O que o Universo Cinematográfico da Marvel precisa fazer para a próxima década

A época de nostalgia acabou. É hora de apresentar novos heróis, novas ideias.

Anderson Costa
Projeto Poperô
Published in
6 min readJan 13, 2020

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Em Abril começa a nova geração de filmes do Universo Marvel. Viúva Negra abre a temporada de produções depois do fechamento apoteótico da Saga do Infinito, que nos levou ao longo de 22 filmes desde 2008 e deu vida a heróis que passamos a vida imaginando como seriam em carne e osso — e até mesmo heróis que nem esperávamos ter seus próprios filmes. O equilíbrio entre personagens queridos e desconhecidos, e subversões de gêneros cinematográficos fez da empreitada de Kevin Feige algo que já deixou uma marca indelével na história do cinema. A Marvel Studios mudou completamente o mercado, fazendo com que todo e qualquer competidor quisesse ter seu universo integrado de personagens — e a maioria desses concorrentes falhou. Essa união de franquias em uma única narrativa virou um modelo de negócio altamente rentável. O filme que fechou a primeira saga, Vingadores: Ultimato, conseguindo o mais alto lugar no pódio das maiores bilheterias mundiais, comUS$ 2,790 bilhões, batendo o até então recordista Avatar.

Foi uma década e tanto para a Marvel e para a Disney. E isso os deixa à vontade para falar do futuro. Já sabemos dos planos para o que é chamado de “Fase Quatro”, com uma agenda de filmes e séries no Disney+ até 2021. E que nem inclui ainda as propriedades que acabaram de chegar da aquisição da Fox pela Disney, que deixará Feige escolher se quer brincar com os X-Men e com o Quarteto Fantástico no MCU.

Isso posto, é hora de pitacar um pouco sobre o que eu espero sobre essa próxima leva de filmes e produções do MCU.

Quando o primeiro Homem de Ferro estreou nos cinemas, eu já tinha 28 anos. O cinema já tinha me entregado grandes adaptações de super-heróis, como os filmes dos X-Men do Bryan Singer e a trilogia do Cavaleiro das Trevas do Cristopher Nolan. Iron Man era algo em outro nível — divertido, sarcástico e bem fiel às HQs. Acompanhar esses 22 filmes foi um deleite pra mim, que adorava ler sagas e sagas que interligavam revistas. Claro que minha mesada ia pro saco — assim como vai meu suado dinheirinho nos cinemas hoje.

O sucesso dos filmes da Marvel é, sem dúvida, fruto da visão integrada de Feige e cia. sobre o que deve ser um universo cinematográfico, com decisões até mesmo controversas sobre direção criativa. Está dando certo. O público que cresceu com esses personagens nas HQs (eu incluso) respondeu, e trouxe com ele todo um novo público que entendeu a essência desses personagens.

Isso se comprova quando vemos a faixa etária do público do MCU nos EUA. Este gráfico disponível no Statista mostra quem viu um filme da Marvel em 2018. Notem que o público mais jovem (18–34) rivaliza fortemente com o público mais velho (35–54). Os mais velhos cresceram lendo quadrinhos e assistindo produções animadas com esses personagens. Os mais novos já cresceram em um mundo onde o Homem de Ferro é o Robert Downey Jr.

A Marvel não é mais apenas uma editora de quadrinhos como começou sua vida, em 1944. É um conglomerado global que envolve HQs, filmes, séries, para uma audiência que percorre praticamente todas as faixas etárias. Todo um mercado de entretenimento em várias camadas se montou e cresceu ao redor do sucesso desses filmes, desde eventos até a mídia. Difícil imaginar o mundo da cultura pop hoje sem esses filmes.

Mas olhando os dados: vejam a concorrência super parelha entre as faixas mais jovens e de meia idade. Parece que há uma passagem de bastão. Os incríveis números de pagantes no cinema mostram exatamente que uma audiência desse tamanho não se faz apenas com nostalgia. O público mais velho está entregando a tocha aos poucos para um público mais novo.

