Insecta Shoes — como sapatos podem ser maravilhosos e ecologicamente conscientes
A Insecta Shoes nasceu em Porto Alegre e através de seu e-commerce ganhou o Brasil. Hoje, com seu casulo montado também em São Paulo, nos conta como essa marca linda ultrapassou o mundo dos insetos.
Conhecer marcas que pensam no consumo por um viés consciente, é um refresco em tempos onde tudo relacionado à ele é hiper. Pessoalmente, essa foi minha sensação quando ouvi falar da Insecta Shoes lá em 2014.
Saber que uma iniciativa bacana assim tinha nascido tão pertinho foi ainda mais inspirador: por isso, quando o projeto aResta tomou forma, ela estava no topo da lista.
Criar calçados lindos e maravilhosamente confortáveis não são os únicos pontos positivos da marca: todos os seus produtos são ecológicos e veganos, além de produzidos no Brasil.
Mas aí você se pergunta: Como isso funciona na prática?
Quando falamos que eles são veganos, significa que em seu processo nada de origem animal é utilizado. O ecológico fica por conta da transformação de materiais já existentes, que em algum momento foram produzidos e estão aí dando sopa — o famoso upcycling. No caso da Insecta, são peças de roupas vintage garimpadas com o maior carinho que revestem a parte externa — o cabedal — dos pisantes. Quando a estampa é criada pela marca, o tecido é feito com garrafas de plástico recicladas e a tinta é à base de água, portanto, não poluente.
As estruturas internas dos sapatos são montadas com plástico reaproveitado, e a sola também entra na dança, pois é composta de borracha triturada reciclada — deixando os modelos gostosos que só. Mesmo já sendo essa lindeza toda, a pesquisa para descobrir maneiras de deixar seus produtos cada vez mais sustentáveis nunca termina.
Scarabeus, Cicada e Papilo são alguns dos nomes dos modelos que fazem parte da família Insecta. Entre sandálias, oxfords, slipers e botinhas, todos os modelos são unissex e tem uma grade que vai do 33 ao 45 — a disponibilidade vai depender da exclusividade das estampas, claro.
E aí, já virou fã? Aposto que sim.
Embora hoje ela já seja devidamente conhecida em vários cantos do país, queríamos saber mais da sua história e entender melhor como esse casulo tinha virado borboleta.
Quem nos falou sobre como essa idéia maravilhosa nasceu foi a Barbara Mattivy, sócia e idealizadora da marca.
Ela nos conta que praticamente a vida toda teve essa “atitude” empreendedora, e sempre que tinha um hobby, arranjava um jeito de monetizar e fazer dele um negócio. O mais forte sinal disso é quando nos fala que foi a paixão pela internet que a fez ter seu primeiro empreendimento: quando criança, vendia bombons no colégio para pagar o que excedia no uso da internet em casa, o que SEMPRE acontecia. (Alô internet discada! A nostalgia bateu forte por aqui).
Já adulta, todas as suas empreitadas foram resultado de experimentação do que gostava ou não, e assim foi evoluindo. Formada em Administração, encontrou nas cadeiras de marketing o que realmente curtia. Foi pra Milão estudar comunicação de moda, e quando voltou, montou o blog My Cool para falar de tudo de bacana que via por aí. Transformá-lo em agência de conteúdo foi o próximo passo, até perceber que não era bem com publicidade que ela queria lidar: assim nasceu o brechó Urban Vintagers. A metamorfose final foi quando ele virou Insecta.
Segundo ela, a ideia do negócio surgiu de um jeito muito despretensioso — em forma de colaboração entre duas marcas, ou collab. A amiga Pam, que tinha uma marca de sapatos que já utilizava excedentes de produção de couro foi conhecer o brechó da Babi. Quando ela bateu o olho nas lindas estampas de algumas peças separadas para conserto, logo disse: isso podia virar sapato!
Deu super certo, e o que começou como uma collab, Barbara viu todo o potencial para se transformar em uma marca solo, onde as duas seriam sócias. Mas tinha um grande porém:
Nessa época, ela estava de malas — e cabeça — prontas pra migrar pro Canadá.
Com a viagem marcada e o tempo curto, precisavam conceber, montar e libertar o besouro para seu voo antes dela mesma fazer o seu para o norte gelado. E conseguiram! Em três meses, a marca já estava no ar e tinha seus primeiros modelos em seu e-commerce.
A decisão de abrir o negocio em Porto Alegre veio da junção do momento e da estrutura disponível, perto de Novo Hamburgo, o maior pólo calçadista do país, onde todo o aparato estava próximo — desde os fornecedores que precisavam até o ateliê onde os produtos são fabricados.
Além disso, acredita que a cidade tem muito espaço para novas ideias, com a mente das pessoas cada vez se abrindo mais a novas iniciativas de investimentos, empreendedorismo e consultorias.
