Halane Ferreira
ProjetoCTA
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6 min readJul 26, 2021

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O presente ensaio irá expor, de maneira resumida, conhecimentos adquiridos ao longo do Curso Call To Action e tem como objetivos (i) revisar e discutir alguns conteúdos do curso que são relevantes para minha área de atuação (ii) tendo em vista uma cosmovisão cristã e, como consequência, (iii) servir a outras pessoas por meio deste relato de aprendizagem.

Portanto, tendo a perspectiva de como o evangelho muda todas as áreas da nossa vida, ainda que com uma ênfase maior na área profissional, a discussão pretende ser relevante ao leitor ao trazer-lhe clareza e esperança para além do aspecto profissional.

“Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens e ensinando-os para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos neste mundo de maneira sóbria, justa e piedosa, aguardando a bendita esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus, que se entrega a si mesmo por nós para nos remir de toda a maldade e purificar para si um povo todo seu, consagrado às boas obras.” Tito 2.11–14

O primeiro ponto é compreender quem nós somos diante de Deus e quais foram as ordenanças que ele nos deu, somente assim teremos clareza de como devemos viver aqui nessa terra e servi-lo em todas as coisas.

Em Gênesis 1.27–28 notamos que as ordenanças de Deus são muito claras ao homem e à mulher: procriar, encher a terra, subjugar a terra, dominar as criaturas, trabalhar, descansar e casar. Essas são leis que nos habilitam a dominar, cultivar e preservar a criação de Deus, pois é parte da nossa responsabilidade fazer bom uso dos recursos que ele nos deu, nossa missão é clara e objetiva, sabendo que somos criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus, criados para sua Glória.

A partir disso, temos a consciência de que somos uma extensão do trabalho de Deus na terra, enquanto seres criados para prosseguir no desenvolvimento da criação, conforme Albert Wolters (2019)[1]. Porém, ainda que a Bíblia seja nosso guia de fé e prática, ela não é um tratado no qual encontraremos respostas rápidas, claras e objetivas para nossos questionamentos sobre como proceder em variados momentos e em assuntos específicos.

A solução, então, reside em compreender a vontade de Deus, como vemos a partir da citação M Goheen e C. Bartholonew, em Introdução à Cosmovisão Cristã (2018), ter o discernimento sobre à vontade de Deus sempre será difícil, mas podemos encontrar diretrizes para isso. O primeiro passo é entender que esse discernimento é parte da obra do Espírito Santo, sendo assim, a verdadeira sabedoria humana está em reconhecer que é somente por obra do Espírito Santo que teremos esse discernimento e, por outro lado, precisamos também ser responsáveis em desenvolver as disciplinas espirituais, por meio da Graça de Cristo.

Por isso, temos a responsabilidade de fazer escolhas cautelosas (à luz da palavra de Deus), pois elas contribuirão para formação ou deformação cultural, respondendo em obediência ou em rebelião à Deus, não existe neutralidade em nossas ações, pelo contrário: elas são reflexos dos nossos valores e crenças. Dessa forma, exercemos o nosso chamado ao redimir e transformar a criação, visto que somos administradores de Deus sobre a terra.

Em minha área de atuação, a estética, me deparo com a busca pela valorização profissional como forma de autorreconhecimento e de valor pessoal. Nesse ponto especificamente, encontramos pelo menos dois tipos de profissionais que caminham para extremos, aparentemente, diferentes. Enquanto uma classe visa a quantidade sem oferecer qualidade nos procedimentos, por outro lado, temos profissionais que buscam uma supervalorização dos seus serviços, tendo como principal foco o dinheiro, sem que haja necessariamente um número alto de clientes.

Ou seja, enquanto algumas profissionais focam em atender muitas clientes, sem buscar qualificação e, devido a isso, paralisam no conhecimento primário. Elas acabam por não gerar uma necessidade de melhores serviços em suas clientes, gera apenas uma busca por menor preço, podendo colocar em risco mulheres que procuram seus serviços. Para essas profissionais o valor do seu negócio está em ter muitas clientes, quanto mais pessoas em seus estúdios mais se tem a sensação de valorização, mesmo que em detrimento da qualidade do serviço que presta.

Em outro extremo, vemos profissionais focando muito em autovalorização a todo custo, abusando das estratégias de venda de serviços, visando apenas o enriquecimento próprio e a satisfação profissional atingindo um público que pague mais caro. Muitas dessas profissionais são incentivadas por gurus de marketing que laçam estratégias de crescimento e valorização instantânea, mesmo que para isso precise enganar suas clientes abusando de gatilhos mentais, por exemplo. Nesse extremo, o valor está no sucesso.

