. E claro, não dê toda a sua energia para uma empresa. No fim do dia, você é apenas um recurso e uma empresa é apenas um CNPJ que te contrata para fazer algum trabalho e dar lucro para alguém.

Use sua energia para ter uma vida plena. Fique na empresa o menor tempo possível e vá beber com seus amigos sempre que puder. Transe o quanto puder, mas com qualidade e senioridade máxima (trate as mulheres com extrema ética e decência — não caia nessa de tratar mulheres como objetos ou putas — busque uma experiência sexual engrandecedora e plena — não colecione mulheres para sustentar seu ego). Divirta-se bastante. Viaje. Energize-se com coisas boas. Saia um pouco do computador, do celular e dos eletrônicos em geral. Ande a pé. Interaja com pessoas. Converse com gente diferente. Contemple a natureza, o passar dos carros, as nuvens naquele céu de fim de tarde. Tenha um tempo só com você, sem mais ninguém. Aproveite também ótimas companhias. E claro, durma bem gostoso. Tome banhos quentes bem demorados e reflita sobre a vida neles. Saiba viver. More bem. Busque ter vizinhos bacanas. Brinque com seus filhos. Ouça-os também! Ah, Tente evitar bairros, empresas, eventos e lugares cheios de gente depressiva e filha da puta. Assuma o comando da sua vida. Faça sua energia diária se multiplicar.

Energia e tempo são nossos bens mais preciosos.

E depois?

Você se sentirá sozinho.

Você alcançará um grau de evolução pessoal que fatalmente te tornará diferente de todos. Você, sênior na vida profissional e pessoal que é, verá que todo o esforço valeu a pena. Você estará numa condição de vida boa, com uma família bacana, carro e casa idem. E daí? Temos uma porção de coisas grandes pra conquistar e não podemos ficar aí parados, não é mesmo (https://www.letras.mus.br/raul-seixas/48326/).

Alguma coisa estará diferente. Você verá o mundo com outro tipo de olhar. Você verá o mundo por cima e sentirá que as pessoas estão muito atrasadas e muitas vezes lutam mais contra os próprios demônios internos do que contra problemas externos. E verá que de certa forma, você será incompreendido. Você poderá sofrer com isso. Poderá se sentir relativamente abandonado, ignorado e sem ninguém para ter aquelas conversas fantásticas que vez ou outra você teve. As pessoas comuns tentarão se aproximar de você mas provavelmente não conseguirão se conectar com você. Sentirão algum tipo de angústia ou repulsa ao conversarem com você porque não saberão exatamente o que esperar de você em conversas informais. Há tantas coisas importantes para serem faladas não é mesmo? Pouco importa se o aumento de uma pessoa ainda não veio.

Peço que você não desanime e sempre tente nivelar as conversas por baixo. Fale da porra do futebol, das minas, do vídeo do whats, do lepo lepo, da metralhadora e da porra toda. Antes passar o tempo falando bosta do que ficar sozinho em um mundo isolado. Dê risada e leve uma vida leve, sem ficar pensando muito na idiotice do brasileiro médio. Pensar também suga muita energia. Mesmo. Não caia neste erro comum de pessoas inteligentes. Não se afunde em um mar de pensamentos tristes.

Busque socializar. Busque encontrar pessoas que pensem como você. Pense em fazer alguma atividade bacana onde você possa encontrar pessoas diferentes e ao mesmo tempo legais. Não fique em casa sozinho. Não enlouqueça. Não morra sozinho. A solidão é o caminho mais rápido para chegar à depressão.

A empresa dos outros pode ser pouco para você

Quase todos os desenvolvedores que se tornam grandes profissionais acabam extravasando esta energia fora da empresa. Alguns têm o espírito empreendedor e acabam gastando energia para implementar uma ideia de forma mais séria, visando o lucro e a o sustento a médio ou longo prazo. Acho isso fantástico e acho que tais iniciativas ajudarão o Brasil a sair da merda em que se encontra hoje.

Criar um produto e um modelo de negócios bacana é para pouquíssimas pessoas. Poucos caras tão afim de realmente programar algo num sábado ou domingo, de desenhar algo, de gastar energia em algo que pode dar certo. Pouquíssima gente é capaz de ler o mercado e criar algo que o atenda de verdade. Aí é que entram os cavaleiros de ouro. Alcançando o sétimo sentido, que é o domínio absoluto da força de vontade e força mental, é possível controlar um poder de liderança e realização que muitas vezes empresas de mercado sequer conseguem sonhar de seus funcionários. Pessoas com este nível de capacidade dificilmente conseguem ficar em uma empresa, recebendo ordens e cumprindo metas para os outros. Para elas é claro que o caminho a realização profissional é a criação de algo que ainda não existe, com reconhecimento e de outras formas intangíveis pelo projeto que colocou no ar. Tenho profunda admiração por empreendedores. Eles representam a expressão máxima do uso correto de energia e força de vontade.