E para esse público novo, é um outro tipo de nostalgia a ser correspondida. Quem nasceu depois de 2000 já conhece esses heróis de um jeito completamente diferente do que eu conheço. E imagina quem nasceu em 2010, que está conhecendo tudo só agora. A nostalgia se transforma, se molda, e dá lugar a outras aspirações. A década carregada pelos medalhões (Tony Stark, Steve Rogers) deve dar espaços a novos nomes.

E é exatamente isso que a Marvel precisa fazer para uma nova década: encerrar com os nostálgicos do antigo século e começar a apresentar novos personagens, novos heróis. Novas ideias.

Os próximos anos serão o maior risco que a Marvel já enfrentou nos cinemas. Como continuar contando as mesmas histórias dos mesmos personagens sem cansar o público ou repetir fórmulas? A primeira saída é bem clara: apostar em novos personagens, que ressoem com os tempos atuais. A diversidade e inclusividade na cultura pop já começou no MCU (vide Pantera Negra), mas precisa ir além. Existem heróis fantásticos na Marvel que já foram criados pensando em um público mais global, e estão apenas esperando a licença para ganharem vida própria em outras mídias.

Ms. Marvel é o melhor exemplo (não confunda com a Capitã Marvel). A jovem paquistanesa e muçulmana Kamala Kahn terá sua própria série no Disney+ e há anos é uma das HQs de maior sucesso na Marvel Comics. É um sinal claro de que não é preciso apenas novas histórias: os personagens precisam ressoar com os novos tempos. Uma heroína jovem, que está descobrindo o mundo e sua participação nele, e já luta ao lado de outros personagens novos. Ms. Marvel é minha principal aposta nesse novo MCU. O público já está dando respostas claras de que quer uma Marvel mais jovem.

E uma das principais respostas que o público deu, e que a Marvel deve prestar atenção, está em um dos seus mais queridos personagens — mas não exatamente no MCU.

Lembram do Homem-Aranha no Aranhaverso? Quem não viu, recomendo fortemente. A animação foi bem rentável para a Sony e trouxe em um só filme 6 estilos diferentes do Aranha, com foco especial em um deles: Miles Morales, adolescente, negro, e uma das versões de personagem que veste o manto aracnídeo. Protagonista do filme, com uma ótima recepção entre o público — desde as HQs, onde há alguns anos já ganhou status de personagem do universo principal da Marvel(era, anteriormente, uma versão de um universo paralelo).

Quer algo que a Marvel já detenha e possa colocar em prática? Olhe para Young Avengers, série que já é velha conhecida dos leitores Marvel, que traz um elenco de jovens Vingadores super diverso: um Hulk com ligações com os Skrull e uma jovem Capitã América latina (ambos personagens LGBT+), a filha do Gavião Arqueiro, e por aí vai.

Olhando para o próprio calendário de filmes e séries para os próximos 2 anos, já entendemos que a Marvel pensa desse jeito. O público oriental verá em Shang-Chi um protagonista asiático, com toda uma produção asiática. E provavelmente um personagem mais jovem, que traduza as preocupações de ser um oriental nos dias de hoje. Esse deve ser o segredo: reinterpretar mais até personagens consolidados. Novas ideias.

Se a Marvel se concentrar no público pós-millennial, o MCU pode trazer nova vida à essas franquias e ao jeito de fazê-las. Esses novos personagens estão prontos para protagonizar um novo idealismo e energia que as gerações que estão ficando mais velhas (novamente, eu incluso) podem continuar exigindo dos medalhões, mas em outros momentos. Os filmes devem se concentrar em novidade para um novo público. Material tem, e de sobra.

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Anderson Costa
Projeto Poperô

Estudando colaboração e cultura pop. Cosplay de mim mesmo na falta de verba.