O massacre de Greenwood nos lembra que a verdade de que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus foi distorcida.

Ambrosiogiovanna
projetoagostinhas
Published in
4 min readJun 1, 2021

“E Deus disse:

— Façamos o ser humano à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.” (Gênesis 1:26).

Me deparei com um artigo sobre o massacre racial que aconteceu no bairro de Greenwood, na cidade de Tulsa, nos Estados Unidos, entre os dias 31 de maio e 1º de junho de 1921. Cerca de 1000 casas foram saqueadas e cerca de 10.000 pessoas desabrigadas. Ainda não se sabe com precisão, mas estima-se que cerca de 300 pessoas foram mortas. O bairro era conhecido como “The Black Wall Street”, por causa da grande quantidade de negros, e pela prosperidade que ali havia. Era uma das comunidades negras mais bem-sucedidas do país. E não pretendo aqui entrar nos detalhes e em todo o desenrolar desse fato histórico desastroso, mas apontar para algo que me chamou a atenção enquanto eu lia sobre essa tragédia que já marca 100 anos.

Relatos apontam que um dos estopins da massiva violência contra os negros durante aqueles dias, foi o filme ‘O Nascimento de uma Nação’, lançado em 1915. O filme foi sucesso de bilheteria nos EUA, e tinha como pano de fundo a Guerra de Secessão, enquanto enaltecia os valores da KKK (Ku Klux Kan). A produção destacava as atividades da KKK como atuações heroicas, enquanto retratava negros de forma ridicularizada. É de se imaginar o impacto negativo desse filme, adicionado à grave segregação da época provocada pelas Leis Jim Crown. É como se toda essa produção cinematográfica fosse combustível para legitimar a supremacia branca e o racismo.

Nos dias 31 de Maio e 1º de Junho a comunidade de Greenwood se tornou alvo de ataques de grupos supremacistas que a deixaram destruída. Grupos estes conduzidos por uma imagem distorcida sobre aqueles que ali moravam. Enquanto lia, eu pensava perplexa sobre como uma produção cinematográfica poderia ser capaz de amplificar e propagar tantos enganos, mentiras e distorções já existentes na sociedade. É como se o filme ampliasse as vozes da opressão e abafasse os gritos de justiça daquela época. É como se ele entregasse um sentimento de normalidade sobre o racismo. Tudo isso realizado de forma sutil e com entretenimento, a ponto de ter sido um grande sucesso de bilheteria.

Felizmente nos dias de hoje não temos um filme com distorções tão cruéis e explícitas. Só que todo essa leitura me trouxe uma reflexão que acredito que caiba nos dias de hoje. Trazendo para a realidade brasileira, eu logo pensei em como produções audiovisuais foram responsáveis por padronizar um tipo de beleza, e reforçar alguns estereótipos sobre pessoas negras. Diferente dos EUA, aqui não passamos por nenhuma segregação racial institucionalizada, mas é certo que a mídia foi e é responsável por reforçar estereótipos sobre pessoas negras. Além de estimular um padrão de beleza que não valoriza toda a diversidade presente em nosso país.

Além do mais, ao longo dos anos, é possível perceber como principalmente as telenovelas enfatizam e atribuem certos comportamentos e profissões a pessoas negras. Quem nunca assistiu alguma produção brasileira onde um ator negro interpretava um papel de um subserviente ou de um “malandro”? Não posso ser cética a ponto de não reconhecer que tenho visto mudanças, mas, há necessidade de que essas mudanças continuem e aumentem. As crianças precisam ligar a TV e saber que são lindas, sem precisar trocar seus traços físicos para isso. Adolescentes, jovens e adultos precisam se sentir representados nas mais variadas profissões.

Tudo isso me faz refletir no que a Bíblia nos ensina: que fomos feitos à imagem e semelhança de nosso Criador. Essa é uma verdade que foi distorcida e ainda é distorcida, e não só no âmbito racial. Lembremos que a verdade de que todo ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus precisa ser restaurada em todos os lugares onde ela ainda é distorcida. O evangelho é salvação, e é também restauração. Que essa verdade ultrapasse e quebre barreiras levantadas por mentiras, e que nós, como sal e luz dessa terra, levemos a verdade. Ainda que nos cansemos, Jesus renova nossas forças, e nos dá sabedoria para falarmos com verdade e graça. O que não pode acontecer é deixarmos a indiferença dominar. A inação diante das sutilezas do pecado do racismo e diante da injustiça não pode ser a marca dos filhos de Deus.

Links sobre o massacre racial de Greenwood:

<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57294425>

<https://exame.com/mundo/joe-biden-visita-tulsa-em-homenagem-aos-100-anos-de-massacre-racial/amp/?__twitter_impression=true>

--

--