O serviço através do design

Na minha caminhada como designer especialista em identidades visuais, me encontrei em situações que já me deixaram em dilemas existenciais, as vezes em dilemas éticos e muitas vezes em muitos dos projetos que já elaborei, um em especial me fez caminhar — ou desenvolvê-lo — pela vereda de não entregar apenas aquilo que foi acordado na proposta, mas também, em me dedicar a resolver — com prazer e generosidade — os problemas do cliente que estavam um pouco além do combinado.

A cliente atendida foi Raquel Romanãch, proprietária da Repartireis, a qual tem por objetivo não apenas compartilhar uma variedade saborosa de alimentos para quem tem algumas restrições alimentares, mas também, como a mesma diz, proporcionar encontros, para que o pão, o bolo, a torta e tudo mais que eu fizer, seja repartido, com todos, entre todos que estão na mesa, em comunhão.1

Quando iniciamos o processo criativo, percebi o quanto Raquel precisaria de uma dedicação de minha parte, em imersões que me fariam — e me fizeram — ultrapassar alguns limites do processo criativo, para que, posteriormente, pudéssemos retornar aos trilhos da metodologia aplicada. O nicho mercadológico no qual ela se encontra é repleto de histórias de pais que, ao descobrirem as restrições que seus filhos possuíam, precisaram repensar costumes e práticas, para viabilizarem uma qualidade de vida sem muitos transtornos. A história da própria Raquel é fascinante, a forma como ela foi conduzida — por Deus — até ter o insight da Repartireis.

No período que estávamos no processo, o tempo dela estava escasso para longos períodos de workshops ou entrevistas. Eu precisava ser rápido e preciso, mas sem deixar de lado a empatia, a humildade, o profissionalismo e a admiração por aquele projeto tão singular. Tivemos conversas interessantes sobre assuntos que não pareciam fazer muito sentido para o “negócio”, mas que destravaram percepções e definições que a ajudaram a definir o negócio, assim como a forma de apresentá-lo, desaguando na identidade visual e verbal da Repartireis. Apesar de não viver os desafios que Raquel vivia, assim como seus clientes, me vi imerso em traduzir, com dedicação, um ateliê honesto através de uma identidade visual humanizada. É como Seth Godin diz;

“Um profissional de marketing é curioso sobre outras pessoas. Ele se pergunta pelo que os outros sofrem, o que os faz vibrar. É fascinado pelos sonhos e pelas crenças das pessoas. E tem a humildade de aceitar que seu público enfrenta uma batalha diária contra a falta de tempo e de atenção.”

Foi um prazer servir — via design — para que um empreendimento, o qual tem uma pessoa por trás, com desejos legítimos, tenha suas necessidades satisfeitas.

A solução criada se manifestou em uma forma amigável e palatável, o qual o símbolo R consegue expressar o que eu, Raquel Romanãch, via Repartireis, faço de melhor: a atitude de repartir o que produzo com tanto amor, visando meu próximo, quer seja minha família, amigos, seguidores, conhecidos e todos aqueles que se achegarem à mesa. Eu descrevo assim: Olhe para o imagotipo e veja: A fatia que é retirada do símbolo, através do movimento orgânico do “braço” da letra R, vai de encontro a você. É a minha entrega, em sua forma natural, com o foco em sua saúde.

Nele está contido o que é próprio da Repartireis; ser acolhedora, criativa, delicada, compartilhadora, natural, e alguns outros atributos. E a cor remete ao que é orgânico, amigável, saboroso, o que vem das frutas, ao vigor, ao calor (do forno), enfim, o laranja aponta para uma vida saudável. E na letra customizada, na qual lemos Repartireis, vemos a doce e agradável atitude em servir com empatia, através das formas arredondadas das letras. Sua cor verde aponta para o que é saudável, não industrializado. Repartir é ser natural, muito mais que o universo vegano ou restritivo, é uma atitude que revigora as relações e a saúde. Eu repartirei, vós Repartireis, nós repartiremos com todos tudo aquilo que é feito com amor.

Link acessado em 26.7.2021 https://www.instagram.com/repartireis_/