“Eu acho que teve um momento [de abertura criativa] em todas as cidades, de isso ser uma tendencia que está em crescimento. Aos poucos eu vi amigos se demitindo dos seus empregos em escritórios e começando as suas coisinhas aos poucos. E aí essas empresas iam empregando outras pessoas e virando empresas mais fortes… Eu vi as pessoas ousando mais e empreendendo mais com uma facilidade bem grande. E eu acho que a medida que tu vai vendo exemplos, tu vai se incentivando e se sentindo mais confiante de fazer isso também.”
Com a Insecta Shoes já funcionando a todo vapor, mesmo morando longe e aproveitando o que o Canadá tinha de bom, sua cabeça e coração continuavam em Porto Alegre: em sua casa no hemisfério norte, seguia trabalhando na marca, fazendo contato com fornecedores e tudo mais que estivesse ao seu alcance fazer à distancia. De dois em dois meses ia ao Brasil, mas essa rotina já estava cansativa demais, além de não conseguir viver plenamente nenhum dos dois mundos.
“Eu ia migrar de vez. Eu ia morar lá e a minha ideia era tocar o negócio lá. E eu fiz isso por um ano e meio, até que chegou um momento que ficou inviável. Porque uma empresa nova, em construção tem muita coisa a ser organizada, ela não estava andando sozinha ainda. Foi um aprendizado, porque eu fui — “Ah, vai dar tudo certo, eu vou conseguir.” Mas realmente não, eu tive que dar um passo pra trás pra poder dar vários pra frente depois.”
Depois de um ano e meio, Babi voltou para ajudar a marca a seguir crescendo — mas sempre de um jeito muito organizado.
O investimento lá no inicio, por exemplo, foi do bolso das duas sócias, por esse motivo acredita que tenham tido essa cautela, tomando sempre cuidado para dar um passo de cada vez. Dessa maneira, nunca mais foi preciso investir — e com o dinheiro do próprio negócio foi possível fazê-lo caminhar.
Após um ano de vida, a Insecta abriu sua primeira loja, em Porto Alegre mesmo, onde também está o escritório da marca. A abertura da loja em São Paulo, segundo Babi, aconteceu naturalmente.
Sendo a cidade que mais compra os modelos pelo e-commerce, resolveram experimentar primeiro abrir uma loja temporária — pop up store — no final de 2015. Com o sucesso da mesma e a oportunidade de tê-la fixa num lugar bacana da cidade, no início de 2016 Babi mudou-se também para estar mais perto do novo casulo paulista.
Hoje o quadro de sócios mudou, são três: ela cuida da Comunicação, a Laura cuida de Produto e o Kento cuida do Administrativo e Tecnologia — mas a família Insecta hoje tem mais de 10 integrantes, entre as duas cidades. Quando perguntamos sobre essa necessidade de ter mais colaboradores internos do que externos, deixa claro que a estrutura é bastante horizontal:
A gente tem uma cultura muito forte lá dentro, eu falo que é horizontal porque é isso, todo mundo tem responsabilidade. A gente tem a Abigail que é a nossa cachorrinha resgatada das ruas, ela é maravilhosa. E todo mundo tem responsabilidade de cuidar dela, então quem chega primeiro dá a comidinha pra ela, quem sai por último coloca ela na casinha, vê se tem água, vê se tem comida. A gente se reveza pra ver quem vai estar com ela no domingo, quando não tem ninguém na loja. Temos uma cultura bem unida, conversamos pra implantar questões mais sustentáveis na loja e tem muita gente que parou de comer carne desde que começou a trabalhar lá. Não que a gente tenha pedido, mas é que tu tá em convívio o tempo todo e acaba sendo natural. Fora isso, é difícil imergir em tudo isso estando fora, sabe? Como são muitos valores e é tudo muito forte, é difícil…Tem que estar ali convivendo mais pra entender como é mesmo.
Sobre o lucro, hoje ele é pequeno, mas principalmente porque a marca passou por um momento de reestruturação no último ano: contratar mais pessoas, aumentar a produção e por isso, reinvestir. A esperança é que com essas mudanças, o voo seja agora para o alto e avante.
E os desafios?
Ter uma marca dentro do empreendedorismo criativo, para Babi, tem seus prós e contras, especialmente quando é um com um produto e causa diferentes — o caso da Insecta. É preciso contar a história mais vezes, e nem sempre as pessoas vão entender ou se relacionar de cara com a proposta do negócio. “Então tu tem que estar sempre contando a história, o que é bom porque traz mais consciência e faz as pessoas refletirem, mas as vezes é desgastante sim.” — desabafa.
Além do obstáculo da distancia no inicio, algo que Babi pensa não ter sido o começo ideal para uma marca, nos conta que as bandeiras e valores da Insecta os fazem estar sempre buscando melhorar.
“ Acho que o nosso posicionamento como marca é muito responsável, também no sentido que tem muita responsabilidade por trás das bandeiras que a gente levanta. Claro, estamos sempre lendo e nos especializando pra aprender cada vez mais de sustentabilidade, de veganismo, de responsabilidade e inovação social. Temos muito bem esclarecido que não somos extremistas, estamos fazendo a nossa parte com todo o potencial que temos, e tentando melhorar cada vez mais. O peso de levantar essa bandeira é muito bom, claro, mas às vezes dá um medinho bom nesse sentido.”
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