A Cultura do Consumo e o Corpo na Dança Contrapondo o Mandato Cultural

Elaine Helena Gregório
ProjetoCTA
Published in
5 min readJul 27, 2021

A grande Massa Cultural vem construindo corpos na dança descontentes e insatisfeitos com o seus corpos, uma geração de corpos mutilados e profanados, usados para gerar lucro para a Cultura do consumo, que tem o principal objetivo trabalhar com o descontentamento e a insatisfação das pessoas para conseguir vender; e se assim o fazem, a Cultura de consumo incita o pecado nas pessoas, as aliena e as impede de viver a verdadeira identidade em Cristo, identidade esta que Deus nos deu, não foi conquistada, é graça imerecida.

Mesmo que saibamos que só vamos ser plenamente satisfeitos quando vivermos a nossa nova vida com Deus, precisamos lutar contra a raiz desse mal e no mínimo tentar cumprir as ordenanças de Deus para com esse corpo que é propriedade única e exclusiva Dele.

Se entendermos a criação como uma correlação entre lei e cosmos, (ou entre lei e sujeito, visto que toda a ordem criada está sujeita à lei abrangente de Deus), ficará imediatamente claro para nós que a criação, tem extensão muito mais ampla que a que o uso comum dá a ela.” Albert Wolters em A Criação Restaurada (1985).

Somos seres criados a imagem e semelhança de Deus, fomos criados para subjugar a terra, procriar, encher a terra, dominar as criaturas, trabalhar, descansar e casar. Essas são ordenanças da criação, Deus as instituiu antes da queda e temos a ordem de obedecer a esse mandato cultural. Ele não a revogou, vemos nas Escrituras que mesmo depois da Queda Ele continua a ordenar que seu mandato se cumpra, e isso não se dá apenas na criação da natureza, mas também em toda estrutura de uma sociedade.

O povo de Deus num contexto de exílio, o povo busca a Deus, e a resposta de Deus, vem de encontro às ordenanças do princípio, como em Genesis. Se a cidade estiver bem, o povo ficara bem, cuidar da terra, multiplicai-vos”. Jeremias 29: 5–7.

Com o corpo que dança não é diferente, e assim como Deus ordenou no jardim do Éden, ele também quer que cuidemos do corpo, pois como falamos no início, o corpo faz parte da criação de Deus e as mesmas ordenanças feitas para o jardim do Éden servem para ele, antes da queda e como lemos em Jeremias também continua valendo as mesmas ordenanças para depois da queda. O nosso corpo é como um imenso jardim, que deve ser cultivado, cuidado e respeitado.

John Frame em “A doutrina de uma Vida Cristã”, chegou à seguinte conclusão dividindo as ordenanças de Deus em 3 partes:

Relação do homem com o próprio Deus — Culto e descanso

Relação do ser humano com a criação — Encher, subjugar e dominar.

Relação do ser humano com o próprio ser humano — Casamento, filhos e trabalho”.

O corpo nas sagradas Escrituras é chamado Templo do Espírito Santo, pense como esse título é de uma nobreza imensurável, uma honra inigualável.

O que temos feito com o corpo que Deus nos deu?

Como estamos cuidando do templo de Deus que é o nosso próprio corpo?

Como esse corpo tem se comunicado nas Artes?

O corpo é o maior instrumento na arte da dança e para que o esse mercado seja vantajoso há uma deturpação dessa Arte, consequentemente esse corpo foi reduzido a um mero entretenimento e muitas vezes com exposições desnecessárias, foi desvalorizado, profanado e prostituído.

Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós. proveniente de Deus e que não sois de vós mesmos?” I Coríntios 6: 19.

Os benefícios que a dança pode proporcionar na sociedade são inúmeros, ela é uma das disciplinas que navega em praticamente todas as esferas da vida humana, porque a dança é movimento, e o movimento está em tudo, logo, quando estamos estudando dança, estamos estudando o deitar, o levantar, o caminhar, o sentar e muitas outras coisas, e também a qualidade desses movimentos, a sua força, resistência, etc. Todos esses movimentos estão presentes em nossas vidas desde o ventre de nossa mãe, quando éramos informes e Deus nos formou e deu vida.

Os aspectos físicos, cognitivos, psicomotores e muitas outras áreas que a dança abrange, não apenas da saúde, mas outras áreas como a educação, são muito importantes, não podemos negá-los, mas a cultura da grande massa banalizou a dança de uma tal forma, desrespeitando a Deus, que hoje ela não tem um reconhecimento e um espaço de importância que deveria ter na sociedade. Cremos que tudo o que Deus fez é bom e Deus criou o corpo, a dança, o movimento, e assim sendo podemos dizer que todas essas coisas são boas, mas a Palavra de Deus nos ensina que o pecado estragou a perfeição de Deus, por isso nem todo corpo que dança e se movimenta é bom perante os padrões de Deus.

Ele ordenou que cuidássemos dele, deixou seus mandamentos e princípios contidos na Bíblia, mas o homem com sua natureza caída e pecaminosa, não satisfeito com o que Deus deu, e querendo ser Deus, tem profanado esse corpo que é o templo do Espírito Santo.

Isso nos dá um senso de responsabilidade maior, quando fazemos algo no caráter sagrado, tudo o que fazemos, devemos ter a consciência de que estamos fazendo diante de Deus.

A perversão da consciência leva à um problema ético: devemos sempre obedecer a nossa consciência, ou às vezes devemos desobedecer a ela? Podemos dizer que, se nossa consciência é fraca ou cauterizada, devemos as vezes desobedecê-la.” John Frame em a Doutrina da Vida Cristã (2008).

Se na dança está a sua vocação, se Deus te deu dons para comunicar na linguagem do corpo que dança, faça isso para a glória Dele. Não podemos inferiorizar a área que exercemos, lembrando que são áreas de atuação tão sagradas quanto qualquer outra. Foi Deus que nos deu, e nos chamou para essa vocação.

Todas as atividades, profissões e esferas sociais da esfera secular pertencem a Deus, tanto quanto aquelas do domínio sagrado, entretenimento, sexo, jornalismo, políticas, vida acadêmica e negócios são todos parte da criação muito boa” M .Goheen e C. Bartholomew em Introdução a Cosmovisão Cristã (2008).

A visão do reformador quanto ao trabalho como inerente honrado pelo nosso criador elevou todas as disciplinas e vocações legítimas a condição de chamado sagrado”. David W. Hall e Matthew D. Burton em O Calvino e o Comércio (2009).

Ao trabalhamos como artistas do movimento, o nosso instrumento é o corpo na dança, temos não só responsabilidades com o corpo como criação de Deus, que é Sua imagem e semelhança, mas também com toda a estrutura coreográfica artística que esse corpo vai representar. Tudo o que envolve a produção, os relacionamento que são construídos durante a criação, as pesquisas que são feitas pelo interprete criador e a verdadeira motivação do coração, quais foram seus desejos, necessidades e valores durante todo o processo, dance para a Glória de Deus.

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