Introdução ao processo de formação de grupos

Renato Diniz
Projeto Pato
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5 min readMay 14, 2018

Grupos acompanham o desenvolvimento da humanidade e são um processo poderoso, pois quando funcionam de forma correta, conseguem elevar o potencial produtivo das partes individuais (Blinder & Morgan, 2000)

A ênfase atual na eficácia de times reflete a consciência crescente de que a complexidade do trabalho encontrado cada vez mais em movimentos sociais e organizações no geral vem crescendo. Mais trabalho é conduzido por grupos pois é a única maneira de realizar as tarefas encontradas. O conhecimento dos seus processos de formação e desenvolvimento tornam-se então vitais se o desejado é elevar sua eficácia e produtividade, com estudos apontando que grupos maduros mostram ter um desempenho muito melhor i.e. eles terminam os projetos mais rapidamente (Wheelan et al., 1998).

Variados modelos ja foram propostos sobre este processo porém parece existir um padrão comum do que acontece em todos os casos, independentemente de se situarem em diferentes setores ou de sua posição geográfica (Gren at al., 2016).

Tuckman identifica os principais estágios deste processo como formação, tormenta, normalização e desempenho (Tuckman, 1965), com a adição subsequente de mais uma etapa identificada por Jensen chamada de interrupção (Tuckman & Jensen, 1977; School of Integrative Studies, 2015)

Formação

No estágio de formação, as relações pessoais são caracterizadas pela dependência. Os membros do grupo buscam um comportamento seguro e padronizado e recorrem ao líder do grupo por orientação e direcionamento. Os membros do grupo desejam ser aceitos pelo grupo e precisam saber que o grupo está seguro. Membros naturalmente buscam por similaridades e desenvolvem suas primeiras impressões sobre cada elemento, tentando formar preferências para desenvolvimento de futuros subgrupos. Tópicos e sentimentos sérios são evitados pois o foco geral é o de manter as coisas simples e evitar confrontos. Ao mesmo tempo que tentam entender as tarefas, membros tentam entender o comportamento dos outros membros (o que atrapalha a execussão da tarefa inicial). As discussões centram-se em como executar a tarefa da forma mais simples o possível.

Para crescer deste estágio para o próximo, cada membro deve conseguir identificar os padrões comportamentais da maioria dos outros membros para começar a abandonar o conforto de tópicos não ameaçadores e arriscar a possibilidade de conflito.

Tormenta

Neste próximo estágio, inicia-se o processo de colisão de pessoas e ideias. À medida que os membros do grupo tentam se organizar para a tarefa, o conflito inevitavelmente resulta em suas relações pessoais. Os indivíduos começam a moldar seus sentimentos, idéias, atitudes e crenças para se adequarem aogrupo. Por causa do “medo da exposição” ou “medo do fracasso”, haverá um desejo crescente de esclarecimento e comprometimento estrutural. Por causa do desconforto gerado durante este estágio, alguns membros podem permanecer completamente silenciosos enquanto outros tentam dominar. Caso um líder não tenha sido definido previamente, é neste momento que líderes espontâneos começam a se consolidar no direcionamento e tomada de decisão do grupo. Embora os conflitos possam ou não surgir como problemas de grupo, eles irão surgir. Consolidam-se perguntas sobre quem será responsável pelo o que, quais são as regras, qual é o sistema de recompensas e quais são os critérios para avaliação. Pode haver grandes oscilações no comportamento dos membros com base em questões emergentes de concorrência e hostilidades.

Para progredir para o próximo estágio, todos os membros do grupo devem ter suas respectivas responsabilidades e objetivos claramente especificados e passar de uma mentalidade de “testar e provar” para uma mentalidade de solução de problemas.

Normalização

Neste estágio, relações interpessoais são caracterizadas pela coesão. Os membros do grupo devem estar envolvidos no reconhecimento ativo das contribuições de cada membro, na construção e manutenção da comunidade e na solução de problemas do grupo. Os membros estão dispostos a mudar suas ideias ou opiniões preconcebidas com base em fatos apresentados por outros membros, e fazem perguntas ativamente uns dos outros. Liderança é compartilhada e richas se dissolvem. Quando os membros começam a se conhecer e se identificar, o nível de confiança em suas relações pessoais contribui para o desenvolvimento da coesão do grupo. É durante esse estágio de desenvolvimento (supondo que o grupo chegue até aqui) que as pessoas começam a experimentar uma sensação de identidade grupal e um sentimento de alívio como resultado da resolução de conflitos interpessoais.
O principal desafio deste estágio é manter a comunicação entre os membros do grupo: compartilhar sentimentos e ideias e solicitar e receber feedback. A criatividade atinge seu ápice e membros se sentem bem em fazer parte de um grupo eficaz.

Desempenho

Muitos grupos sequer chegam ao estágio de execução ou chegam num formato ineficiente que prejudica a realização dos projetos.

Se os membros do grupo são capazes de evoluir para esse nível, sua capacidade, alcance e profundidade das relações pessoais se expandem para a verdadeira interdependência. Neste estágio, cada membro pode trabalhar de forma independente, em subgrupos ou como uma unidade única com a mesma agilidade. Suas atribuições e autoridade se ajustam dinamicamente às necessidades mutáveis ​​do grupo e dos indivíduos. O estágio é marcado pela interdependência nas relações pessoais e foco na resolução dos problemas envolvidos com a tarefa. Produtividade atinge seu pico. Membros tornam-se autoconfiantes e a necessidade de aprovação do grupo deixa de existir. Há união: a identidade do grupo é completa, a moral do grupo é alta e a lealdade do grupo é intensa, o que leva a soluções ótimas e ótimo desenvolvimento de grupo. Há ênfase na realização e apoia-se experimentos com maior grau de risco. O objetivo geral é a produtividade através da resolução de problemas e trabalho.

Interrupção

Este último estágio sempre ocorrerá mas não necessáriamente de forma única com todo o grupo ou de forma cíclica ao fim da realização da tarefa. O estágio final de Tuckman envolve o término dos comportamentos adotados para execução das tarefas e o desligamento dos relacionamentos interpessoais. Quando bem planejada, a conclusão geralmente inclui o reconhecimento pela participação e conquista e uma oportunidade para os membros se despedirem individualmente. Concluir um grupo pode criar alguma apreensão — na verdade, uma pequena crise. O término do grupo é um movimento regressivo de desistir do controle para desistir da inclusão no grupo. As intervenções mais eficazes nesse estágio são aquelas que facilitam o término da tarefa e o processo de desengajamento.

Conclusão

Prestar atenção ao desenvolvimento do grupo pode ajudar a aumentar seu desempenho e, portanto, no final, fornecer uma taxa mais alta do que é considerado sucesso para o projeto. Outras variáveis como tamanho do grupo, cultura organizacional e tipo de atividade podem interferir na velocidade e nível caracteristico de cada etapa, porém as mesmas ainda devem continuar presentes e suas descrições permanecem válidas.

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Renato Diniz
Projeto Pato

Coordenador Regional no Students For Liberty Brasil e escritor no @projetopato