Para Alguém Que Nunca Aguardo

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Projeto C.O.V.A.

3 min readJun 24, 2024

o guarda-roupa sem portas
acumula roupas velhas
o teto infiltrado
pegajoso se torna
a janela quebrada
não vai para a reforma

as paredes descascadas lembram
ossadas por tintas pintadas
e um louco gemido no silêncio
dentro de mim grava vozes
que não quero ouvir

sou assim uma ruína andante
uma versão de Dom Quixote
submetido a Daath
e vociferando abaixo das
Raízes da Árvore Da Morte
Os Corrompidos Nomes
Das Assassinadas Cascas
Dos Muitos Passados

os meus Passados
entre os meus passos
nos meus pássaros
cujas asas se tornaram
o pó que cresce diante
dos furacões de
meus ares atormentados
e dos tormentos de
meus pares violentados

neste intérim de uma noite
que tiro para soltar fogos
que não tenho como deter
e pular dentro de uma
fogueira que não sei apagar
me dirigo a você que é
alguém que nunca aguardo
chegar nesta casa que
ninguém quer visitar

me dirijo a você que é
alguém ou aquela ou aquilo
ou isto ou nem isto
que não tenho como aguardar
já não há aqui motivo para
uma visita sincera ou hipócrita
minha casa está vazia
tanto quanto eu
a geladeira morreu
tanto quanto eu
a alegria morreu
tanto quanto eu

me dirijo a você que é
alguém ou ninguém ou qualquer
um ou qualquer uma
que não estou a aguardar
não nada aqui de interessante
ou de bonito
eu não sou um príncipe
interessante riquíssimo
eu não sou um suburbano
modelo lindíssimo
sou apenas o mais sozinho
dos Poetas Sombrios entre
tanta gente que se refastela
comemorando até mesmo
o nascimento da própria merda
em uma cagada

me dirijo a você que é
alguém ou nada ou tudo
ou verdade ou mentira
que não quero aguardar
as minhas feridas
podem te ferir
as minhas doenças
podem te contaminar
as minhas angústias
podem te abalar
a minha tristeza
pode te deprimir
a Deusa Depressão
minha namorada de então
pode por ti se apaixonar

não venha aqui
você que nunca aguardo
não te quero aqui

não me visite
você que nunca aguardo
não quero te sentir aqui

não me aborde
nem nos sonhos
você que nunca aguardo
não sou um bom Ser

não me proteja
nem nos perigos
você que nunca aguardo
não mereço isto

não me olhe assim
você que nunca aguardo
dispenso a sua misericórdia
dispenso o seu desprezo
dispenso a sua maldade
dispenso a sua bondade
dispenso o seu amor
dispenso o seu ódio
dispenso a sua ausência
dispenso a sua presença
dispenso a sua ajuda
dispenso a sua indiferença

eu já me habituei a comer
da Maçã Da Árvore
Do Desconhecimento
E Do Renascimento
sem aguardar mais nada
além de me Conhecer
e reconhecer a minha
Verdadeira Morte

sozinho sou o meu
próprio consorte
amante de mim mesmo
no que tenho
de sinistro
de obscuro
de mórbido
e de catástrofe

Inominável Ser
ALGUÉM
QUE NÃO
AGUARDA
ALGUÉM