Ah, mais uma coisa: pode acontecer de você chegar a um nível de maturidade profissional transitando por diversas empresas e projetos. Quando isso acontece, você está num nível de liberdade suficiente para abandonar projetos que não valham a pena. E fatalmente você será demitido. Várias vezes. Será tratado com lixo ainda mais vezes. Você será atacado de diversas formas. Tudo isso acontece porque você estará em um nível tão mais alto que muitas vezes não se submeterá a GTBs e zé-empresas facilmente. Prepara-se para empreender. Talvez seja a única forma de você ter paz. Ninguém rouba uma casa vazia. Ninguém taca pedra em árvores sem frutos. Ninguém taca pedra em frutas no chão.

Você nunca verá o Aiolia varrendo o chão do santuário por ordem de alguém.

Seu papel no mundo será ajudar outras pessoas

Por fim, com tanta experiência e tanta coisa para contar, você sentirá uma vontade grande de ajudar as pessoas a saírem da mediocridade. E elas naturalmente te pedirão muitos conselhos sobre todo e qualquer assunto. Provavelmente, qualquer pessoa que tenha mais de 30 anos já vive este tipo de assédio. Mas se você tiver realizações significativas, muitas pessoas pedirão conselho, ajuda, dicas e consultoria para saber se estão no caminho certo.

Isso é bacana e ser coach de algumas pessoas é uma obrigação moral de quem também já teve uma ajuda direta de alguém. Seja legal e espalhe mais amor por SP.

Grandes profissionais são criadores.

As pessoas que nasceram para mudar este mundo são criadoras por natureza. Elas não perdem tempo com bosta, com política, com ego, com exibição de sucesso no Facebook. Gente pequena vive para sabotar os outros, para condenar o crescimento dos outros, para foder quem não merece ser fodido.

Se você é uma Mercedes, não ande em ruas brasileiras esburacadas. Se você um programador de nível mundial, não fique preso a empresas e projetos brasileiros. Ande numa Autobahn. Voe. Pense em outros países. Cresça. Crie. Expanda seus horizontes.

Grandes profissionais são criadores. E criadores precisam de liberdade e ajuda para mudar o mundo. Não adianta ficar preso em um escritório com gente ridícula tendo um potencial criar sistemas magníficos, projetos de arquitetura chocantes, quadros encantadores, composições musicais avassaladoras e muito mais.

Tempo e energia são nossos bens mais escassos. Se você quer mudar o mundo, vá para onde você terá ajuda e compreensão do que precisa se feito. Não perca tempo com perdedores.

Conclusão

Se você está começando sua vida na área de TI ou mesmo em outra área, espelhe-se em seus ídolos. Busque referências. Copie as pessoas certas. Apoie-se nos ombros dos gigantes para tentar ver mais longe. Conheça a história da sua área. Entenda a cabeça dos seus heróis. Se o seu herói estiver vivo, tente conhecê-lo pessoalmente. Tente aprender com ele ao trabalhar na empresa dele. Busque reconhecimento dele. Aliás, busque reconhecimento das pessoas certas. Foda-se se a sua empresa passa a mão na sua cabeça e no seu ego dando prêmios de reconhecimento ou e-mails públicos bonitos. Isso é bacana, mas ser reconhecido por um cavaleiro de ouro é muito mais importante, pois indica que você realmente está no caminho certo. Um dia, fatalmente, você lutará ao lado de um cavaleiro de ouro, juntando suas forças para realizar algum objetivo que realmente faça sentido. Lute pelas coisas certas. Lute por objetivos nobres. Atue em empresas que tenham projetos que ajudem a humanidade a evoluir. Invista sua energia criadora em coisas que farão bem para humanidade. Visar o lucro é importante, mas visar a melhora da sociedade dá um senso de propósito muito maior. Ver pessoas comentando positivamente sobre algo que você fez dá a maior satisfação possível para um desenvolvedor.

Este é o meu principal recado. Coloque amor no que você for fazer e trabalhe com pessoas que pensem da mesma forma. Se não puder, mude. Para melhor.

Grande abraço! Programador Sincero.

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