o fim do nosso evangelho
outro cigarro enquanto penso no nosso fim.
você ontem me mandou mensagens se despedindo de mim.
bitches come and go, gostaria de pensar assim.
mas pensar em você indo me dói tanto.
o abismo no meu peito sussurra palavras doces em meu ouvido:
“deite comigo e sinta o meu calor”
quando eu me deitei fui envolvido em completa escuridão.
há tempos você andava meio distante e agora que se foi de vez a escuridão me toma por inteiro.
meu quarto cheira a cigarros, maconha e álcool, quando eu era uma criança eu odiava todo esse cheiro, mas agora eu me acostumei de modo que não sinto mais a diferença.
me acostumei com o cheiro do cigarro e com o fato de estar mal o suficiente pra não levantar da cama, fumando o dia inteiro e não sei quando vou parar porque ser envolvido por tudo isso me deixa alto.
seu problema comigo nunca foi os cigarros, mas todo o resto, eu.
do que adianta no fim ter todo o mundo para mim se eu não consigo ter você? eu tento não ser igual antes, tento não ser como você me conheceu, tento ser melhor, mas você sabe que não consigo.
minha essência é ruim.
escrevendo sobre você me sinto escrevendo sobre alguém que não existe, alguém que eu criei em minha própria mente, algo como uma heroína, mas você não é o que criei, não aguentou suportar todo o peso da minha confusão e se foi.
dessa vez parece que não vai voltar.
me conhecendo você conseguiu me amar, se eu fosse diferente iria durar. não vou me matar, mas eu queria mesmo é viver outra vida, ser mais como você, antes de qualquer coisa você tentou me salvar.
eu não me permiti ser salvo.
agora você tá indo embora sem olhar pra trás, eu tentando correr atrás, ser alguém que nunca fui ou conseguirei ser, correndo atrás de você enquanto corro também dos meus demônios.
talvez fosse melhor se nós nunca tivéssemos nos conhecido.
sem querer te traumatizei como fui traumatizado, tudo que eu queria era ser amado, agora estou jogado.
voce se foi.
quero ser salvo e não sei salvar.
as batalhas diárias não se tornam mais fáceis para que eu me torne mais forte.
levanto diariamente e respiro o ar pútrido dessa cidade, tentando fazer isso mais do que eu realmente devia.
o dia do juízo final chegará para todos.
por fim deixo registrado que antes de qualquer coisa, antes de todo o amor que sinto por você ou por todos aqueles que amo, antes de todo ódio que sinto pelo mundo, antes disso tudo eu me odeio.
tive a existência mais miserável de todas, tive medo de existir com tudo aquilo que se diz individual.
diariamente quero morrer, mas percebi que independente de eu estar aqui ou não o sol nasce e se poe numa sucessão de horas iguais. as pessoas que eu amo chorariam minha morte, mas depois de uns meses ou menos iriam superar, minha morte não te traria de volta, se hoje eu morrer amanhã ainda virá a primavera. as coisas acabam, as pessoas vivem e morrem.
finalmente aprendi que viver é aceitar o princípio, mas ainda mais aceitar o fim.