Como já abordamos anteriormente, apesar de ser nossa regra de fé e prática, não encontraremos facilmente na bíblia resposta para questões como “qual o preço devo cobrar?”, “quantas clientes devo atender?”, “quais estratégias de crescimento devo ou não usar?” etc. No entanto, como Wolters afirma

Há a necessidade de um discernimento espiritual se queremos conhecer a vontade de Deus. Há muitas coisas sobre as quais as Escrituras não falam; no entanto, devemos buscar a vontade de Deus sobre elas. (Wolters, 2018)

Assim, podemos compreender que através da obra do Espírito Santo e desenvolvendo o discernimento espiritual encontramos que o nosso valor não está em coisas desse mundo, mas em Cristo Jesus que nos torna filhas de Deus. Essa é uma verdade que nos traz esperança (Lm 3.21). Além disso, através do Cristianismo, somos capacitados a mudar para melhor tudo aquilo que nos rodeia, assim, as estratégias de marketing deixa de ser usada como pressão ou coerção, para uma oportunidade de servir as pessoas e conduzi-las a uma tomada de decisão clara e consciente. Por isso, ao encontrarmos o nosso valor em Cristo, temos um olhar diferente para o próximo, amando-o com o amor que é, como diz N.T Wright[2], “a música tocada no palácio de Deus e nós somos convidados a aprender e ensaiar antes de chegarmos lá”. (WRIGHT, 2012)

Pensar sobre essas questões nos faz também reconhecer o valor que o nosso trabalho tem em Cristo e a responsabilidade que tenho em executá-lo para além do retorno financeiro, entendo também que sou participante com Cristo na obra de restaurar a criação caída. Com isso em mente e enxergando o meu valor em Cristo, sei que minha labuta é algo para além das coisas deste mundo, é transformar vidas de dentro para fora, conduzir pessoas ao seu valor real, do mesmo modo que eu, enquanto profissional, reconheço que o valor do meu serviço não está no engrandecimento e em minha autovalorização, mas em saber a dimensão da minha atuação Nele, diante do trabalho que Cristo opera através de mim e apesar de mim.

Dito isto, “(…) minha responsabilidade individual não é subjugar a terra ou discipular todas as nações. Antes, é encontrar um papel específico, para o qual Deus me deu dons, que contribuirá de algum modo para esses resultados (…) Desde o princípio Deus deseja que tomemos nossas decisões individuais considerando as demais pessoas e, especialmente, buscando como melhor ajudar nosso semelhante a cumprir suas tarefas ordenadas por Deus.” (Frame, 2013).

Portanto, ter clareza do nosso mandato cultural nos auxilia na compreensão de que temos a responsabilidade de exercer nosso trabalho para glória de Deus, cumprindo a nossa vocação como para o Senhor, entendendo que nosso trabalho, seja qual for a área de atuação, é relevante. Não devemos, portanto, fazer distinção entre ‘atividade sagrada’ e ‘atividade secular’, isso não deve existir se nos voltarmos para a compreensão de que tudo é feito para Deus, criado por Deus, sobre uma ordenança divina.

É simplesmente magnífico ver como o evangelho muda totalmente a nossa perspectiva de vida, entender quem nós somos, reconhecer as ordenanças bíblicas para o nosso contexto, desenvolver as disciplinas espirituais. Poder reconhecer a soberania de Deus em nos presentear com dons a serem desenvolvidos para sua Glória, nos curvar diante do senhorio dEle, é maravilhoso!

“Porque dele, por ele, para ele são todas as coisas; glória, pois a ele eternamente. Amém”. (Rm 11.36)

Referências bibliográficas:

FRAME, John. A Doutrina da Vida Cristã. São Paulo: Cultura Cristã. 2013

GOHEEN, Michael W.; BARTHOLOMEW, Caty G. Introdução à cosmovisão cristã: vivendo na intersecção entre a vida bíblica e a contemporânea. São Paulo: Vida nova. 2018

WRIGHT, N. T. Eu creio. E agora? Por que o caráter cristão é importante? Viçosa: Editora Ultimato. 2012

WOLTERS, Albert M. A Criação Restaurada. 2ed. São Paulo: Cultura Cristã. 2019

[1] “As pessoas devem agora prosseguir na obra do desenvolvimento: sendo frutíferas, devem enchê-la ainda mais; subjugando-a, devem formá-la ainda mais (…) De agora em diante, o desenvolvimento da terra criada será social e cultural em natureza. Numa única palavra, a tarefa à frente é a civilização.”

[2] O amor não é um dever, nem o mais elevado deles. É o nosso destino. É a música tocada no palácio de Deus, e somos convidados a aprender e ensaiar antes de chegar lá. (p. 188)

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